➝ Capítulo Único

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Essa história não é como as outras.

Essa história não começa com Era uma vez... Essa história não é relatada da forma que você está acostumado. Essa história não tem príncipes que salvam a mocinha do dragão malvado. Essa história não tem bailes maravilhosos onde a menina bonita conhece o amor de sua vida. Essa história não contém uma trama justa para a protagonista.

Essa história, acima de tudo, não tem um final feliz.

Muito pelo contrário, ela, na verdade, possui poucos e quase impercetíveis momentos felizes.

Não continue lendo se não gosta de desgraça, sofrimento e mortes. Ainda dá tempo de abrir um conto mais divertido e cheio de felicidade.

Bom, se ainda está aqui, vejo que não irá desistir.

Não se arrependa durante a leitura. Eu avisei.

Toda a infelicidade que está prestes a presenciar, começa num reino europeu.

Por volta de um ano depois que a princesa Ariel, filha de Tritão, o rei dos mares, se casou com o príncipe Eric, este último foi coroado o rei, devido ao falecimento de seu antecessor.

Quando se tornou o rei, Eric mudou completamente e revelou quem era de verdade, mostrando-se violento, agressivo, viciado em jogos de aposta, cigarro e bebidas.

No início, eram apenas saídas à noite pelos fundos do palácio, e na manhã seguinte, alguns xingamentos e grunhidos, mas nada que alguns atos de carinho recheados de esperança não resolvessem.

Com o tempo, Eric foi ficando mais difícil de lidar. Chegava, sempre pelos fundos do castelo, esbarrando em tudo e praguejando todos que encontrava no caminho.

Uma certa noite, Ariel tentara arriscar tocar o ombro do marido, quando ele estava de costas para ela. Ele a estapeou pela primeira vez com tanta força que a princesa foi parar do outro lado do quarto, com a bochecha inchada, vermelha e ardente.

Aquela foi a primeira de inúmeras agressões que ela sofrera.

Era oficial. Grávida. Ariel estava grávida.

Ela mal podia se conter de tamanha sua felicidade. Iria, finalmente, ter um filho. Sonhara com aquilo a vida basicamente inteira.

Deviam ser por volta das onze da noite, quando a ruiva saiu do de seu quarto unitário e foi até o do rei, mal se contendo para ver a reação de Eric ao saber daquela notícia.

Aos tropeços, ela correu em direção ao corredor dos aposentos reais. Abriu a porta, eufórica.

- Eric? - Ariel ficou olhando para os lados, procurando o marido no grande aposento reluzente. Ela olhou o relógio pendular que ficava posicionado ao lado da cama dossel. Meia noite.

Ariel soltou um suspiro decepcionado. Claro. Àquela hora, Eric deveria estar na parte de trás do castelo, jogando cartas, comendo petiscos e ingerindo bebidas com alto teor alcoólico junto a seus cupinchas.

Pensou um pouco, e logo fez uma expressão determinada.

Naquela noite, não iria ficar esperando. Naquela noite, ela mesma iria atrás de Eric, não aguardar, que ele voltasse, de braços cruzados.

Agarrou fortemente as saias pesadas do vestido cor creme que a cobria e rumou ao seu próprio aposento, apenas para vestir uma espécie de capa branca, que cobriria seu rosto e ainda lhe protegeria, de modo parcial, do frio.

Apertou mais ainda o tecido ao marchar, elegante, até os fundos do palácio.

Avistou a saída que se sucedia da cozinha palaciana e aumentou a velocidade das pernas. Sabia que era atrás daquela grossa porta de madeira que ele estava.

Ela Não Viveu Tão Feliz Para Sempre ➝ One-ShotOnde histórias criam vida. Descubra agora