Reflexo

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*FILHO DA LUA*

não sou humana, não sou mortal, não sou mulher. Mas posso ser o que eu quiser, e quis ser mãe... A muitos milênios queria ter um filho. E consegui. Queria, mas não deveria. Vou te contar por que.

Eu sou a Lua, e essa é a historia do meu pior erro, e meu melhor presente.

Desde o começo dos tempos, escuto os Astros dizendo que não devemos nos envolver com os mortais, que eles são perigosos, maus, que chegam a ser cruéis.

Mas desde essa época, observo uma alma imortal, uma alma que por alguma obra do destino. Também vivia a me observar. Naquela ocasião, havia nascido como o que os humanos chamam de homem, um macho, que assim como eu, estava solitário, pensativo, perdido entre tantos outros.

Tinha os olhos tao negros quanto a noite que eu ilumino, a pele tão escura quanto a terra molhada. A fala tão mansa quanto o vento que bagunça os cabelos dos humanos. E o coração tão confuso quanto eu.

Percebi que se eu quisesse realizar meu sonho de ser mãe, ele poderia me ajudar.

Não contei meu plano para nenhum dos Astros. Sei que o Sol poderia me ajudar com isso. Mas ele era egoista de mais, nunca o faria. E eu admirava o modo como as fêmeas cuidavam de suas crianças, era assim que queria criar a minha também. E não apenas como um "brilho", queria poder abraçar meu bebê, poder contar histórias para ele, cantar para faze-lo dormir.

Numa noite em que a sombra da terra não permitiria que eu fosse descoberta, olhei fixamente para o oceano. E me vi refletida ali por inteira, e pensando no meu objetivo, mandei meu brilho para a água, e finalmente, depois de uma eternidade de espera, me fiz de luz e carne, e não apenas luz.

Tinha a pele clara, olhos cinzas brilhantes, cabelos longos e extremamente brancos. Descendo as mãos pelo meu novo corpo nu, senti o rosto suave, os seios fartos e macios, cintura delgada, os quadris leves, coxas firmes. Adorei sentir aquela textura tão diferente, sorri ouvindo um som baixo que me fez arrepiar, era minha voz. Tão linda,  olhei para cima e vi o meu brilho Original, por sorte continuava lá, estaria em problemas se partisse totalmente.
Movi as pernas, percebendo que não havia nada sólido sob meus pés, olhei em volta, e só via água. Mas isso não seria um problema, afinal, sou eu quem controlo as marés, me lembrei disso e fechei os olhos, sentindo com prazer a água se mover e me levar para a praia.

Finalmente pisei na areia, estrando aquela gravidade e a porosidade daqueles grãos minúsculos sob mim. Comecei a abrir e fechar os dedos sorrindo ao sentir aquela sensação deliciosamente proibida aos Astros.

Me equilibrei ali abrindo os braços e dei um pequeno passo, era uma experiência nova, precisar controlar apenas uma parte do meu corpo para me mover, mas não era de todo mal, era engraçado até.

Sai da água e caminhei pela areia vendo as sombras que minha outra versão lançava no planeta, e percebi com um leve susto que eu não mais conseguia controla-la. Não fiquei pensando muito nisso e continuei me movendo, notei que mesmo de leve, tinha uma coisa que os humanos não tinham, um brilho cobria minha nova pele, isso talvez não fosse bem visto pelos homens e mulheres mortais.

Aquilo me fez temer a reação do humano que buscava, sera que ele me rejeitaria por esse brilho? Fechei os olhos torcendo para faze-lo sumir, mas nada aconteceu. Suspirei levemente e continuei andando pela areia. Ouvi um leve som a minha direita e me virei assustada, havia algo se movendo ali, algo pequeno que parecia assustado. A curiosidade foi maior que meu medo, e me fez chegar mais perto. Notei um pequeno animal marinho ali, um que os humanos chamariam de lagosta. Ela parecia com medo, se debatia violentamente na areia úmida. Me abaixei ali ficando apoiada nos joelhos e estendi as mãos em sua direção. O animal deve ter percebido que nao iria machuca-lo e se acalmou, me deixando toca-lo. Acariciei sua casca e sussurrei no idioma dos Astros que tudo ficaria bem. O crustáceo entendeu, afinal, nós, os Astros, sempre gostamos de nos comunicarmos com os animais, ele me deixou acaricia-lo e me confidenciou o motivo de seu medo. Um humano havia tentado mata-lo a alguns minutos, ele conseguiu escapar, mas não conseguiu voltar para o mar. Meus olhos se encheram de lagrimas ao ouvir tamanha crueldade, quem mataria um pequeno e indefeso animal?





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Espero que goste, continue acompanhando, comente o que achou.

^-^ obrigadinha

Filho da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora