Noites escuras

37 5 6
                                    

Celso tinha apenas dezessete anos, mas mesmo sendo tão novo, havia algo em sua mente que o perturbava nas noites. Eram noites escuras, cheias de temores, onde tudo o que o garoto conseguia fazer era bater repetidas vezes em sua cabeça até seus pensamentos migrarem para lugares menos perigosos e doentios.

Ele nunca sabia ao certo o que a próxima noite lhe reservaria. Podiam até mesmo ser noites plácidas e confortáveis, mas ainda assim havia uma ponta de dúvida, uma pergunta que ele insistia em fazer para si — quando ele começaria a enlouquecer?

— Filho, está tudo bem? — chamou Elisa, sua mãe. O tom de voz dela denunciava sua preocupação.

Celso pausou a música que tocava em seu walkman e virou a cabeça em direção à porta fechada. Os pais cochichavam algo que quase podia ser ouvido pelo garoto, e ele se aproximou da porta, a fim de saber o que os pais estavam conversando.

— ...ele não sai mais do quarto, Francisco — a mãe dizia.

— Ele é adolescente — o pai replicou, como se isso explicasse sua estranheza anormal —, e adolescentes ficam trancados no quarto fazendo sabe-se lá o quê.

Bateram na porta mais uma voz, e em seguida Elisa disse:

— Celso, por favor. O que está acontecendo?

— Nada — o garoto respondeu com a voz incrivelmente grossa que ele tinha. Garotos da idade dele não tinham uma voz tão potente assim.

— Abra a porta — pediu Francisco. Depois, estressado, exigiu: — Abra a merda dessa porta!

Celso o fez, olhando com indignação para os pais. O que ele queria dizer era: Para que tudo isso? Depois, a mãe entrou no quarto e começou a mexer nas coisas. Encontrou o walkman em cima da cama, em uma posição que dizia que ele estava lá jogado, mas ela não acreditava realmente nisso. Dave para ver.

— Estava ouvindo o quê?

— Músicas — o garoto respondeu, evasivo. — Estava ouvindo músicas.

Francisco entrou também, e os três ficaram em silêncio.

— Para que tudo isso? — Celso perguntou, enfim.

— É que seu pai...

— "Seu pai", nada — cortou Francisco, ríspido como quase sempre. — Sua mãe anda desconfiando de você.

— É que você está muito estranho, Celso, e, não sei, talvez seu pai e eu pudéssemos ajudar.

— Não está acontecendo nada — o garoto respondeu, mesmo sabendo que era o contrário.

Os problemas começaram há alguns anos, quando ele percebeu que seus sonhos se misturavam à realidade, onde acabava que em um momento ele sabia quem era e onde estava, e no outro desconfiava de todas as coisas, até mesmo de sua existência. Mas é claro, ele nunca havia falado sobre aquilo para ninguém, embora muitas vezes tenha se perguntado se estava doente da mente. Doente da mente? Que horror! Aquele tipo de coisa não existia, ele não conhecia ninguém que tinha ficado "doente da mente".

— Você mal sai de casa — disse Elisa. — Mal fala com seus amigos.

— Que amigos eu tenho? — contrariou Celso.

— O Rubens, o Fábio e aquele outro que esqueci o nome — citou a mãe.

— Eles não são meus amigos.

As pessoas mais velhas, como seus pais, pareciam ter dificuldade para entender que não é porque você anda com algumas pessoas, que elas são suas amigas. Mas explicar isso para eles — ah, meu Deus, explicar para eles — era o difícil.

Noites escuras (CONTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora