Capítulo 1

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Tal como começou de repente, a dor do meu corpo desapareceu completamente. Já não sentia-o arder, estava normal. Morri. Pelo menos a dor passou. Sentia o corpo, mexi os dedos. Abri os olhos devagar. Uma figura pairava sobre mim, um anjo. Agora tenho a certeza que morri e que estou no Céu. Sorriu mostrando a sua dentadura branquíssima. Sentei-me lentamente. A mulher era a criatura mais linda que eu já tinha visto. Podia compara-la a uma modelo, mas seria um insulto a ela. Tinha umas pernas longas e vestia um vestido curto e justo ao corpo. Os cabelos loiros longos ondulados caíam sobre as suas costas e tinha os olhos cor violeta. É assim que somos no Céu? Muito mais linda que alguma modelo da Victoria's Secret seria! A sua voz saiu num tom angelical como eu esperava.

-Olá. Sou a Heidi.

-Vou ter que fazer algum teste? - Perguntei e assustei-me com o som da minha voz. Saiu num tom parecido como o de Heidi, mas nunca tão angelical como o dela. - Para saber se vou para o Céu ou o Inferno.

-Não morreste. - Ela respondeu calma. - Pelo menos não dessa maneira.

-Não estou a perceber.

-Heidi. - Disse uma voz aguda.

Olhei para a figura, parecia uma criança, pequena, mas observando a sua cara, confirmava um rosto demasiado duro para uma criança, mas mesmo assim belo. Olhos grandes e lábios carnudos, os cabelos loiros estavam amarrados num coque mais que perfeito, era incapaz de ter alguma habilidade para fazer daquela forma. O seu andar era firme e quando voltou a falar, a sua voz fez-me estremecer.

-O teu trabalho aqui está feito. O grupo turístico já chegou, leva-os para a sala oeste, deixa alguns para ela. - Não gesticulou, mas sei que estava a falar de mim.

Para quê que eu quereria um grupo turístico, querem-me transformar numa guia turística? Heidi estava numa posição inferior do que quando estávamos sós, o que faz da pequena uma pessoa intimidante.

-Sim Jane.

Saiu da sala num passo elegante, fazendo que ainda me sentisse deslumbrada por tamanha beleza.

-Anda comigo. - Disse-me.

-Onde estou?

-Veste isto. - Atirou-me uma peça de roupa embrulhada, era um manto comprido cinza.

Obedeci-lhe como se ele me oferecesse uma garrafa de água depois de passar um dia inteiro no deserto.

-Segue-me.

Começou a caminhar à minha frente a um passo acelerado. Estranhamente conseguia acompanhá-la, mas era medrosa o suficiente para colocar-me ao lado ou à sua frente. O sítio era escuro e não percebo como conseguia ver tão nitidamente neste túnel escuro. O ar cheirava a humidade e conseguia ouvir vozes vindos do meu lado direito, seria o grupo de Heidi? Intrigo-me como os meus sentidos estejam tão apurados. Por momentos os únicos sons eram os nossos passos. O túnel descia cada vez mais e eu tentava controlar a minha respiração acelerada. Estava nervosa com o facto de estar em nenhures e não saber nada. Gostaria de perguntar certas coisas, mas tinha medo de fazer qualquer que fosse a questão a Jane. O túnel descia cada vez mais, como se estivéssemos numa gruta que eu uma vez visitei na escola e que tinha ficado sem ar por estar tão fundo. Nesse dia o meu coração estava acelerado e só acalmou quando vi a cor do céu. Abafei um grito. Não sentia os batimentos do meu coração, levei a mão ao peito e não sentia nada. Jane nem se virou para trás quando parei. Continuei a segui-la ainda em pânico, não queria ficar sozinha naqueles túneis nojentos. Ao fim do túnel havia uma grade com barras de ferro enferrujadas, as barras era da largura de um braço humano mediano. Havia uma porta aberta com barras mais finas e entrelaçadas, segui o exemplo de Jane baixando-me. Entramos numa sala de pedra, o espaço era mais iluminado do que o túnel. Ouvi atrás de mim a grade fechar-se. Do outro lado da sala tinha uma porta de madeira e baixa. Jane abriu-a, deixando-me passar em primeiro, fechou e passou à minha frente. O corredor que nos encontrávamos tinha as paredes pintadas de branco-pérola. O chão era alcatifado debaixo das minhas sapatilhas. Fomos até a um elevador. Assustei-me com a cor escarlate dos olhos de Jane. O corpo tremia e ela tinha um sorriso que me fazia mais trémula ainda. O elevador parou e saímos para uma receção. Era tudo muito elegante, havia quadros pendurados pelas paredes que ilustravam paisagens toscanas. Um balcão de mogno, alto e polido encontrava-se no meio da sala. A mulher que outrora estava sentada levantou-se ao ver Jane, tinha a pele morena e olhos verdes.

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