O início

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Heaven.

É, eu sempre fui uma pessoa normal, com uma vida normal.
Nunca tive esperanças de que algo incrível ia acontecer na minha vida, muito menos, que eu iria viver um romance digno de livro.

A minha vida inteira foi normal, minha vida inteira foi a calmaria, até agora.

A parte ruim da calmaria durar tanto é que quando a tempestade vem, ela vem com tudo. Muita coisa acontece de uma vez. É difícil de assimilar, você sente como se todos os seus sentimentos estivessem dentro de um liquidificador ligado. É, é difícil sim. Mas se você não morrer, ou querer se matar, no processo vai ficar tudo bem.

Na manhã que a tempestade começou, eu acordei de bom humor. Fiz tudo o que geralmente fazia quando acordava e depois fui para fora para pegar o jornal matinal. Vi que ele não estava em frente a porta, então olhei para frente e o vi a poucos metros de mim. Caminhei até o jornal e o peguei.

Escutei alguns soluços, alguém estava chorando. Na calçada havia um garoto de cabelos negros, não consegui ver o rosto dele. Ele estava curvado com uma mão no rosto e outra segurando um buquê de tulipas. Os soluços vinham dele. Anuí o fato de que ainda estava de pijama e ajoelhei-me o lado dele, coloquei a mão em seu ombro e ele me olhou assustado.

—O que aconteceu? - Tentei fazer minha voz soar o mais doce e reconfortante possível.

Ele me fitou, parecia incrédulo. Seus olhos eram azuis cor de gelo, sua pele era clara, fios rebeldes de seus cabelos estavam caídos na testa e suas bochechas estavam molhadas de lágrimas.

—E-eu estava indo ver minha mãe no hospital.– sua voz estava rouca. – Só que quando eu cheguei, já era tarde de mais. – Lágrimas rolaram de seus olhos novamente.

Ele me abraçou e eu retribuí. Murmurei palavras de conforto como "calma, vai ficar tudo bem" e convidei-o pra entrar. Ficamos no sofá e eu dei sorvete para ele. Ele recompôs aos poucos e ficamos conversando durante a tarde inteira.

O nome dele era James Bradley, ele tinha 17 anos e ainda morava com o pai. O sonho dele era ser médico, ele queria salvar vidas. Lindo sonho, não?

Contei para ele algumas coisas sobre mim. Como, meu nome ser Heaven Dawson, eu ter 16 anos e que sempre me senti muita atração pelas estrelas e que se eu tivesse que escolher uma profissão, seria astronomia.

É, James tinha um sonho. Acho que todos nós temos. Mas eu acho que James conquistar seu sonho não estava nos planos do destino, não é mesmo?

Meses se passaram e James e eu nos tornamos amigos, ele já era parte da minha família, eu o amava como um irmão.

Abri a porta para que James saísse, então o acompanhei até o ponto de táxi. Ele me abraçou e nesse momento algo zuniu em meus ouvidos, o som de algo cortando o ar.
Nos afastamos bruscamente e eu acabei caindo no chão, James estava na minha frente, porém estava virado para dois homens mascarados e vestidos com mantas de couro. Eles tinham arcos com flechas armadas apontadas em minha direção.
Um deles disparou, pude ver a flecha vindo em minha direção, porém um vulto se colocou entre nós.

James caiu no chão. Um flecha estava cravada em seu tórax. Desesperada, corri até ele.

—James! Responde. Por favor não me deixa! - Gritei com lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

—Não...-ele me encarou com seus olhos cor de gelo, uma de suas mãos se entrelaçam na minha. - Se esqueça d-de mim. - Sua mão afrouxou e ele não se moveu mais.

Entrei em choque e uma raiva desumana tomou conta de mim.
Levantei e encarei os homens com os olhos ardendo em fúria.

—O QUE VOCÊS QUEREM DE MIM? - Gritei, porém eles permanecerem em silêncio e um deles levantou o arco com uma flecha armada apontado para mim.

E então disparou, sua flecha veio até mim, mas parou a menos de um milímetro do meu rosto. Ela estava envolta de uma aura alaranjada. Gritei novamente por instinto e essa aura que antes envolvia a flecha se tornou uma linha de energia que explodiu e atingiu os homens. Eles se defenderam com escudos de energia roxa. Antes de desaparecerem eles me olharam nos olhos e foi aí que eu soube que eu os veria novamente.

Corri de volta para o corpo de James, toda a adrenalina que eu senti a poucos segundo se esvaiu e eu me permiti sentir a dor. Comecei a chorar e gritar por ajuda, mas ninguém veio nos socorrer. Olhei novamente para o ferimento e a flecha foi mudando aos poucos até se transformar numa faca comum.

Peguei meu telefone, e com as mãos trêmulas liguei para a emergência. Falei que dois homens apunhalaram James no peito. Logo o socorro veio e o-declararam morto. Então levaram o corpo de James em um saco preto, fui levada para o hospital, mas eu estava bem-na medida do possível.

Durante vários dias, quando eu fechava os olhos, toda aquela cena voltava a minha cabeça, como um disco arranhado. Toda noite, todo dia, toda semana.

Havia várias perguntas que eu não conseguia responder de forma lógica. Como:
Quem eles eram? O que queriam? O que aconteceu naquela tarde? E porque estavam atrás de mim?

É, as vezes coisas ruins acontecem pra coisas boas acontecerem, certo? Não tenho tanta certeza

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