Em uma palavra, a residência dos Yokatana era sombria. Ela estava longe de ser uma casa pequena, e o fato de estar vazia e escura aumentava seu ar lúgubre. Lynch acendeu as luzes.
"Bem-vindos, eu acho."
O primeiro andar da casa era composto pela sala de estar, sala de jantar e cozinha, as duas primeiras conectadas. Os quartos supostamente estariam no mezanino, que era acessível somente por uma escadaria larga e com aspecto assustador.
"Não entendi." Joelia comentou. "Seu quarto é aqui embaixo, certo?"
Lynch soltou um suspiro. "Não. É lá em cima mesmo." ele se preparou para ouvir um comentário negativo.
"Eu não acredito que seu quarto aqui é no topo de uma escada." disse Natasha.
"Eu sei o que você vai dizer: por que eu fiz questão de ter um quarto no térreo na sua casa quando na minha ele fica no segundo andar e eu poderia subir as escadas? Bom, eu-"
"Essa é literalmente a última coisa que eu diria." a loira bufou. "O que eu ia dizendo: como você conseguiu viver nessa casa durante esses últimos anos?"
"Eu me viro. Eu aprendi a subir as escadas e passei a usar o meu quarto o mínimo possível. Muitas vezes eu já dormi no sofá da sala, passei semanas só subindo pra ir tomar banho."
Os outros três estavam escandalizados. "Não tem nem banheiro aqui embaixo?"
"Tem um lavabo. Sem chuveiro."
"Não. Isso é demais pra mim." Will (que não estava mais carregando Edith, já que a menina acordara e agora lia um livro no sofá) marchou em direção às escadas. "Eu vou lá em cima esvaziar seu guarda-roupa e fazer as suas malas pra você."
"Não precisa, eu consigo-"
"Você não vai chegar perto dessa escada. Natasha, segura ele."
"Não me diga o que fazer."
"Você nem sabe onde fica meu quarto, eu tenho que subir!"
Sem esperar uma resposta, Lynch se dirigiu às escadas. Ele sentou-se no terceiro degrau, posicionou a perna boa no segundo e colocou as muletas, deitadas, no degrau mais alto possível. Depois, apoiando-se com as mãos e tomando impulso com a perna boa, subiu, sentado, os degraus, um por um. Os outros o acompanharam até o topo.
"Alguém me ajuda a levantar, por favor?"
Natasha, Joelia e Will ao mesmo tempo atenderam ao pedido, mas não deu muito certo e os três se desequilibraram. Na segunda tentativa, os dois últimos realizaram a tarefa enquanto Natasha pegava as muletas e entregava-as ao dono da casa.
"Obrigado." Lynch apontou para uma porta de madeira à esquerda. "Meu quarto é ali."
"Você vai continuar fingindo que tudo isso é normal?" Will perguntou, incrédulo. "Essa casa não é nem um pouco funcional pra você, mas você age como se estivesse tudo bem!"
"A gente já falou sobre isso-"
"Mas eu não consigo entender esse conformismo! Você pode até aceitar as coisas como são, mas tratar isso como normal é bem diferente."
"Ele tá certo, Lynch." Joelia adicionou.
"Vocês não entendem, eu-"
"É a única família que você tem." Natasha interrompeu, a voz suave e o olhar um pouco vazio. "Não é isso? Você age como se nada estivesse errado porque isso é o mais próximo de família que você tem. Eles te maltratam, te ignoram e te ameaçam e você não liga porque pelo menos vocês carregam o mesmo nome, você pertence."
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Outlaws
Teen FictionQuando todos os super-heróis se aposentam, um jornal online a beira da falência precisa continuar a escrever suas matérias. Para isso, eles precisam contratar novos heróis e acabam recorrendo a um grupo de jovens que são, para começo de conversa, pr...