Darkness

9 1 0
                                    

CÁPITULO 1

Ao observar Clóvis S. Maia, percebia-se que fora um homem bonito, mas que as bagagens dos anos já lhe pesavam nos ombros e semblante. Apesar disso, continuava sendo bem sucedido. Não é poderoso, mas talvez já tenha sido perigoso. Nunca cometeu nenhuma atrocidade com as próprias mãos, mas já ordenara que outras mãos fizessem, em nome da memória de seu primeiro filho, Nicolas, assassinado injustamente (na percepção de Maia), sete anos atrás.

Há vinte e dois anos, Clóvis S. Maia, aos 37 anos, já com uma poupança de seis dígitos, casado pela segunda vez e com um filho de maior de seu primeiro compromisso sério, se permitiu dar o benefício da dúvida as pessoas mais próximas de seu

Fora vergonhosamente traído, e ainda por cima, trocado pelo seu próprio irmão caçula. Sua esposa e seu irmão fugiram juntos como dois adolescentes apaixonados, e nunca mais foram vistos.

Maia já tinha vivido, visto e feito o bastante para concluir que não poderia deixar aquilo barato. Era uma questão de honra haver uma revanche. Ele teria de dar o troco.

Foram anos e anos de buscas inúteis. Rios de dinheiro jogado fora com detetives. Estresse totalmente desnecessário, mas ele se recusava a ceder. Recusou-se a parar com aquela obsessão até o dia que um ser desprezível tirou a vida de seu único filho. Mas então, a exaustão o atingiu, e tudo perdeu a graça e o sentido.

Com a vingança do assassinato de Nicolas devidamente consumada, se viu forçado a se dar por satisfeito. Decidiu esquecer a existência de sua ex-mulher, do seu irmão e todo o resto que pertencia àquela história obscura e tão mal resolvida.

Mas seus planos estavam prestes a mudar.

Na noite anterior, recebeu um telefonema, cujo lhe ordenava comparecer na hora certa num estranho, mas conhecido, local. Ele buscou na memória alguma coincidência na data, mas nada achou. Seria destino?

Em algum momento, hesitou em cumprir o compromisso. Por que ela me procurou somente agora? Por que não antes? Não podia? Não sabia? Não queria? Por que ela marcou justamente aqui? Perguntava a si mesmo.

Ele sabia que não poderia confiar em ninguém, mas uma voz suave em seu coração, disse-lhe que Sandy poderia ser diferente. Um pouco nervoso, deu ordem para seu motorista/segurança manter uma distância segura.

Enquanto caminhava hesitante, ele se perguntou por que não se dedicou a ela, invés dos dois traidores que lhe custaram tanta dor e dinheiro.

Passou pelo corredor onde Sheila Robers, a mãe de Sandy, tinha sido enterrada. Ela teve um desfecho decente. Ele próprio tinha providenciado isso, mesmo achando que aquela mulher não merecia, porque tinha certeza da parcela de culpa dela em tudo que aconteceu. No fundo, dizia para si mesmo, fez aquilo mais pela Sandy do que por Sheila.

Ou... Talvez tivesse sido a própria parcela de culpa martelando sua consciência. Ele já tinha sido apaixonado por ela, afinal.

Seja honesto consigo mesmo, Clovis! Repreendeu a si mesmo pela primeira vez em tantos anos.

Ao final do corredor, dobrou à direita, e parou em frente a uma lápide de mármore preta, mais luxuosa que a anterior. Nicolas S. Maia estava escrito em letras cursivas douradas nela. Uma lágrima escorreu por sua bochecha no momento que sentiu o peso da saudade, e a certeza que nunca iria superar a ausência do filho.

A vida é irônica.

Além de Maia nunca obter sorte com relacionamentos amorosos, a única coisa que restava de um vínculo afetivo, tinha sido arrancado dele: seu filho.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Apr 26, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

INCÓGNITA Onde histórias criam vida. Descubra agora