Matt

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 Cheguei em casa, tirei os sneakers cansados dos pés. Velhos companheiros! Subi as escadas e fui pro quarto, plena terça-feira e já estou morta. A semana mal começou Cat! Enfim melhor continuar tentando o movimento do que se entregar a cama de vez. Almocei, liguei o PC e bora estudar...

 As quartas estou cursando fotografia, mais por hobbie do que por profissão... logo acabo, me formo, e vou poder oficializar essa paixão nas ruas, onde tudo acontece. Viajar, rodar o mundo, seria tão bom...

 Dezoito horas. Me arrumar para ir a academia. Provavelmente não comentei, caro leitor, mas nem sempre tive o corpo dentro dos "padrões", já fui o que podemos chamar de "fofinha". Atualmente me considero saudável, nem de mais, nem de menos. Academia foi insistência minha. Meus pais não achavam necessário, embora se preocupassem de certa forma. Comecei a frequentar aos 14 anos. E lá vou eu, 17 anos na identidade, 19 na cara, 80 na disposição, com uma legging preta básica, um top e camiseta cinza, par de tênis antigos mas confortáveis, cabelo preso em um rabo de cavalo e um brinco pequeno de prata que minha mãe deu. Pronta. Fui.

 É difícil não encontrar um pouco de humor em uma academia, vemos cada figura... podemos começar pelo traje da mulherada, lugar para malhar ou para chamar atenção de macho? Existe o Tinder, não?

 Leggings mega coloridas, estampadas, e de quebra, super justas. Tem umas que só faltam realçar o útero... Enfim, gosto é gosto, noção é noção, e respeito é respeito. O que, por falar nisso, até tem aqui onde frequento, meu ex da época dos 14 anos até havia sugerido uma academia feminina. Mas esse rolinho, meu primeiro namorado, já é outra história, outro livro, outra mente. Aqui, nessa atualidade, é sobre o amor, que ainda estava por vir...

 Eu não tinha muitos amigos, nunca tive, nem na escola, nem na vida. E na academia não era diferente. Tinha vários conhecidos, é claro. Ainda respiro, ainda existo. Porém tinha uma pessoa...

O Matt.

Matt. Ah Matt!

 Matt era capitão do time de futebol. Isso é clichê e por si só já diz tudo. Rapaz alto, 18 anos, forte e viril, bronzeado, loiro, olhos azuis. O sonho americano de toda garota, apesar de não ser o meu. Não havia como não achar ele atraente, mas algo em mim sempre fazia banalizar todo esse status, e achar o encanto na personalidade do indivíduo. Eu o vejo desde a primeira série, desde criança no colégio, e admito que ele evoluiu muito e rápido. Mas sei lá... ao contrário de outras meninas achava ele... normal.

 Frequentamos o mesmo colégio e desde quando comecei, mesma academia. Não sou nada popular, mas isso nunca o impediu de me dar "oi". Kim sempre surtou com isso, desde quando mencionei, há 3 anos atrás, que ele estava frequentando a mesma academia. Ela até chegou a ir algumas vezes, para "malhar" os olhos nele. O engraçado é que mesmo ele sendo o queridinho do colégio Hampton Fall's, isso parecia não subir-lhe a cabeça, tirando dele qualquer vestígio de "garoto mau" que ele pudesse ter, para a tristeza de Kim.

 Minha amiga, de longos 6 anos, poderia ter muito bom gosto para muitas coisas, mas com certeza sempre teve dedo ruim para garotos, digamos que a linha bad boy era a preferida dela. E que Deus proteja, nunca seja a minha...

 Como toda semana, Matt estava na academia, dedicado e perseverante, treino avançado em todas as modalidades possíveis, de levantamento de peso a Muay thai. Ele sempre tirou boas notas, e parecia ser do tipo confiável, o que me motivou de certa forma a crer que conversas vagas e rápidas com ele não seria problema. Cheguei e ele estava na barra de força. E que força hein...

