Novo mundo

1.6K 68 17
                                    

Zaac:

Acordei aos poucos sentindo o fedor de meu quarto se alastrando para dentro de minhas narinas. Suspirei profundamente, tentando ignorar aquele odor, mas foi quase impossível, uma ora que haviam duas crianças praticamente morando ali e a limpeza não era feita a mais de um mês.

Um grito agudo me fez acordar completamente, me assustando ao mesmo tempo. — Pirralhos, se levantem! — era minha mãe.

Os passos pesados de seu salto batiam contra a madeira velha do piso, que era mais como um aviso de que precisava chamar ajuda.

Com um salto saí da cama, olhando ao redor temeroso. Os passos cada vez mais próximos colaborava sutilmente para minha ansiedade. Respirei fundo e olhei para a beliche, vendo que minha irmã Anaís ainda tinha um sono profundo a tomando.

— Anaís, levante-se. A mamãe está vindo — disse, simplesmente, cutucando a garota dorminhoca debaixo de seus lençois sujos.

A garotinha apenas respondeu com um som baixinho, reclamando de tê-la acordado, mas logo estava ao meu lado, segurando minha mão firmemente enquanto escondia-se atrás de mim.

Mamãe adentrou o quarto com o rosto ardendo em chamas. As mãos cerradas mostravam apenas que ela provavelmente me bateria, mas eu não tinha mais todo aquele pavor de antes. Talvez por estar acostumado... ou simplesmente conformado.

A mulher me deu um tapa no rosto, tal ato que eu apenas ignorei. Anaís segurou desta vez na blusa de meu pijama, já coberto por manchas de sangue, se escondendo cada vez mais.

Então mamãe pegou em meus cabelos num ato brusco e começou a me puxar fortemente. Mesmo eu gritando para que a mesma parasse, se quer adiantava algo. Ela descia as escadas com os dedos mergulhados em meus fios, os maltratando cada vez que eu me negava a dar mais um passo.

Ao chegar a cozinha, ela largou-me e segurou no pulso de Anaís, que imediatamente começou a chorar em desespero, completamente assustada.

Embora eu quisesse ajudar, eu não poderia. Minha rotina era sempre a mesma. Absolutamente nada mudava. Acordar, ser maltratado, tomar o café da manhã e ir pra escola, voltar, comer e dormir.

Mamãe então empurrou minha irmãzinha, fazendo a mesma cair no chão aos prantos. As lágrimas grossas e rápidas desenhando cautelosamente sua bochecha rosada. A mulher de cabelos negros que olhou com desprezo e seguiu para a geladeira, de onde retirou um pote de manteiga de amendoim. Mamãe fez dois sanduiches pequenos e nos entregou e, em menos de um dez minutos, já estávamos eu e Anaís de mãos dadas nos encaminhando para o ponto de ônibus.

Em minutos o veículo amarelo freou em nossa frente. Puxei minha irmã para subir no automóvel e então dei um sorriso amarelo para o motorista, que não retribuiu.

Dois bancos estavam disponiveis ao lado de minha única e melhor amiga Tina. Os olhos castanhos dela demonstravam preocupação e pena, coisa que nunca gostei que sentissem de mim. Embora até eu mesmo ficava com dó da vida que eu levava.

Allan, o garoto que ficava sempre me humilhando apareceu. Os punhos fechados e o sorriso horripilante fazendo parte sempre de sua expressão. Soltei um suspiro longo, ao sentir um chute, não tão forte assim, em meu joelho.

— E aí, fracotinho — o garoto começou, zombando de mim.

Fechei minhas mãos em punhos e abaixei minha cabeça, tentando controlar minha respiração.

— Dá o fora daqui, Allan! — dessa vez ouvi Tina gritar, se levantando e empurrando o garoto magricela.

Antes que algo a mais ocorresse ali, o ônibus parou e então, em um tumulto, todos descemos as pressas. Minha mão sempre presa aos dedos pequenos de Anaís.

O Incrivel Mundo de Gumball - A VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora