Era começo de desconhecido, do ano a qual ficou para sempre tatuado em sua memória, dentro do seu quarto o menino estava deitado em sua cama que mais se parecia com seu próprio túmulo, mas ele se sentia confortável em seu estado de não sentir mais nada, nada a qual pudesse fazer o seu estado de ser sozinho ter um fim, para um dia poder chegar a algum lugar de solidão a dois. Olhando para o teto todo rabiscado de suas lembranças, incertezas e frustrações ele abria e fechava os olhos na certeza de que tudo em sua volta era o que ele tinha de seu. Naquele pequeno espaço a qual ele se trancava, guardava dentro de si alguns muros, suas pontes e todos os seus abismos a qual conhecia como vida. Ele acreditava que tinha um peito de aço, acreditava que era invencível, só que na verdade ele tinha um grande vazio, mas ninguém sabia. Algumas pessoas o achavam incrível outras um grande perdedor, ele não ligava para a opinião das pessoas, na verdade as pessoas o deprimiam o tempo todo, ele só queria ter nascido em outra época, outro espaço, quem sabe em outra galáxia.
Ele nunca foi o melhor do futebol, para ser sincero ele nunca apreendeu a jogar o jogo e também nunca se interessou por esse tipo de esporte, na verdade ele nunca foi bom em nada. Sabia que gostava de desenhar, escrever, mas nunca teve algo a qual pudesse se destacar e dizer nisso eu sou realmente bom. Para ser sincero ele tinha um super poder, ser invisível era algo incrível porque ninguém podia chegar ou tocar naquilo que não existe. E assim ele vivia a sua vida, os dias se passavam, as pessoas passavam cada a qual a centímetros de um esbarrão em seu ombro, mas ele sempre desviava para não manter nenhum tipo de contato. Então ele apreendeu a atuar se tornou um péssimo ator no palco e um ótimo mentiroso da vida. Cresceu cansado dos rostos que viu na infância, das pessoas ao seu redor, e do seu jeito de nunca conseguir se encaixar. Ele não compreendia porque um casal do mesmo sexo não podia adotar uma criança quando através de casais julgados "normais" a criança ficou sem lar. Ele não entendia porque seu pai foi embora e não sabia o motivo pelo qual sua mãe jamais se apaixonou novamente. Ele sabia que era diferente, ele viu e sentiu o amor ser desperdiçado entre tantos tombos que seu coração presenciou, então ele jurou para o céu que jamais iria se apaixonar. Abria e fechava os olhos, virava de um lado para outro da cama, sua insônia era sua melhor amiga, repetia o mesmo disco na expectativa do sono chegar. Mas este nunca chegava. Entre as 03h30 da manhã até as 05h15 da manhã ele conseguiu dar um pequeno cochilo se levantou da cama desejando dormir por cem anos, mas era mais um dia de cão ele já estava acostumado a lidar com as feiras da segunda. Tomou um banho quente que até o quarto se encheu de fumaça, como de costume pegou a primeira peça de roupa que estava no armário, vestiu uma calça preta, camiseta preta e calçou um all star cano médio vermelho. Desceu na cozinha preparou um café forte e voltou para o quarto.
O menino gostava da vista do decimo segundo andar, ele tinha uma visão privilegiada, do seu quarto ele conseguia ver o mar em linha reta, do lado direito havia algumas montanhas, e do lado esquerdo todo caos da cidade grande. Cercado sobre quatro paredes, em pé, tomando o seu café em frente janela, aquele espaço era o seu lugar preferido no mundo, olhando o dia nascer ele acendeu um cigarro, ele tinha uma filosofia que o primeiro cigarro do dia junto com o café era o paraíso e os outros cigarros durante o dia era a busca desenfreada desse paraíso perdido. Olhava o movimento dos carros, olhava as ondas agitadas do mar, olhava as pessoas apressadas para mais um dia a qual elas perderiam o seu dia para o próprio dia, tudo lhe causava um enorme tédio, só de pensar em estar sentado naquela manhã em uma sala de aula ele já acendia outro cigarro sem perceber já estava na busca desenfreada do paraíso perdido.
Por volta das 06h00 da manhã o menino estava arrumando algumas coisas em sua mochila para poder sair de casa, ele já estava bem atrasado e não percebeu que a luz do sol lentamente penetrava sobre a janela do seu quarto, como flocos de poeira que paira em apenas um único instante, como fagulhas de fogueira que se percebe por um único momento, toda aquela luz invadia aquele espaço que só pertencia a ele. Ao se virar de costas para fechar a cortina, tudo aquilo que o menino chamava de seu mundo ao sentir a luz do sol tocar a sua pele fria fez sua cabeça dar voltas, como uma disritmia desenfreada seu coração começou a pulsar, ele sentiu calor em seus olhos, algo a qual ele jamais imaginou que poderia existir, sem entender nada sobre o que estava acontecendo, ficou estático recebendo toda aquela energia, naquele singelo momento alguma coisa na bagunça no mundo do menino fez sentindo, ao sentir seu corpo inteiro impregnado pela luz do sol, sem perceber o menino se apaixonou por ele.