Aquele era o oitavo dia desde que Sam Pavonne se mudou para o apartamento acima do meu, e quando percebi que os barulhos vindos de lá não parariam se eu não fizesse alguma coisa, com certeza eu ficaria louca.
Decidi sair de Nova Iorque e morar em Santa Bárbara justamente para ter paz e conseguir terminar o meu livro sem muitas distrações. Deixei o meu emprego, amigos e família para me dedicar cem por cento a isso e, sinceramente, conhecer os meus vizinhos era a última coisa que eu precisava naquele momento.
Era o começo da tarde e o final do capítulo 23 que eu estava doida para terminar. Minha sala/cozinha era pequena, mas confortável; o banheiro era ainda menor e o quarto nem se fala. Lembrava o meu primeiro apartamento, em Boston, quando comecei a faculdade. O sofá rangia e a tv estava com defeito, as paredes estavam pintadas de uma cor horrível de verde musgo, que eu estava estritamente proibida de mudar. Porém, era melhor do que continuar morando com os meus pais. Mas o que realmente me incomodava era o barulho que o vizinho de cima fazia.
Eu realmente entendo que ele acabou de se mudar e que precisa organizar muita coisa, mas já são oito dias desse inferno! Com apenas dois eu consegui me acomodar perfeitamente sem mudar tudo de lugar, embora eu tenha trazido poucas coisas e os móveis já estivessem aqui quando me mudei.
Qual é o problema desse cara? Será que ele não tem o mínimo de bom senso para desconfiar que isso me incomoda?
Deixei Frank no chão e fui até lá. Decidi ser razoável e não dar uma de vizinha reclamona. A primeira impressão é a que fica e a do Sam já não é a das melhores comigo.
- Olá! - bati na porta, cruzei os braços e esperei. Não pude deixar de me lembrar do dia que ele se mudou. Foi uma bagunça, havia pessoas subindo e descendo o tempo todo e uma mulher discutindo com ele a plenos pulmões. Foi assim que eu descobri o seu nome e do quanto uma namorada indignada pode ser histérica - Ei! Olha, eu sou escritora e...
- Vá embora!
Recuei, assustada.
- Olha só - alterei o tom de voz, esquecendo de ser a boa vizinha -, eu vim aqui para pedir que você pare de fazer tanto barulho, eu preciso trabalhar!
- Eu já falei para ir embora! - ele retrucou sem abrir a porta - Se me incomodar outra vez eu vou chamar a polícia!
Suspirei ruidosamente e recuei outra vez. Brigar não é a solução. Ainda mais com pessoas malucas.
- Só tente, por favor. É sério. Eu preciso trabalhar.
Dei meia volta e desci as escadas.
Praguejei o caminho inteiro até voltar ao sofá. Este é o meu segundo livro, uma continuação do primeiro que escrevi há quase um ano. Tenho prazos e muita coisa para fazer até o lançamento, por isso, quando eu mal me sentei e o barulho recomeçou, decidi ser extrema e acabar com aquilo antes que passe do limite.
Subi novamente, tropeçando no último degrau, e bati na porta com o punho fechado.
- Qual é o seu problema, babaca!? Tem ideia do quanto é irritante ouvir você lá de baixo? São oito dias aturando esse inferno! - soquei a porta outra vez - Se isso não acabar eu vou reclamar com o locador!
Quando ouvi o trinco da porta se abrindo e alguém resmungando do outro lado, tratei de me afastar e cruzar os braços. Assim que Sam apareceu, eu fiquei sem palavras.
- Certo, eu acho que já sabe qual é o meu problema - ele cuspiu - Mas a menos que você seja Jesus Cristo e faça um milagre, ninguém pode me tirar dessa cadeira de rodas por um bom tempo, então me desculpe se o barulho que as rodas fazem no assoalho te incomodam tanto.
- Ah, meu Deus.... - gaguejei - Eu não... eu não sabia. Me desculpe. Pensei que fossem os moveis e...
- Não me interessa - ele me cortou - Quem é você?
Franzi o cenho, mas respondi.
- Sou, Alissa. Sua vizinha do andar de debaixo. Olha, é serio. Eu não sabia.
Ele me encarou por um instante e depois recuou com a cadeira, o que fez me perguntar como ele conseguiu subir até aqui.
- Apenas me deixe em paz - e fechou a porta.
Nossa. Que grosso.
Voltei a descer as escadas e depois daquele dia eu não voltei a perturba-lo por causa do barulho, o que não significa que ele tenha parado. Maravilha.
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Vizinho de Cima
RomanceQuando Alissa resolveu se mudar para Santa Bárbara, tudo o que ela queria era um lugar calmo para terminar de escrever o seu livro e relaxar, mas a mudança de um vizinho incômodo para o apartamento acima do seu pode estragar o tudo o que ela planejo...