Sidelines

Un

Cardiff soou como um sonho muito bom, porém o jogo arranca apenas lágrimas da pequena atriz. Quando é anunciado o fim da partida, a morena sabe que pode respirar aliviada. Por finalmente estar saindo daquele lugar que parece pequeno demais e por ter um passe livre para voltar a Turim o mais rápido possível.

Ela sabe que ele está muito irritado. Sabe porque tinha visto ele saindo do jogo, a expressão cansada e os xingamentos que ele deixou escapar. Naquela manhã, um dia após o fatídico jogo, ele também está no aeroporto com a própria família.

Porém, isso não impede Marchisio. Ele disca o número de Mirana, que atende assim que vê o nome do jogador.

— Me responda rápido, tu estás ocupada? — A ligação soa desesperada, a voz do homem concentrada na irritação presente em seu tom.

— Mais ou menos, Gianluigi está com nossos pais e certamente eles sentirão minha falta. — Responde Mirana, enrola o cabelo liso entre os dedos enquanto masca o chiclete. Os olhos da atriz fixos em sua família, procura qualquer vacilo para que eles não sintam sua falta, mas nada parece bom o suficiente.

Logo atrás de sua família, está a família que ela não gosta de ver. Claudio com o telefone na mão, Roberta, sua esposa, está com as crianças conversando e parece perguntar algo para o marido. Mirana sabe que ela está perguntando algo porque ouve a voz dela do outro lado da linha.

Nós vamos nos divorciar.

Essa frase é tão conhecida pela doce Mirana Benatti. Ela não sabe se deve acreditar ou seguir com sua vida como se nada acontecesse. Há um mês tinha dito para si mesma que não acreditaria mais naquilo, até ouvir um comentário relacionado à separação de Claudio e Roberta. Então, se até Gianluigi estava comentando com a família, aquilo poderia significar algo.

Mirana é a pessoa que mais acredita no amor, amante dos livros de romance e das histórias sobre príncipe encantado e felizes para sempre. O próprio conto de fadas infelizmente nem começou a ser escrito, já que às vezes ela pensa que está na parte aterrorizada da história. Seria ela considerada a bruxa má?

— Mirana? — Marchisio pergunta mais uma vez, sua voz quase soa alta o bastante para que sua mulher ouça.

— Eu não posso falar agora. Tu também não. Ficas com Roberta e os meninos, podes discar meu número depois.

Desliga. A voz fraca, sente-se tão boba por estar daquela maneira. O coração palpita de forma ridícula e os olhos estão cheios de lágrimas, Mira sabe que tem que engolir o choro, porém não sabe como fazê-lo.

Vai até o banheiro mais próximo para chorar e quando sua mãe a questiona sobre o rosto inchado, ela diz que é por causa do jogo. Ainda estava triste por causa do sonho não conquistado na Liga dos Campeões. Claudio vê a menina em estado vegetativo, quer poder dizer que tudo vai ficar bem e que aquilo irá se resolver logo, mas também não sabe como fazê-lo. Seu coração abriga um grande vazio que apenas três pessoas conseguem preencher: os dois filhos e Mirana. Saber que ele é o motivo da morena não estar serelepe como em qualquer outro momento, isso é tristeza maior que qualquer outra.

Nove anos de casamento. É isso que ele carrega nas costas e que parece extremamente insignificante quando os dois percebem o quanto sofrem.

Sim, Roberta também sofre pelo casamento que está no fundo do ralo. Mas eles mantêm o matrimônio pelos filhos, por ambos serem criados em famílias tradicionais que não veem outra maneira de cuidar das crianças. Já não dormem juntos, já não partilham nada além da antiga amizade que sempre tiveram.

Mas Roberta não sabe de Mirana, nem sonha em questionar a fidelidade do marido, pois acha isso algo altamente fora de cogitação.

Todos conhecem Mirana Benatti, não por ser uma aspirante a atriz, mas por ser prima de Gianluigi Buffon. É a queridinha dos jogadores por estar ali desde pequena, por ser uma torcedora fiel do Juventus. Claro que essa é a razão maior pelo qual não há cogitação alguma de alguém desconfiar do caso extraconjugal que cerca os dois. Todos sempre olharam Mirana como a filhinha do time, ela quem entrou com Buffon em seu primeiro jogo como titular. Tinha três anos, dezesseis anos depois era muita coisa.