Sobre coisas que não são ditas

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A Lua dança sobre seu lado bom

Era tudo o que costumávamos precisar

Calados como se não nos conhecêssemos

Contando aquelas histórias que já contamos

Porque não dizemos o que realmente queremos dizer

Two Ghosts, Harry Styles

A casa está em aparente silêncio, luzes apagadas, apenas um ou outro abajur os impede de caminhar em completa escuridão. Ainda é bem cedo, mas normalmente a essa hora da manhã já teria alguém de pé, Molly, muito provavelmente; estaria perambulando pela cozinha, fazendo o café.

No entanto, nesses dias, os primeiros a acordarem sempre se mantém mais tempo na cama para dar um pouco de privacidade a eles.

Os ruídos bem baixos de conversa que os ouvidos afiados de Remus escuta confirmam isso.

Ele prende a respiração e engole um gemido doloroso, tenta não se encolher quando o passo dado lança um raio de dor por sua perna. Seu corpo inteiro dói, ainda assim não faz som algum enquanto Sirius o arrasta escadaria acima, até o quarto que ocupa em Grimmauld Place. Não há porque demonstrar sua dor quando quem está realmente ferido não é ele.

Desliza a camisa velha e puida pelos braços assim que a porta se fecha, Sirius se aproxima cambaleando para ajudá-lo e Remus, instintivamente balança a cabeça e se afasta, negando.

A mágoa e a culpa por trás daqueles olhos diante da sua recusa é evidente. Sem perceber, Remus o rejeitou novamente, talvez porque o lobo ainda está próximo... Ele tenta convencer-se. Dói pensar que é por sua culpa que os mesmos olhos cinzas que antes flagrava lhe observando com amor e devoção, agora lhe olham daquela forma, feridos. Queria ele que fosse apenas dessa vez que Sirius o olhou diferente, Remus pensa, de alguma forma aqueles olhos mudaram, a cor era a mesma, mas...

Sirius o olha mais uma vez, entre abrindo os lábios como se fosse dizer algo, então os repuxa em um sorriso amargo e sai do quarto, deixando-o sozinho.

Remus suspira exausto, precisa de uma banheira cheia com algumas poções curativas na água, precisa imergir e esquecer. Curar. No entanto, faz como estava acostumado há tempos, entra no banheiro para tomar uma ducha com toda a intenção de deitar-se nu na cama e esperar o cansaço vencê-lo.

Assim que está embaixo da queda de água morna, intui que a desejada inconsciência não virá tão cedo. Mal fica sozinho e seu cérebro começa a atormenta-lo com lembranças.

Os amigos e ele correndo pelo bosque proibido... ele nunca é capaz de lembrar muito bem o que faz durante as transformações, então, essas não são recordações claras, são apenas flashes das noites de lua cheia, mas as sensações que tem enquanto transformado é algo que ele sempre recorda ao acordar.

Lembra-se de abrir os olhos e sentir os toques gentis de Sirius em sua pele, limpando-o com a própria camisa branca antes de pegar suas roupas e lhe entregar.

Mesmo quando ainda eram apenas amigos — amigos apaixonados um pelo outro; mas ainda sem coragem de tomar atitude — era Sirius quem cuidava dele após a lua cheia. Era sempre ele quem estava sentado, às vezes deitado, ao seu lado quando acordava nu na floresta. Às vezes os outros dois garotos ainda dormiam junto à alguma árvore, estavam na Casa dos Gritos buscando a muda de roupa do amigo ou, já de volta, esperavam sentados na beira do lago enquanto atiravam pedras em sua superfície. Sirius, no entanto, sempre esperou ao seu lado até que ele acordasse. E era um tanto vergonhoso estar sem roupas na frente deles, ainda mais com todas suas detestadas cicatrizes visíveis, mas o fato de sempre acordar meio coberto pela camisa do amigo amenizava isso. Todas as vezes se deparava com Sirius apenas de calça, a camisa sempre destinada a cobrir e limpar sua pele.

Things left unsaid » wolfstarOnde histórias criam vida. Descubra agora