Vandalismo

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— Gosto de números. — diz minha mãe à mesa. Estávamos tomando café da manhã. Ela, meu pai e meu irmão. — Não é a toa que sou professora de matemática, não é, Namjoon? — um sorriso irônico se firma e seu rosto.
— Bom... Eu particularmente não sou muito fã de números. Não sou um gênio da matemática como você, mãe. — digo, tentando desviar do sermão que viria a seguir.
Minha mãe sorri com a cabeça abaixada. Ela batia as pontas dos dedos na mesa. Toda vez que ela o fazia, sabia que ela daria um sermão, ou em mim, ou no meu irmão, ou no meu pai. Levando em conta que ela começou a conversa aleatoriamente falando sobre números, falou o meu nome, e meu rosto estava coberto de hematomas, com certeza o sermão que estava por vir era pra mim.
— Bom... Eu adoro números... Mas não gosto dos seus. — diz ela.
— Me sinto ofendido. — digo, fazendo beicinho.
— Três... Três processos contra você desde o ano passado pra cá. Sete... Sete foram as vezes que tive que te buscar na delegacia. Nove... Nove foram as vezes que tive que ir até o seu colégio por reclamações de agressão. Dois... Dois foram os colégios dos quais você foi expulso! Seis... Seis hematomas diferentes no seu rosto! E agora... Três...
— Três? — pergunto quando ela faz uma pausa.
Minha mãe respira fundo e solta o ar pela boca, suspirando em decepção.
— Três meses. Três meses é o que vou lhe dar para tentar mudar. Tentar apagar tudo que você já fez. Todas as raivas que você já me fez. O que acha?
— Bom, não sou nenhum especialista, mas levando em conta que você sabe exatamente quantas vezes eu fiz tudo isso, com toda certeza, você é uma pessoa muito rancorosa. Isso só faz mal à você mesma, sabia?
— Você me faz mal, Namjoon. Você. — ela diz com olhos cansados, direcionados para mim. Senti o peso da culpa. Não gostava de ver a minha mãe daquele jeito. — Quer dizer... Esse Namjoon me faz mal. O Namjoon que arruma briga com qualquer um que lhe olhe torto e que suja o nome da nossa família. Como você acha que eu me sinto sendo uma professora, uma educadora, tendo um filho marginal?
"Marginal"... Quando essa palavra saía da boca de outras pessoas, eu tacava o foda-se. Mas ela saiu da boca da minha mãe. Minha mãe achava que eu era um marginal.
— Mãe... — foi a única coisa que consegui dizer.
Lágrimas começaram a brotar dos olhos dela.
— O que aconteceu com você? — ela desaba. — Você é tão inteligente, Namjoon. Seu professor me disse que você escreveu uma redação enorme sobre Thomas Edson e suas invenções. Ele disse que a redação estava perfeita. Que você teria levado um dez se...
— Espera... Se a redação estava perfeita, por que ele não levou um dez? — se intrometeu meu pai.
— Porque o professor dava aula de biologia e a redação era para ser sobre câncer. — diz a minha mãe de uma forma tão triste que não pude evitar soltar uma risada. Assim que ela me olha com seriedade, me forço a parar de rir e pigarreio. — Ah. Namjoon... Você tem tanto potencial... O que está fazendo, filho? É por causa dela?
Olho para minha mãe com o rosto franzido. Ela. Tinha um bom tempo que não pensava nela. Catarina. Foi uma das pessoas mais importantes na minha vida. Foi com ela que descobri como é estar apaixonado. Descobri como é pensar em uma pessoa vinte e quatro horas por dia. Querer sexo à todo momento.

Eu amava Catarina Ley. Amava mais do que à mim mesmo. Até que um dia, ela me deixou da pior maneira possível: Disse que não sentia o que eu sentia por ela, não na mesma intensidade. Disse que não poderia mais continuar com "aquilo". Apagou meu número, me excluiu e parou de me seguir em suas redes sociais, me apagou da sua vida... E o pior de tudo, é que estudávamos mesma escola. Eu não aguentava mais encontrá-la nos corredores, com outros caras, vendo um ou outro passando a mão em sua cintura. A cintura na qual antes eu segurava. E ela sempre olhava para mim, me provocando, como se dissesse: "Você quer? Sinto muito por você ".

