A criança e a consciência

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Dizem que crianças não tem consciência do certo e do errado, que não sabem nada sobre o mundo. Mas que mundo é esse a que sempre se referem? Já que elas não estiveram aqui sempre, elas não surgem num útero, o início da vida é algo tão mais complexo do que se existir, envolve ser e saber que se é, mesmo não sabendo responder o que somos.

     Jaz aqui, um mundo desconhecido a olho nú, ou melhor, ao olho vestido de tantas fantasias que julgam como realidade. Esse é o olho daqueles que crescem, eles se perdem do mais próximo que se há da verdade quando sonham já ter a encontrado, eles fingem a ter.

     Inventam nomes a si, a tudo, inventam lógicas e sonhos. Mas não se pode sonhar, eles não se permitem acreditar no que é impossível. Mesmo sendo eles quem criam o impossível, os limites, eles ainda os seguem, esquecem que na verdade nada daquilo existe. Foram por tanto tempo sendo ensinados a pensarem assim, que não se pensa outra coisa.

     E como tudo, esse comportamento tem um início, quando o homem recebe aquilo que mais o valoriza, que o faz sentir seu próprio valor, se tornar seu próprio dono. Sim, já fomos posse, mas é esse presente que ninguém sabe donde surgir que nos torna vivos.

     Existe um homem, que hoje irá se tornar homem, um garoto que receberá seu presente, entre milhares de crianças que ganham sua própria vida hoje, a dele é a que vai ser narrada, pois, ele merece se tornar lenda. Todos merecem.

Ele se escondia nas coberta, tentava fugir do frio que não se igualava ao que estava por vir. Ele ia conseguir se tornar mais frio que o ar que o rondava, mais duro que os pesadelos que ele nunca queria sonhar. E naquela noite não era diferente, ele tinha medo de pesadelos, do frio, mas agora teria medo de si mesmo. Esse seria o pior sentimento que ele teria na sua vida, o de escolher o que iria ser, pois sempre se escolhe estagnar.

    Mas ele ainda não foi capaz de o sentir. Seria essa noite, o seu grande dia de descobertas. Por enquanto, ele não poderia ter nada, pois ainda não era gente. Ele fechou os olhos, espremeu-os com força, não queria ver luz nenhuma. Já estava tarde, ele queria dormir. Não se importava mais em ter pesadelos, mas esse pensamento ainda tinha uma ponta afiada que o incomodava e cutucava.

     Ele sonhou. Via golfinhos, rios e mares, marés que subiam e desciam, gostava da água apesar dela sempre preceder um acidente noturno, ele nunca teve a astúcia de ligar esses dois eventos.

     E de repente enquanto ele sonhava, algo começou a acender fora dele. Era uma luz forte e seu sonoro ruidoso, não havia cor, ela era a cor, não previsava de adornos. Era luz e apenas luz se era, e aquilo que estava vivo respirava em cima dele, ela respirava, aspirava, suspirava, ele. Como se pudesse capturar a essência dele e a modificar, a fazer se parecer mais com ela. Talvez fosse ela própria a essência daquela criança que precisava de um novo ar para poder evoluir. E agora fazia o garoto evoluir junto, para entrar num mundo compatível com ela, não haveria pra onde voltar, ela precisava criar esse lugar.


    Ele acordou. Acho que todos acordam quando isso acontece, ela precisava deixar ele acordado. Uma consciência não invade o corpo, é o contrário. Ela precisava ser violada para aquilo tudo prosseguir. Ela amadureceu, e ele a viu. Uma luz que carregava sua própria definição de ser, sua própria definição de mundo, uma luz disposta a aprender.

     Primeiramente ele a encarou, tentou falar, mas havia esquecido todas as palavras, apenas suspirou. E ao captar o ar que ele exalou, ela zumbiu de forma a permanecer no mesmo timbre suave, por algum motivo, ele achou aquilo lindo. Levantou as mãos com esforço, precisava dormir mais, só que aquilo era mais importante pra ele.

     Ela tinha pego sua atenção, ele esticou o braço. A tocou, acariciou, e ela entrou nele. Se desfazia no corpo dele, entrava pelas pontas dos dedos fazendo cócegas e o irradiava por dentro. Ele brilhava como ela, e o zumbido acabou. A mão dele continuou estendida, e ele deu um último toque no vento, para ter certeza que aquilo se foi. Ele apagou, e ficou com mais sono que nunca.

     Adormeceu. Mais uma vez sonhou: Ela uma voz o falando, "Hoje você sou eu, hoje nós somos nossos. Ganhamos um a si, e então assim será. Crescemos." e ele de manhã, já havia esquecido de tudo que foi, agora ele seria.

ASS: Kaduni.

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⏰ Última atualização: Dec 21, 2017 ⏰

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