A Fendi perdida

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As luzes falsas de Paris tornavam a cidade mais animada. Do lado de dentro do prédio azul ninguém reclamava da gritaria das meninas que mudavam de roupa e secavam o cabelo ouvindo um funk de dois anos atrás. Duas brasileiras e três francesas colegas de faculdade trocavam snaps e bebiam Vodka com suco de mamāo. Mary Pan aparecia nas noites sempre escoltada pelo Aladinho Pet  para espiar o que as meninas faziam. Hoje estavam bem mais animadas e Aladinho abria a boca em forma de ó a cada rebolada que as meninas davam perto do espelho.

Marie Pan do lado de fora do vidro , se puxava para tentar dançar como elas mas nāo tinha muita leveza, porque cada vez que colocava os pés no chāo o salto trancava no giro e a bolsinha transparente Fendi atrapalhava o movimento. Numa destas tentativas desastrosas, Mary Pan bateu com o cotovelo no vidro e quase que uma das brasileiras viu os dois do lado de fora da sacada do prédio. As gargalhadas das amigas eram sempre altas e parecia que aumentavam cada vez que uma delas tomava o líquido que distribuíam em copos de vidro. Aladinho Pet tinha planos de roubar um destes copos quando elas tivessem saído, mas o plano do rapto ainda nāo estava claro na mente dele.  Ele podia usar o sensor de espaço mas as meninas nunca paravam quietas .

Foi na noite do aniversário da francesa de olhos espichados que Mary Pan entrou pela sacada e Aladinho Pet conseguiu pegar o líquido da risada. Uma noite de muitas nuvens e calor . A sacada estava aberta  e as meninas se maquiavam e riam. Aladinho Pet recolheu sua cauda prateada e avançou até o copo de uma delas levando -o para fora do quarto. Mary Pan e Aladinho deram vários goles da bebida alaranjada, esvaziando a metade do copo. A francesinha de olhos espichados ouviu um barulho estranho e parou o som. Foi pé por pé até a sacada mas nāo viu nada diferente. Quando ia voltando para o quarto , uma das brasileiras apontou o dedo para a janela e disse: eu vi , eu vi uma coisa prateada ali .

Para tudo.

O único barulho que vinha da rua era um soluço duplo. Nenhuma delas tinha coragem de fechar a sacada. Decidiram sair do quarto , fechar a porta e acabar de se arrumarem no quarto ao lado. A festa desta noite seria no Rex Club e ainda estava muito cedo para chegar lá. Pegaram o som, as roupas e os acessórios . Deixaram os sapatos e uns copos quase vazios . Obvio que Mary Pan entrou no quarto , bebeu todos os restos dos copos, enquanto Aladinho cuidava da porta. Inútil guarda porque nāo deu dois minutos e uma delas abriu  a porta  para buscar o copo e se deparou com Mary Pan alta, linda de cabelos marrom urbano e os olhos mais claros e soltos que nenhuma Sephora jamais conseguirá reproduzir.

Silêncio total.

Bebinha e atrapalhada Mary Pan flanou pela sacada e saiu voando torta seguida pelo Aladinho Pet que nāo parava de apontar para o quarto tentando dizer para Mary Pan que ela tinha deixado a bolsa Fendi no chāo do quarto. A francesa  , ainda sem nome, que tinha voltado no quarto  pra buscar sua bebida seguia lá estática. Estava tentando se entender e pensar se as meninas iriam acreditar na cena surreal que ela tinha visto quando percebeu num canto da sacada a bolsa transparente com tons neon.

Mary PanWhere stories live. Discover now