Diário de Um Acompanhante de Luxo

Capítulo um

   Estava sentado a beira da sacada. Observava o tempo, as crianças correndo na frente do prostíbulo. Lembrava da infância em meio aos castigos e cuidados que recebia da Tia Zefa. Era com se o cheiro de perfume, mel e dendê invadissem a casa e de repente voltasse a ser criança. Sentia as mãos dela no meu cabelo, ouvia sua voz me ninando, em seguida meu pai abrindo a porta. Arrastava-me pelo cabelo. Levava-me até um quarto escuro, tirava minha roupa e me batia até sangrar. Me trancava.

   De repente sinto algo me puxar. O jovem Jornalista Theodor de Assis- que já fora meu cliente mas queria algo mais agora- me agarrou na cintura e beijou meu pescoço.

   -Bom dia, hermoso!

   - Bom dia, Teo! Se veste aí que mandei vir um café da manhã para nós.

   - Tá certo. –Ele aperta minha bunda e vai nú para o banheiro.

   Sentia algo diferente. Me apaixonei pelo Teo, mas temia. Temia pelo fato de ter dezessete anos. Temia pelo fato dele sofrer preconceito. Na verdade temia que acontecesse tudo de novo. Estava acostumado, como garoto de programa, a viver sozinho. Temia que de repente tudo mudasse.

   Após o café da manhã, saí em direção ao alfaiate. Um dos poucos que não discriminava minha condição sexual e profissão, o senhor Edward sabia diferenciar sexualidade de doença, era um homem a frente do seu tempo. Bati na porta e então ouvi uma voz doce de dentro dizendo:

  - Já vai! – O silêncio reina até um homem alto, loiro, forte, gostoso, com um terno extremamente alinhado em seu corpo, um chapéu cinza na cabeça, cumprimentou-me com um sorriso.

  - Bom dia, mi hermoso!

  - Josh? O que faz aqui?

  - Vim ver se meu bruxo favorito está bem.. Aproveitei para fazer um lanchinho.. – Ele dá um espaço para que eu veja o Sr. Edward morto.

  - O QUÊ? O que faz aqui ? Diga logo ou eu.. –Sou interrompido por ele-
  - Ou o quê? Vai me secar?
  - Vou fazer pior! –Serro os olhos- Diz logo o que você quer!
  -Quero que seduza o governador, o mate, e tire a maldição do Túnel.
  - Aquela maldição tem mais de um século!

  -Se vire, ou seu coleguinha Teo vai pagar.

  - Ah, mas não vai mesmo. –Ergui as mãos em sua direção. A casa estava cheia de amuletos voodoo, então só precisava falar. –Ocorus mecante aleora subtus, Ocorus mecante aleora subtus, Elo satrie Diz't t et brav! Ocorus mecante aleora subtus, Ocorus mecante! – O coração de Josh explodiu dentro dele. Arranquei sua cabeça e enviei ao seu superior, voltei para casa naquele dia esperando uma reação.

  Ao que me parece a reação chegou. Desço para o prostibulo para trabalhar como normalmente fazia e encontro uma situação deplorável. Vi sangue nas paredes, vi, logo na escada, uma cabeça.- O desembargador Cristóvão Pimentel – reconheci pelos lábios que tanto odiava. – Certa noite, estava como sempre gerindo o Mc'Dell Hey, quando aquele homem me beijara a força. Ameaçou-me com uma faca. Os meus seguranças o tiraram daqui. Tratei de cala-lo com um feitiço depois disso- Desci a escada e vi, na parede do lado da porta, escrito com o sangue dele "Recebemos seu recado. Mas de nada adiantou. Encontre-me no Marco Zero e vá sozinho saberás quem sou quando chegar a hora. P.s. Estou com seu jornalista."

  Vou ao encontro do misterioso assassino. Sabia que se tratava de um vampiro sádico. Fico observando o Capibaribe quando ele chega. Sinto seu bafo horrendo de sanguessuga na minha nuca, e logo em seguida ele puxa meu cabelo.
-Me solte seu verme! – Murmuro um feitiço que o faz sangrar pelo nariz enquanto livro-me dele.- O que foi aquilo no meu local de trabalho?

  -Pare esse feitiço sua puta! Se não quiser receber a cabeça do seu amante em uma bandeja. – Paro o feitiço. Temia pela vida de Theodor, vampiros podem não ser lordes, mas a verdade, sempre falam.

  -O que você quer de mim?

  - Meu chefe quer seus serviços para matar o Governador.

  -Costumo conhecer as pessoas para quem trabalho.

  - Não precisa saber o nome do meu chefe. –Ele some diante dos meus olhos.

  Fui para casa naquele dia sem saber direito o que fazer. Deito-me e começo a sonhar com a noite quente de prazer que tive com Theodor antes de tudo isso acontecer.