Ameaças

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Sexta, 16h15 do dia 21 de agosto.
Banheiro da escola.

   Lucas era um garoto alto, bastante forte também. Ele parecia um daqueles ogros que vivem em academia. Loiro, olhos cinzas como o céu de um dia nublado. Seria bonito se não fosse tão desprezível e detestável.
   Tudo o que ele sabia fazer era diminuir as pessoas, tentava sempre reduzir todos à sua volta a praticamente nada, aquela típica síndrome de Regina George. Rico, mimado e, pra ele pelo menos, dono da razão.
   Nem imagino até que ponto ele tinha escutado o que eu e o Dan tínhamos conversamos, mas um arrepio horrível percorria pelas minhas costas. Uma sensação, quase como um pressentimento horrível de que as coisas poderiam piorar muito agora.

   - Ora ora ora, o que temos aqui? - sempre muito cínico e com um largo e maldoso sorriso entre os lábios - os melhores amigos, quase opostos eu diria. Parece que os opostos se atraem mesmo, não acham?
   - Cale a boca, Lucas! - disse Daniel sem medo algum - Antes que eu te dê uma surra!
   - Faça-me o favor ne, Danizinho, você pode ser atlético, mas isso não significa saber brigar. Quem iria te ajudar? Essa bichinha magrela que vive te seguindo pelos corredores da escola?
   - Nunca fale mal do Isaac na minha frente, nunca!
   - Ou o que? Vai me bater? Se toca Daniel, você não é homem pra isso.
   - Tem certeza?

   Em questão de segundos Daniel deu um soco no maxilar de Lucas, que caiu no chão. Mas não se deu por vencido. Levantou e empurrou o Dan na parede, seguido de vários socos na barriga.
Eu o empurrei e gritei por ajuda, gritei o mais alto que pude. Ele parou.
- Isso não vai acabar aqui Delasso, você me paga, e você também Monte Rei! Bichinhas nojentas!

   Foi embora, por hora.
   Daniel estava sentado no chão, com as mãos na barriga. Apenas me sentei ao lado dele e o abracei.

   - Obrigado por me defender, mas o que você tinha na cabeça? Ele tem quase o dobro do seu tamanho! - só me dei conta que havia gritado depois de terminar a frase, me arrependi quase que imediatamente - Ele podia ter te machucado muito mais...
   - Não se preocupe, eu estou bem, e eu vou sempre te defender... sempre. -- as palavras soaram como uma obrigação para ele, mais que isso, como uma necessidade -- Eu não menti quando disse que te amar, e eu te quero bem.

   Depois disso eu o abracei e ficamos ali durante alguns minutos, mas o sinal de saída tocou e depois disso, fomos embora.

Sexta, 21h00 da noite de 21 de agosto.
Em casa.

   Algo estava errado! Por mais que o Lucas tivesse me chamado de bichinha, ele sempre dizia isso, agiu como se não estivesse surpreso com tudo o que havia acontecido. "Você me paga" ele disse, o que isso significava exatamente? O que ele tinha em mente naquele momento?    
   Tantas perguntas sem respostas que me sinto até um pouco tonto...
   Aconteceu muita coisa hoje, mas independente do que esteja por vir, tenho o Dan comigo, sei que juntos vamos passar por isso.
   Eu te amo. Essa frase me faz sorrir como um bobo. Ouvir isso da boca dele foi tão bom.
   Venha o que vier, estamos prontos.
   Estamos juntos.

Sábado, 8h00 da manhã do dia 22 de agosto.
Em casa.

   Final de semana. Felizmente tenho dois dias de folga pra digerir tudo o que aconteceu ontem.
   Marquei de me encontrar com o Dan no Monte Tarôbe, o lugar mais alto aqui da cidade de Vila Luz. É muito bonita a vista de lá de cima, mal posso esperar pra chegar...

Sábado, 17h30 da tarde do dia 22 de agosto.
Monte Tarôbe.

   Quando cheguei ao topo, lá estava ele. Em suas mãos, uma cesta de piquenique. Aquele momento era quase como um sonho. Um daqueles bem sonhados e especiais que você não quer mais acordar.
   Ele estava tão lindo, aqueles olhos negros reluzindo a luz do Sol, aquele sorriso largo e bonito estampado em seu rosto. Com uma roupa bem casual, camiseta regata e bermuda. Nada fora do costume.
   Assim que parei ao seu lado, ele colocou a cesta no chão, me olhou por um tempo até finalmente começar a falar.

   - Bom, hoje nós vamos fazer um piquenique no meu lugar favorito dessa cidade. Espero que goste.
   - Só de estar aqui com você já me parece ótimo! Eu nem acredito que isto está mesmo acontecendo!
   - Nem eu! Mas eu estou muito feliz por poder finalmente estar com você da forma como sempre quis estar.

   Aquelas palavras soavam como a mais bonita música, como a mais bem orquestrada melodia. Era tudo tão inacreditável!
   Ele arrumou as coisas para o piquenique e nós comemos e conversamos durante toda a tarde.
   Ficamos juntos, abraçados e eu poderia ficar ali o resto de minha vida sem problema algum.
   O Sol estava se pondo quando ele começou a me encarar. Eu realmente não sabia o que fazer quando tinha aqueles olhos me fitando. Ficava desconcertado, bobo ao sentir aquele olhar sobre mim, e naqueles momentos eu só tinha um desejo, e ele foi atendido. Ele me beijou, ali, naquela montanha, num por do Sol de sábado do dia 22 de Agosto.
Foi o melhor dia da minha vida... Não queria que acabasse nunca.

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