 Coloquei minha garrafa de água no canto, pano no pescoço, e comecei a correr. A esteira de certa forma sempre me acalmava. Correr sem sair do lugar, viajar sem chegar a um destino, apenas eu e o ritmo latino batucando em meus ouvidos e... OQUÊ?? Não acredito!! Esqueci os meus fones de ouvido. Algo imperdoável, é claro, é sair sem meu bom e inseparável som, minha playlist bipolar e completa que dediquei toda a alma, e meus fones são como minha fonte de energia. Nunca estive, desde o primeiro dia, na academia sem eles, simplesmente não sei como esqueci. Provavelmente ficou na mochila do colégio... Era assustador. Como iria continuar sem a música? Voltar para casa só para buscar estava fora de cogitação. O jeito era aguentar e levar isso como uma lição...

 Percebi que no meio dessa descoberta terrível eu havia parado de correr, o que, para minha pequena suspeita, alguém percebeu.

- Está tudo bem?

Aquela voz conhecida, porém não muito ouvida, me pegou de surpresa.

- Ah; Oi.. Matt. Está sim.

Ou quase...

- Vi que paralisou, parecia ter esquecido algo no fogo haha. - disse ele, humorizando

- Esqueci meus fones... nunca corri sem eles. Lembrei agorinha.

- Hmmm entendo... quer os meus?

O que?

Basicamente tenho uma regra: emprestar fones é o mesmo que emprestar calcinha, não rola.

- Se tudo bem por você...

-Claro! Pega aqui. - disse ele me entregando os fones brancos com um sorriso todo simpático

- Ah obrigada, salvou minha vida! - eu imensamente agradecida é claro

- Imagina, são só fones. - ainda gracioso

 Passada as duas horas em que me exercitava, fui entregar os fones ao meu caveleiro de armadura que acabara de salvar minha noite na academia.

- Obrigada! - estendi o fone

Ele estava secando o rosto, peitoral marcado pela camisa justa, não teve como não reparar, ok?

- De nada – disse ele com um sorrisinho

Eu já estava colocando o pé para fora do lugar quando ele falou:

- Ei...

Virei na hora.

- Você ouve bastante música pelo visto haha- ele parecia estar tentando puxar assunto

- Simmm sou básicamente movida a música- disse eu em leve tom dramático

- Poderia me indicar algumas? Vai que tem umas que ainda não conheço... - ele falou

- Ah claro, traz amanhã um pendrive, posso te passar as que eu tenho...

- Pode passar seu número? Seria mais fácil acho... da pra compartilhar online a lista e tal... - disse ele me encarando com olhos semi-serrados

 Pude sentir uma brisa fria em minha nuca suada que deu calafrios. Estremeci levemente. Seria só a brisa?

Ajeitei minha garganta para ver se a voz saia de uma forma audível e falei:

- Claro, tudo bem.

 Ele me passou seu celular com a tela em modo discagem. Era um modelo novo e visívelmente caro, a tela teria o triplo do tamanho do meu celular já todo antiguinho. Disquei rapidamente e conferi. Na adrenalina do momento esqueci de colocar o nome mas antes que eu falasse algo pude ver brevemente ele digitando Cat. Ok, Cat é meu apelido... mas teria intimidade ele para colocar assim? Enfim... ele sussurrou um "Prontinho" e eu dei meio sorriso. Fui pra casa.

 Já estava na porta de entrada quando recebi um "Oi" de número desconhecido. Fui no aplicativo de mensagens e pude ver a foto ao lado do "contato desconhecido" e havia um belo jovem sufando. Dei zoom e reconheci o rosto concentrado de Matt. Adicionei e respondi também um "Oi".

 Assim que entrei pude receber o olhar carinhoso de minha mãe, que me aguardava com o jantar no fogo. Papai estava sentado em sua poltrona favorita lendo um jornal e de relance me olhou dizendo:

- E então princesa, como foi seu dia?

- Oi pai, foi tudo certo.

- E a academia? - mamãe sempre procurava os detalhes em meu rosto

E justamente nessa hora o celular vibrou. Mensagem.

Ela viu meu rosto corar, sorriu, e falou:

- Em 10 minutos desce para jantar.

 Acenei um sim com a cabeça e subi rapidamente as escadas. Fechei a porta do quarto. Me joguei na cama. E fui ver o motivo da vibração...  

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⏰ Última atualização: Sep 12, 2017 ⏰

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