Asas Cinzas

Capítulo 1 - Melanie

  Eu morava sozinha em uma casa de tamanho médio: dois quartos pequenos; uma sala; uma cozinha americana e um banheiro.

  Eu não saio muito. Geralmente, quando eu saio de casa, as pessoas ainda estão dormindo e o sol ainda não dava sinal de sua chegada. Comprar comida era o único motivo de me fazer sair. E eu estava fazendo isso agora.

  Coloquei uma calça preta, um casaco Preto com um capuz e minha bota cinza de cano curto. Subo o capuz escondendo o meu rosto atrás do tecido e saio pela porta da frente, trancando a mesma logo em seguida.

  As ruas estavam vazias como sempre. Fui andado de cabeça baixa indo em direção ao único comércio aberto a essa hora da madrugada. A loja do Sr. Watari ficava aberta durante a noite e fechava durante o dia.

Kim Watari era um senhor coreano, com seus 80 e poucos anos de idade, mas tinha uma energia de criança. Ele e sua família se mudaram para o Brasil a quase 30 anos. Ele, sua esposa, e seus dois filhos, que na época tinha entre 8 e 10 anos de idade, se mudaram para o Brasil em busca de uma vida melhor, mas seus filhos voltaram pra Coreia para cursar a faculdade. A Sra. Kim teve outro filho. Ele agora tem 8 anos e é uma criança muito fofa.

  Enquanto vou andando de cabeça baixa, persebi que duas pessoas, que pareciam esta fazendo uma caminhada, olhavam para mim e sussurrando entre si. Droga...

  O mundo ja avia me esquecido, mas, mesmo com meus esforços, as vezes eu era reconhecida. Também, uma garota branquinha, de cabelos cinzas meio escuro e olhos cinza claro; não tem muitas pessoas parecidas comigo.(foto base na mídia)

  Nunca vou me esquecer daquele ano. O caso do anjo machucado, como a mídia chamou, foi capa de jornais locais e internacionais, matéria principal em programas de TV e sites policiais.

  Apreço os passos e entro na loja.

- Melanie! - o Sr. Watari exclamou assim que ouviu o sino da porta tocar.

- Annyeonghaseyo Watare-ssi. - falei lhe fazendo uma breve reverência.

- MELANIIIIE!! - escuto aquela voizinha doce e fragio vim dos corredores da loja.

- Joon! - senti o impaquito do seu corpinho pequeno contra as minhas pernas. O coloquei no braço e ele entrelaçou as pernas na minha cintura.

  Joon era uma criança muito especial não só porque era muito doce e fofo. Joon era surdo. Eu sabia linguagem de sinais então o Watari-ssi me pediu para ensinar ao Joon e ao resto da família e em troca ele me ensinou coreano. Também lhe ensinei o meu nome e dos seus pais e irmãos.

  O Joon tinha aprendido rápido, então eu comecei a lhe encinar leitura labial ja que ele ganhou um aparelho auditivo do irmão, mas como ele não tinha muita pratica, resolvi usar sinais.

"Como você está?"

"Estou bem. Quero te mostrar uma coisa"

"Claro, antes de ir embora você me mostra." fiz um sinal de Okay e o coloquei no chão, ele assentiu e saiu correndo em direção aos fundos da loja.

- Melanie! Como estão as coisas? - A Sr. Kim apareceu no balcão da loja que ficava no lado direito da porta.

- Estão normais Sra. Kim.

- E o piano, está dando certo?

- Sim! Eu sempre amei piano, e agora estou muito empolgada por aprender. Na verdade, tocar piano está me ajudando a passar o tempo. - falo com um leve sorriso.

- Que bom. - ela me ofereceu um sorriso doce. - fique a vontade minha filha, qualquer problema, pode me chamar. - assenti e foi as compras.

  Comprei apenas o necessário para uma pessoa que mora sozinha sobreviver. Depois que terminei as compras, fui atrás do Joon para me despedir e descobrir o que ele queria me mostrar.

  Fui em direção aos fundos da loja onde ficava a "casa" dos Kim e lá encontrei Joon. Ele estava animado e me entregou uma caixinha do tamanho de minha mão. Ela era preta e a fita que a envolvia era cinza claro. Era linda.

"Eu que comprei" - ele fez uma cara de orgulhoso. - "Certo, foi com o dinheiro do papai... mas foi eu quem escolheu então foi eu que comprei". - ri com seu raciocínio bobo.

"Posso abrir? "

"Não, não. Abra quando estiver em casa e for tocar piano." - falou com um sorriso.

- Okay! - respondi sem consegui segurar a pequena risada. Lhe dei um abraço e sai. Passei pelos Kim os cumprimentando e pegando minhas compras logo em seguida.

  Andei em passos rápidos, o sol ja havia começado a nascer. Quando cheguei em casa, deixei as compras no chão da cozinha e fui em direção ao meu quarto. Lá me joguei na cama e logo adormeci, estava cansada.

Boa noite pai...