Não prometo nada

Capítulo 1 revisado

Se neste exato momento você está dizendo que sua vida amorosa é a pior do mundo, então repense. De verdade! Sempre há alguém pior do que você e essa pessoa se chama Diana Gomes Lara. Uma advogada de 29 anos, totalmente bem sucedida, dona de uma cobertura no melhor bairro de Belo Horizonte e com um histórico de relacionamentos de dar dó. Mais conhecida como eu. Quem inventou a frase "nem tudo são flores" realmente estava pensando no espinho gigante chamado "homens" que fincam e grudam, mas quando saem deixam um rastro de dor e, simplesmente, voam com qualquer brisa que aparece. 

 Digamos que não foram um ou dois, mas sim doze! DOZE CARAS QUE AGORA ESTÃO NA ESPINHOLANDIA! 

A questão é que, agora, está apenas eu, um lençol – que eu esperava não ter gasto tanto dinheiro nem inaugurá-lo sozinha – e uma garrafa de whisky. Só faltava os gatos e eu já poderia me considerar uma anciã. 

"Promoção casal do ano: concorra a uma viagem com tudo pago para Cancun e tenha momentos inesquecíveis com seu amor". 

Dei um longo gole no whisky enquanto pensava em quantos idiotas apaixonados, em média, se inscrevem nessa palhaçada de sorteio que eu estava vendo na tela do notebook. 

Mais um gole. 

De certa forma, toda essa situação patética me lembrava o Diego. Se considerar a ordem de chegada dos meus ex, então ele seria... O namorado número 3 – o meloso babão. Meloso porque ele sempre dava um jeito de nos imaginar noivando em um jardim, casando em uma super igreja, a lua de mel de mãos dadas em alguma parte de Veneza – a terra dos apaixonados – ou as bodas na Turquia, pois é " Um excelente lugar para se aproveitar a vida ao lado de alguém", nas palavras dele. E pensar que só ficamos seis meses juntos até eu cansar de seus apelidos ridículos, dentre eles "docinho", "chuchu" e, o meu "preferido", "mozão". Mais um pouco e eu tenho certeza de que meu salário seria gasto em algo para segurar meu estômago e todas as minhas refeições nele.

 Com certeza Diego se inscreveria nessa promoção sem pestanejar. 

Ah, qual é! Qualquer um pode se inscrever nesse concurso. Até eu! Não precisa desse negócio de "amor", afinal, isso nada mais é do que...que... Uma invenção do capitalismo moderno preparada para nos iludir e nos fazer gastar absurdos em junho. 

Peguei meu notebook e comecei a digitar meus dados inventando um nome para preencher a lacuna "parceiro". Ótimo. A parte mais difícil é ter um nome que não me faça rir ao ouvir. Pior que isso, só rememorar que namorei o Generoso. Sim. G E N E R O S O. Não me pergunte o porquê eu suportei por 1 ano um cara que, além de provocar risos ao responder como se chamava, não condizia com o nome e, ainda por cima, parecia exercer muito melhor essa característica com a minha ex-secretária. 

Olhei ao redor do vasto quarto procurando qualquer coisa que me desse alguma identidade e me deparei com a minha pilha de filmes favoritos. Parei ao ver a imagem de Jim Carrey em "Eu, eu mesmo e Irene". O filme da minha vida. Talvez não seja normal um homem tomar remédios controlados para manter a calma e não falar tudo o que gostaria. Eu sei exatamente como ele se sente não sendo quem é, tendo que privar o mundo de conhecê-lo ou de ouvir certas coisas. Não por falta de vontade – aliás, isso tem até demais - o problema é imaginar o depois, os olhares de reprovação e a dor vindo contra você, seja com desculpas esfarrapadas, seja com abandonos repentinos.

Ah não. Eu NÃO preciso disso!NÃO MESMO!

Minha vida amorosa está difícil o suficiente para eu afogá-la em pensamentos ainda mais destruidores.Sem pensar muito, logo digito um simples "Jim" ali na lacuna. Isso aí. Um sobrenome besta qualquer e voilá! Completo o cadastro colocando o "Por que eu deveria ganhar essa promoção".Por que eu deveria?Eu não deveria ganhar, essa é a graça da promoção e também da vida. Pessoas ganham coisas que não deveriam, umas ganham um término e outras o seu namorado. Cadastro completo. Mais um gole na taça e a esperança de que aquele dia de foça acabasse como aquele líquido na taça.