"A gente morava em Oswaldo Cruz..."
"Nada disso, é Madureira e eu ainda moro. Já começou errado", Rodrigo interrompe.
***Sempre implicando com isso. "Oswaldo Cruz", era o que a plaquinha na nossa rua dizia. Passei a infância toda lá... que saudade da minha casa. Tinha um andar só, muro baixo, com um quintal na frente, uma casa bem suburbana mesmo! Com direito a azulejo de São Jorge na entrada, aquela varandinha antes da porta... Nossa, e o meu quarto? Era tão pequeno! A minha cama bem na parede com a colcha da Sandy e Junior, uma estante, enfim...
Voltando ao foco, a casa bem na frente tinha acabado de passar por uma reforma muito grande... que ano foi? 2000, né? Acho que bem na virada, depois daquela maluquice toda de que o mundo ia acabar. O terreno era muito maior que o meu, um quintal gigantesco e uma piscina atrás, o que eu só descobri depois, obviamente, além dos dois andares. Mas me lembro de estar muito curiosa pra saber quem se mudaria para lá.
Enchi o saco dos meus pais perguntando quem era, já fantasiando mil coisas, mas queria mesmo que fosse uma amiga, já que não conhecia o Rafael ainda. Só tinha as meninas do colégio e as outras da rua, todas mais velhas e sempre me colocavam como "café com leite" nas brincadeiras, um tédio.
Acho que você chegou lá pela metade do ano, em junho ou julho, eu estava bem na janela quando sua família desceu do carro. Saíram você, seus pais e a Camila. Fiquei tão chateada, a garota era ainda mais nova. Parecia ter uns quatros anos e você tinha a maior cara de chato, lembro que estava de boné com um videogamezinho na mão. A sua avó só se mudou para lá depois, né? Não me recordo dela nos primeiros anos, quando a gente era mais criança.
"Ela só foi para lá quando minha mãe começou a trabalhar fora, bem depois da mudança", Rodrigo completa a informação.
"Isso mesmo! Mas ainda sobre o dia da mudança..."
Desci correndo para avisar à minha mãe que finalmente tínhamos vizinhos novos. Ela, vendo minha ansiedade, perguntou se eu queria ir lá dar boas-vindas. Dei de ombros, disse que a menina era mais nova e o outro era um garoto.
"Por que você não vira amiga dele, então?", ela rebateu.
Ri e disse que não queria ter amizade com meninos, porque eles eram muito bobos.
Nos encontramos na escola dias depois, tínhamos ficado na mesma turma. Eu estava sozinha no recreio quando você veio até mim e perguntou:
"Seu nome é Juliana né?", confirmei e perguntei o seu, mas o retardado não respondeu, só virou e disse uma das frases mais emblemáticas da história:
"Por que você não quer sambar?"
Devo ter feito a maior cara de interrogação da vida. Que raio de pergunta era aquela?
"Não sei sambar", respondi.
"Como assim não sabe?", você disse como se eu tivesse cometido um crime hediondo.
"Eu não gosto de sambar."
"Mas você se chama Juliana, tem que saber!"
"Tá maluco, garoto? Quem disse isso?"
"É a música, ué, você é Juliana! Você tem que saber sambar. Samba pra mim, acho que nunca vi ninguém sambando."
"Não sei sambar, garoto. Não tenho que saber!"
"Claro que tem! Se seu nome é Juliana, tem que saber sambar. Como você é burra, hein!"
"Mas eu não sou a Juliana da música, tem um 'zilhão' de Julianas no mundo."

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A gente dá certo
RomanceLeia completo na Amazon: https://www.amazon.com.br/dp/B01MY9XH6L Um casal completamente diferente entre si. Um caso do passado mal resolvido. E apenas uma noite. O que é preciso para contar uma história de amor? Juliana e Rodrigo já foram amigos...