Eu a odiei. A odiei por me fazer ainda gostar dela. Havia noites nas quais eu sonhava com minhas mãos enrolando seus cabelos louro avermelhados. Sonhava com seus gemidos e com sua voz me dizendo: "Eu te amo, Kim Namjoon". Acordava ofegante, e excitado. Passei semanas sem tirá-la da minha cabeça. Quando disse que ela me deixou da pior forma possível, foi porque ela me deixou sabendo que eu ainda a amava e que ainda a amaria. Fez isso pra ter o prazer de me ver mal ao olhar para o seu rosto quando nos encontrássemos pelos corredores do colégio. Queria que ela tivesse me traído, que tivesse me feito algo para odiá-la. Foi aí que decidi fazer o que fiz.
Foi em uma quarta feira. Sabia que ela teria aula de geografia depois do intervalo. Fui até a sala de geografia e colei um cartaz no mapa. Durante a aula, assim que o professor esticou o mapa, todos puderam ler: "Ley, acho bom que você goste de animais. Afinal, você é uma vaca". Mais tarde, quando ela abriu seu armário, havia um gambá dentro dele com uma etiqueta em seu pescoço na qual estava escrito: "Pensei em você quando capturei. É tão podre quanto você ". Eu assumi que fui eu. Eu queria que ela soubesse. Foi uma atitude infantil? Talvez. Poderia ter rendido um processo? Poderia. Fui expulso do colégio? Com toda certeza. Mas eu queria ter sido expulso. Queria não ter que ver mais a cara de Catarina Ley todos os dias até o dia em que eu me formasse. E eu saí pela porta da frente daquela escola, de queixo erguido, tendo a certeza de que nunca mais iria ouvir falar dela. Mas cá estava minha mãe, com os nervos à flor da pele, culpando o que aconteceu à um ano e meio pelo meu comportamento recente.
— Não é por causa dela. — afirmo.
— Tudo começou por causa dela. Depois que ela terminou com você, você começou a ficar assim. Mas as coisas vão mudar. Nós vamos nos mudar. — ela se levanta, pegando o prato que estava na sua frente, e o leva para a pia.
— O que? — pergunta meu irmão. — Não vou me mudar porque o meu irmão é um marginal.
— Epa! Olha essa boca, pirralho! — jogo um pedaço de batata doce em Taehyung.
— Não me chama assim! Você só é um ano e cinco meses mais velho!
— Kim Namjoon! Kim Taehyung! Escutem a mãe de vocês! — grita o nosso pai, batendo na mesa com a palma da mão.
Taehyung e eu cruzamos as pernas sincronizadamente, e colocamos a mão no queixo.
— Sim, mamãe. — dizemos os dois ao mesmo tempo.
Minha mãe revira os olhos.
— Não estamos nos mudando por causa do Namjoon. Estamos nos mudando por conta do emprego do seu pai. O transferiram para a capital e precisamos estar lá até o fim do mês. É uma boa oportunidade pra você, Namjoon. Você vai concluir o terceiro ano de forma excepcional. Terá boas notas e vai entrar em uma boa faculdade, caso contrário... Eu e seu pai lhe deixaremos por conta própria.
Tiro a mão do queixo, ficando boquiaberto. Nunca pensei que minha mãe me faria uma ameaça daquelas. Ela anda até a porta da cozinha e joga um beijo para mim.
— O pratos são seus. — diz ela, antes de sumir para fora da cozinha.
Olho para Taehyung. Sempre conseguia ameaçá-lo para que ele lavasse os pratos por mim. Ele tira a mão do queixo e me olha com os lábios entreabertos e olhos arregalados. Uma curva nos meus lábios se forma bem devagar, então Taehyung se levanta e sai correndo da cozinha.
— Kim Taehyung! — grito pelo garoto, e me levanto.
— Pai! Eu derrubei iogurte no seu carro! — grita Tae, passando pela porta.
— Como é que é? — pergunta papai, que estava entretido dando um nó na sua gravata. — KIM TAEHYUNG!
— RÁ! NÃO TEM COMO VOCÊ ME AMEAÇAR, KIM NAMJOON! NÃO MAIS! — Ele diz, aparecendo na porta da cozinha.
— Pois é. Você não vai lavar os pratos, mas eu vou descontar o dinheiro da lavagem do carro da sua mesada. — meu pai sorri para Taehyung, então passa por ele e lhe dá tapinhas amigáveis nas costas.
Taehyung observa o meu pai seguir pela sala, então olha para mim.
— Ainda tem algo que eu posso usar contra você. — digo para ele.

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⏰ Last updated: Jul 31, 2017 ⏰

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Os Sete Pecados Capitais - IraWhere stories live. Discover now