1 - I

3 2 0
                                    

                                                     

E os guardas simplesmente cortaram as cordas que estavam amarradas envolta de seus pulsos e os chutaram – literalmente falando – para fora do castelo.

- Ei! – Gritou o cavaleiro que batia em sua túnica para tirar o excesso de poeira – Eu quero minha espada e minha armadura de volta!

E elas foram jogadas pela última frecha do portão prestes a se fechar.

Albert teve de correr para amparar as peças de sua única armadura e sua também única espada antes que elas caíssem em qualquer um dos dois profundos lagos que se localizavam em ambos os lados da estrada.

- Rápido, Sam! Se o aço cair nessa água vai ser o seu fim!

O escudeiro de pernas curtas, que ainda estava por tirar a poeira de sua túnica, apressou-se, ainda que desequilibrado, em cumprir a ordem que lhe foi dada.

Mesmo sendo pequeno, seu escudeiro conseguiu com sucesso pegar as peças das luvas, peitoral, uma das ombreiras e parte da perna esquerda. Já Albert teve sucesso em recuperar o resto da armadura, com exceção de seu capacete. Os guardas do castelo o haviam jogado de propósito já na direção de um dos lagos. Facilmente morreria caso tentasse recuperá-lo. Assim, seu próximo objetivo foi sua espada, que estava à beira de tocar o lago esquerdo.

Quando se lançou sobre a estrada, na direção da ribanceira, tudo que o impediu de cair no lago junto com a sua espada foi a adaga de luz que surgiu em sua mão direita e fincou-a no solo. Com o canto do olho, Albert viu onde sua espada estava: presa junto a uma pequena pedra, que era tudo que a impedia de ir parar nas profundezas de um dos lagos que dava nomes ao castelo de Lagos de Safira. Seu braço não alcançava o cabo da espada. Da ponta de seus dedos esquerdos vários fios dourados brotaram e se enrolaram por volta da espada. Eles então começaram a recuar até que a bainha estivesse de volta em posse de Sir Albert.

- Bem... as coisas saíram melhor do que esperado, não concorda comigo, Sam? – Perguntou o cavaleiro ao seu escudeiro enquanto arrumava em sua cintura o cinto de armas.

O pequeno, que não tinha mais do que 12 ou 13 anos, três anos a mais do que quando Albert o encontrara nas proximidades de Dente Marrom e decidira por adotá-lo como seu escudeiro, vinha em sua direção com o rosto inteiramente coberto pelas peças da armadura.

- Se o que Sir entende como melhor é o fato de termos sido expulsos novamente de um castelo, só que agora de um importante senhor, sim, então estamos melhorando. – Respondeu Sam sem qualquer emoção. Ele pôs no chão as peças que carregava no mesmo lugar onde o cavaleiro tinha posto as que recuperara.

Albert o olhou com uma expressão de desdém.

- Você é tão otimista...

- Aprendi com o melhor! – Falou Max, que pelo tom e como moveu o seu cabelo castanho que a tempos não via um barbeiro, deixou claro a quem se referia.

O cavaleiro bufou e com apenas um movimento de dedo, jogou no chão novamente. O garoto soltou vários xingamentos e dirigiu a Albert um sinal obsceno que fez com uma das mãos.

Albert soltou um riso ao se abaixar diante de Sam.

- Se algum dia quiser realmente ser armado cavaleiro, meu jovem escudeiro, terá que aprender a controlar essa língua – Falou, dando um peteleco na testa de Sam – Agora, trate de se levantar e prepare os cavalos. Quero estar na vila antes do anoitecer.

Já mais uma vez levantado, Sam olhava para o cavaleiro com ambos os olhos arregalados.

- Eu não sei se o senhor percebeu, mas nossos cavalos e nosso dinheiro não estiveram inclusos entre as coisas jogadas para fora do castelo!

Sam ficou ainda mais surpreso quando viu Albert tirar de dentro de sua casaca branca um saco de tamanho mediano do qual emanava um som metálico com o menor movimento.

- Achou mesmo que sairíamos daqui sem qualquer tipo de recompensa? Claro que não!

- Por favor, não diga que roubou isso de Lorde Gedrick?!

O cavaleiro simplesmente deu de ombros.

- Ele não irá notar a falta de algumas moedas de ouro entre as várias pilhas que possui. Agora, em relação aos cavalos... – foi nesse instante que ouviram o barulho de altos relinchos vindo do bosque mais adiante - ... vamos simplesmente dizer que não há nada que um pouco de ouro não resolva. Agora, vamos antes que Sua Senhoria mude de ideia sobre a decisão que tomou.

Contos perdidos de Delwark - O Cavaleiro e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora