Um inseto chamado Ciso
Era uma vez, numa floresta muito distante, tão antiga como a origem da Terra, onde vivia uma tribo de insetos muito diferente das que conhecemos hoje em dia.
Por exemplo, possuíam características curiosas, mediam 19 cm de altura e 10 de largura. Grandes, não? Tinham asas, mas não podiam voar; essas diminutas asas somente colaboravam para que dessem saltos de curta distância. A natureza lhes havia creditado oito olhos, mas não podiam ver com todos de uma só vez; para enxergar, era necessário fechar 7 olhos e ver apenas com um, e claro, isso ia se alternando – um olho de cada vez. Jamais poderiam estar com os 8 olhos abertos de uma só vez, isso era uma regra restrita para a saúde deles.
Continuando...
Em sua constituição, existiam seis patinhas, mas caminhavam apenas com duas, as outras eram suporte para coletar coisas e comer; essas patinhas também podiam se dedicar a outras artes: desenvolver suas habitações, tecer com as telas das aranhas abrigos para o inverno, construir depósitos de alimentos, apanhar folhas macias para produzir suas caminhas.... Possuíam nas costas um casco duro, entretanto extremamente e curiosamente vulnerável à chuva, às águas. Uma gota de água era fatal, porque poderiam perder sua carapaça – num processo de lenta e dolorosa deterioração - e além disso sua imunidade era anulada e seriam expostos às terríveis enfermidades que os levariam a morte. Sua coloração era cambiante, porque dependia muito da cor da comidinha que ingeriam. Se comiam o néctar dos girassóis, se tornavam amarelos; se o alimento era folha das árvores, sua coloração caminhava indiscutivelmente para o verde, se as uvas estavam em sua estação, se tornavam roxos. Divertido isso!
Um deles era muito engenhoso, astuto e lampeiro, porém solitário. Sim, muito e muito solitário. Não suportava a companhia de ninguém. Não tolerava ruídos e o balbuciar dos falatórios. Pouquíssimas vezes conversou com seus semelhantes. Esse inseto especial atendia pelo nome de Ciso. Nunca sequer conversou com o ancião da tribo. Para ele não interessava o que aquele velho patético falava. Entretanto, o ancião respeitava sua posição.
- Está bem – dizia o sábio. - Ele não quer conversar e nem compartilhar, é seu direito. Uma pena, porque a sabedoria ancestral tem muito a nos ensinar...
A ocupação maior do inseto era sempre criar e criar e criar... Criar coisas para que ele pudesse viver melhor e com mais conforto. Raramente repartia o que seus inventos poderiam proporcionar em benefício à sociedade.
- Vejam como Ciso é tão inteligente! Como é esperto! Criou o que ele chama de "porta" e isso impede que os predadores nos assaltem durante a noite! Que maravilha! Pena que é tão egoísta e não nos ensina como fazer. Bem, pelo menos ele deixa seu invento à mostra e com isso nos ajuda a observar e tentarmos fazer o mesmo! – diziam seus vizinhos, que logo avisavam as outras pequenas comunidades dentro da própria tribo.
- Que me importa que os outros digam que eu sou egoísta? – dizia Ciso para si mesmo. – Afinal, este conceito de egoísta precisa ser muito bem repensado. O que é de verdade um ser egoísta? Há um pensamento que devemos considerar. O egoísmo é sustentado naquilo que o outro quer que eu faça e eu não quero ou me recuso a fazer? Sim este é o pensamento comum. Há que ter muito cuidado com esse conceito deste tal egoísmo, pode ser uma maneira disfarçada de autoritarismo. Afinal de contas, eu tenho o direito às minhas escolhas! Bah! Vou deixar essas filosofias de lado e vou me ocupar de outras coisas mais interessantes.
Um dia, em suas andanças....
Descobriu que podia ver-se no reflexo das águas do rio que existia um pouco longe de onde vivia. Bem, ele estava ali porque além do mais era explorador. Sim, tinha espírito aventureiro. Ao ver-se espelhado, sentiu-se orgulhoso de si mesmo. Muito orgulhoso.
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Um inseto chamado Ciso
FantasyUma pequena fábula para refletirmos sobre egoísmo, solidão e a proclamação exagerada do ego.