Divindade masculina ioruba, figura que se repete em todas as formas mais conhecidas da
mitologia universal. Ogum é o arquétipo do guerreiro. Bastante cultuado no Brasil, especialmente
por ser associado à luta, à conquista, é a figura do astral que, depois de Exu, está mais próxima
dos seres humanos. É sincretizado com São Jorge ou com Santo Antônio, tradicionais guerreiros
dos mitos católicos, também lutadores, destemidos e cheios de iniciativa.
A relação de Ogum com os militares tanto vem do sincretismo realizado com São Jorge,
sempre associado às forças armadas, como da sua figura de comandante supremo ioruba. Dizem
as lendas que se alguém, em meio a uma batalha, repetir determinadas palavras (que são do
conhecimento apenas dos iniciados), Ogum aparece imediatamente em socorro daquele que o
evocou. Porém, elas (as palavras) não podem ser usadas em outras circunstâncias, pois, tendo
excitado a fúria por sangue do Orixá, detonaram um processo violento e incontrolável; se não
encontrar inimigos diante de si após ter sido evocado, Ogum se lançará imediatamente contra
quem o chamou.
É orixá das contendas, deus da guerra. Seu nome, traduzido para o português, significa
luta, batalha, briga. É filho de Iemanjá e irmão mais velho de Exu e Oxossi. Por este último nutre
um enorme sentimento, um amor de irmão verdadeiro, na verdade foi Ogum quem deu as armas
de caça à Oxossi. O sangue que corre no nosso corpo é regido por Ogum. Considerado como um
orixá impiedoso e cruel, temível guerreiro que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos, ele
até pode passar esta imagem, mas também sabe ser dócil e amável. É a vida em sua plenitude.
A violência e a energia, porém não explicam Ogum totalmente. Ele não é o tipo austero,
embora sério e dramático, nunca contidamente grave. Quando irado, é implacável,
apaixonadamente destruidor e vingativo; quando apaixonado, sua sensualidade não se contenta
em esperar nem aceita a rejeição. Ogum sempre ataca pela frente, de peito aberto, como o
clássico guerreiro.
Ogum não era, segundo as lendas, figura que se preocupasse com a administração do reino
de seu pai, Odudua; ele não gostava de ficar quieto no palácio, dava voltas sem conseguir ficar
parado, arrumava romances com todas as moças da região e brigas com seus namorados.
Não se interessava pelo exercício do poder já conquistado, por que fosse a independência a
ele garantida nessa função pelo próprio pai, mas sim pela luta.
Ogum, portanto, é aquele que gosta de iniciar as conquistas mas não sente prazer em
descansar sobre os resultados delas, ao mesmo tempo é figura imparcial, com a capacidade de
calmamente exercer (executar) a justiça ditada por Xangô. É muito mais paixão do que razão: aos
amigos, tudo, inclusive o doloroso perdão: aos inimigos, a cólera mais implacável, a sanha
destruidora mais forte.
Ogum é o deus do ferro, a divindade que brande a espada e forja o ferro, transformando-o
no instrumento de luta. Assim seu poder vai-se expandindo para além da luta, sendo o padroeiro
de todos os que manejam ferramentas: ferreiros, barbeiros, militares, soldados, ferreiros,
trabalhadores, agricultores e, hoje em dia, mecânicos, motoristas de caminhões e maquinistas de
trem. É, por extensão o Orixá que cuida dos conhecimentos práticos, sendo o patrono da
tecnologia. Do conhecimento da guerra para o da prática: tal conexão continua válida para nós,
pois também na sociedade ocidental a maior parte das inovações tecnológicas vem justamente das
pesquisas armamentistas, sendo posteriormente incorporada à produção de objetos de consumo
civil, o que é particularmente notável na industria automobilística, de computação e da aviação.
Assim, Ogum não é apenas o que abre as picadas na matas e derrota os exércitos inimigos;
é também aquele que abre os caminhos para a implantação de uma estrada de ferro, instala uma
fábrica numa área não industrializada, promove o desenvolvimento de um novo meio de
transporte, luta não só contra o homem, mas também contra o desconhecido.
É pois, o símbolo do trabalho, da atividade criadora do homem sobre a natureza, da
produção e da expansão, da busca de novas fronteiras, de esmagamento de qualquer força que se
oponha à sua própria expansão.
É fácil, nesse sentido, entender a popularidade de Ogum: em primeiro lugar, o negro
reprimido, longe de sua terra, de seu papel social tradicional, não tinha mais ninguém para apelar,
senão para os dois deuses que efetivamente o defendiam: Exu (a magia) e Ogum (a guerra); Em
segundo lugar, além da ajuda que pode prestar em qualquer luta, Ogum é o representante no
panteão africano não só do conquistador mas também do trabalhador manual, do operário que
transforma a matéria-prima em produto acabado: ele é a própria apologia do ofício, do
conhecimento de qualquer tecnologia com algum objetivo produtivo, do trabalhador, em geral, na
sua luta contra as matérias inertes a serem modificadas .
É o dono do Obé (faca) por isso nas oferendas rituais vem logo após Exú porque sem as
facas que lhe pertencem não seriam possíveis os sacrifícios. Ogum é o dono das estradas de ferro
e dos caminhos. Protege também as portas de entrada das casas e templos (Um símbolo de Ogum
sempre visível é o màrìwò (mariô) - folhas do dendezeiro (igi öpë) desfiadas, que são colocadas
sobre as portas das casas de candomblé como símbolo de sua proteção).
Ogum também é considerado o Senhor dos caminhos. Ele protege as pessoas em locais
perigosos, dominando a rua com o auxílio de Exú. Se Exú é dono das encruzilhadas, assumindo a
responsabilidade do tráfego, de determinar o que pode e o que não pode passar, Ogum é o dono
dos caminhos em si, das ligações que se estabelecem entre os diferentes locais.
Uma frase muito dita no Candomblé, e que agrada muito Ogum, é a seguinte: “Bi omodé
bá da ilè, Kí o má se da Ògún”. (Uma pessoa pode trair tudo na Terra Só não deve trair Ogum).
Ogum foi casado com IANSÃ que o abandonou para seguir XANGÔ. Casou-se também
com OXUM, mas vive só, batalhando pelas estradas e abrindo caminhos.
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História da Umbanda
SpiritualUm pequeno livro sobre as lendas dos orixas e explicações sobre a umbanda. Axé a todos