O Meu Problema É a Sexta

1° Capítulo - O Colar De Pimenta

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1° Capítulo - O Colar De Pimenta

-Fale de você...

-Eu não quero falar. Não tem um porquê para alguém como eu estar aqui.

-Você estava todo animado para participar da minha tese de doutorado e agora quer desistir. O consultório te amedronta?

-Ah tá! Claro que não. Medo de um abajur, esses livros e a sua poltrona? Não mesmo. Não é isso. É que... bom, é que quando você fez a proposta achei que seria mais simples.

-Você não é obrigado a ficar.

-É que eu não sei nem o que falar, entende? Eu não tenho problemas.

-Você não tem problemas?

-Nenhum cara, minha vida tá normal.

-Normal?

-Normal.

Ficamos nos encarando. Não aguentei e comecei a rir. A Cris mexeu no cabelo, parecia estar segurando a risada, vi na hora que ela passou a mão nos lábios toda pensativa.

-Sabe uma coisa que é mentira?

-O que? - Até me ajeitei melhor, finalmente ela ia falar alguma coisa.

-É uma mentira essa ideia de que todas as pessoas precisam de terapia.

-Olha só, uma terapeuta falando isso, não acha que tá desmerecendo tua classe? Não que eu discorde. - Tive que zoar, né? Ela sorriu.

-Não é isso. Terapeuta também precisa ganhar dinheiro, mas é uma máxima muito falsa isso de que todas as pessoas precisam de terapia, pois veja bem, se as pessoas, todas elas que passaram por algum evento traumático de determinada magnitude sempre recorrerem a um terapeuta quando tiverem problemas, como elas vão conseguir se auto recuperar sozinhas? Para onde vai a capacidade de se auto curar?

Nossa, fiquei até confuso.

-Sim... - Pensei um pouco - Me parece mais inútil ainda eu estar aqui, então.

Ela se ajeitou na poltrona e foi até a ponta se aproximando de mim, um pouco.

-Mas aí eu te pergunto: e as pessoas que nunca aprenderam a se auto curar? Como elas vão aprender?

Tá aí, agora me pegou.

-Na... terapia?

-Bingo.

Ela era boa...

-Ok... - Minha voz saiu mais grave do que eu queria. Me deitei no divã com as mãos atrás da cabeça - Qual você acha que é o meu problema?

-Me diz você...

Respirei fundo... soltei um suspiro. O colar. Sua imagem surgiu na minha mente como um relâmpago. A quem eu queria enganar?

Tudo estava se movendo, como um terremoto que tira a terra do lugar, mas o que estava sendo movido a força era a minha vida.

-O meu problema é a sexta.