Prólogo

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Te Vi No Mundo, ontem, às 17:22 em Brasília.
"Você tem cabelos que parecem uma cascata de chocolate derretido e um sorriso estonteante, mesmo usando um uniforme da Marisa e sentada no ônibus após o que deve ter sido uma longa jornada de trabalho. Te vejo todos os dias, mas tenho vergonha de puxar assunto."

Te Vi No Mundo, anteontem, às 09:04 em Lisboa.
"Acho que tomaste um autocarro para o aeroporto Humberto Delgado, mas qualquer outro destino poderia ser possível, já que me distraí olhando para os lindos olhos amendoados que haviam por trás dos teus óculos quadrados pretos e pensando no que havia acontecido para que estivesses com uma expressão tão sisuda. De toda forma, sua mala de rodinhas estampada com pequenos Yodas é inconfundível."

Te Vi No Mundo, 29/07/2017, às 11:47, em Pouso Alegre.
"Você faz um suco de laranja e um pão na chapa todos os dias para mim de manhã e mal consigo dizer um obrigada. Seu sorriso é o que anda fazendo meu dia valer a pena."

Ele se recostou no assento desconfortável e duro do aeroporto de Guarulhos, pensando no quão boa era essa ideia e permitindo que seus olhos vagassem pelos guichês das companhias aéreas, ainda fechados e apagados como feras adormecidas. Quantas oportunidades no mundo já não foram e estão sendo perdidas por um esbarrão e um sorriso simpático que não foram além disso? Quantas vezes ele próprio não observou alguém caminhando pela calçada e desejou conhecer essa pessoa, fosse pelo seu estilo ou pelo livro que carregava nas mãos? Havia aquela moça de sorriso bonito que parecia uma empresária de sucesso e passava todos os dias em frente ao seu prédio, bem quando estava saindo para enfrentar São Paulo por mais um dia, que desapareceu de um mês para outro sem deixar vestígios. Houve aquele cara que se parecia muito com o seu melhor amigo de infância que frequentava o mesmo restaurante por quilo, e que, uma vez, se sentou na sua mesa por engano. Também houve aquela menina que não tinha nada de especial, na verdade, mas pareceu tão bonita por dentro e por fora quando cedeu seu assento no metrô a um senhor idoso cheio de sacolas nas mãos que o fez desejar secretamente que ela fizesse parte da sua vida.

Parece injusto perder um amigo ou um amor entre 7,6 bilhões de pessoas. Sete vírgula seis bilhões de pessoas, e cada uma com sua própria visão e experiência do que é existir. Ele mesmo já havia entrelaçado seus caminhos com tantas pessoas, mas estas pareciam compor um grupo ínfimo, se comparado em número ao grupo composto pelas pessoas que sequer conhecia a existência. Quem haveria de pensar nessa réstia de esperança? Era como uma grande página de anúncios de jornal. Ao invés de enunciar trivialidades materiais, todavia, tornava ocasionalidades e coincidências agridoces em possibilidades reais.

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