Não prometo nada

Capítulo 3 revisado

Já era véspera da viagem para Cancún. Eu estava arrumando minha mala, sem saber muito bem o que esperar de amanhã e, toda vez que minha cabeça cismava em pensar nisso, eu logo me ocupava entre a dúvida de levar o pijama de panda ou o de unicórnio.

O que vai te dar menos chance de um cara pular da sua cama em menos de dez minutos – foi o que disse Molly das últimas vezes que a perguntei.

Acontece que ela realmente tinha alguma esperança dessa viagem resultar em... Alguma coisa. Mesmo que eu dissesse que nem se eu fosse para a terra dos gatos da Playboy, dormiria com um completo estranho. Afinal, não faz muito o tipo da minha vida super gatos olharem muito para mim. Eles sempre estão ocupados demais com modelos a la Kim Kardashian.

– Ai. Meu. Deus!- Molly, que está sentada na poltrona de couro preta do meu quarto, grita e remexe as mãos freneticamente. 

Ela está olhando alguma coisa no Ipad e logo quando eu me aproximo a tela, a extrema proximidade irrita meus olhos, ainda que protegidos por lentes redondas. Só quando a visão se ajusta, consigo ver centenas de fotos, todas de Thomaz e outras mulheres. Loiras, ruivas e morenas, todas em ocasiões diferentes, situadas na galeria de algum programa estranho do aparelho.

– Uau, ele gosta de mulheres hein- comenta.

Molly é uma verdadeira detetive e foi com uma de suas pesquisas que terminei meu último relacionamento. Guilherme era um príncipe aos meus olhos, mas com um pouco da mágica da experiência de Molly em achar o que ninguém mais acha, combinada com conhecimentos hackers, vimos quantos check-ins ele andava fazendo pelos motéis ao redor do estado e, o mais engraçado, é que não me envolviam, muito menos alguém das reuniões em que ele dizia estar.

– Neném, algo me diz que isso aqui não tem nada a ver com seu gosto por mulheres, mas pelo gosto delas por ele. Quem pode julgar, o cara é um pedaço de mau caminho. 

– Ele nem é tão bonito assim- minto. 

– Ah, por favor, Diana! Humpf... -Ela bufa indignada. - Mas a maior coincidência é que cada uma delas se encontrava em situações do tipo, separada, sem parceiros fixos por mais de 5 anos, desesperadas por companhia... 

– E você descobriu isso só com uma foto? – Nahh, nada que os posts do Facebook não falem. Digamos que postar trechos das músicas do Sandy e Júnior, legendas de amor e quotes de Como eu era antes de você já entrega o jogo. 

 – Não sabia que a psicologia agora era uma das suas especialidades, Molly.- Eu enfio a necessaire com estampas de gatinhos e meus produtos de higiene na mala. 

– E eu não sabia que a sua era ter um apartamento moderno e o guarda-roupa da sessão infantil.- Ela deixa o aparelho apoiado na coxa.

Reviro os olhos.

Tudo bem, meu apartamento tinha sido decorado com um estilo bem minimalista, pelos arquitetos da Voyare, uma grande empresa de Belo Horizonte. Não atoa, as paredes eram em tons de branco, creme ou cinza e a decoração envolvia plantas, lâmpadas e tudo que havia de moderno no mercado. Já minha personalidade era muito entregue com o excesso de plumas, glitter e bichinhos escondidos nas cômodas, armários e gavetas. Talvez por isso, meu quarto, por fora, tivesse uma parede de tijolos, uma muda de bambu ao lado da cama de casal e dois cactos distribuídos na cômoda de madeira envernizada ao lado da escrivaninha preta no canto da direita. Já por dentro dos esconderijos, as meninas super poderosas se materializavam em produtos, junto com mais alguns outros personagens infantis que eu dedicava não só minha admiração, mas também algumas horinhas na TV.