Eu escolhi você

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James estava desolado. Mais de uma vez ouvira as histórias sobre sua mãe jogando Quadribol, de como ela era excelente. Os tios não cansavam de contar sobre jogos marcantes, principalmente quando a família fazia alguns jogos festivos no quintal. James ficara curioso por saber como a mãe de jogadora renomada internacional se tornou uma grande jornalista esportiva. Não que tivesse problema em ser jornalista, mas é que da forma que os tios falavam, e pelo que James já testemunhou vendo a mãe jogar, era como se tivesse um talento desperdiçado.

Ele suspirou ao lado do irmão mais novo, estava vendo, naquele instante, os pais jogando, todos se divertindo, mas ele não conseguia nem montar em sua vassoura naquele momento. Os tios tinham dito que ela parara quando estava grávida dele. Parara por culpa dele. Sabia que ela amava jogar, amava voar, estava na cara da mãe enquanto ela flutuava em campo. Quando ela marcou mais um ponto, ouviu alguns protestos dizendo que era injusto e ela apenas riu e desceu, dando a vassoura para um atrapalhado Teddy.

Logo depois seu pai desceu também, e se direcionou a ele e estendeu a vassoura, completamente suado e sorridente. James balançou a cabeça calado e o pai franziu o cenho, mas com um aceno chamou Molly, sua prima de quatorze anos que sorriu para o tio e logo tratou de voar.

— Está tudo bem, Jay ? — perguntou Harry sentando ao seu lado.

— Hum... Sim papai — ele falou tristemente e olhando a mãe que guardara uma vassoura no galpão e vinha na direção deles.

— Não está não — Albus falou — Ele está calado desde que o tio George começou a contar histórias da mamãe nas Harpias.

Ginny chegara na metade da conversa e erguera uma das sobrancelhas olhando do marido e depois de olhar para cada um dos filhos, repousou seu olhar em James, que olhou feio para o irmão e depois abaixou a cabeça. Harry deu um olhar cúmplice com a esposa e tirou Albus dali, Ginny sentou no lugar que antes Harry estava.

— O que aconteceu, Jay? — A mãe perguntou suavemente.

— Nada — ele suspirou, mas o olhar da mãe o fez contar — os meus tios só estavam contando...histórias. Suas.

    Ginny ficou alguns instantes calada apenas observando o garoto de dez anos. Ele era alto para a idade, tinha cabelos negros e desalinhados como o pai, mas tinha os olhos cor de avelã da mãe. Ela pôs uma das mãos no ombro do filho e o fez se levantar.

— Que tal caminharmos um pouco e aí você me conta essas histórias?

— Certo — ele deu de ombros, incerto. A mãe conseguia com que ele fizesse coisas que ele não queria numa facilidade absurda.

Por um tempo ficaram calados, era quase o final do verão. Em poucos dias, James estaria em Hogwarts, tentou tirar esses pensamentos da cabeça, não o ajudaria naquele momento. Na verdade, só serviria para deixá-lo ainda mais nervoso.

- Eles me contaram que a senhora era muito boa jogando - James falou repentinamente.

- Aparentemente sim - ela comentou como quem fala do tempo, percebendo que o filho não falaria facilmente - Que tem demais?

- Bem, a senhora parou por minha causa, não foi? - James encarou a mãe intensamente.

Ginny parou de andar no mesmo instante e um estalo se fez em sua mente. "É óbvio" ela pensou. Balançou a cabeça e deu um pequeno sorriso. O filho continuava com a expressão intensa que lembra a si mesma.

- Ah James, você é muito parecido com seu pai - ela deu um pequeno sorriso. - Sim, eu deixei de jogar por causa de vocês. - ela fez questão de frisar. James ficou realmente muito triste. - Vem cá - ela deu um abraço nele - Vamos sentar naquela árvore ali.

    Os dois foram abraçados até lá, a mulher recostou-se na árvore e pôs o menino entre suas pernas e começou a afagar seus cabelos negros. James não escondia as lágrimas que teimavam a aparecer em seu rosto.

- Eles diziam que você poderia ter entrado pra história do esporte da Inglaterra! - ele exclamou - Você era jovem e que...

- Jay, houveram ótimos jogadores antes de mim. E eu tenho certeza que terão outros. Além disso, que disse que eu não entrei para a história do Quadribol inglês? - ela perguntou divertida - Acho que seus tios andam colocando caraminholas demais em sua cabeça.

- Mas...

- Quer saber por quê me aposentei ? - a mãe beijou o topo da cabeça do filho.

- Claro!

- Era só ter me perguntado Jay. - ela deu uma risada - Bem, isso é longo, começa dez anos atrás.

- A senhora é velha hein mãe!

- Calado! - ela o olhou com uma falsa fúria, mas o seu sorriso não deu pra fingir - Estava no meio da temporada, e eu estava sentindo alguns... Sintomas, não sabia o que era. No meio do jogo eu me senti enjoada e... caí da vassoura, seu pai ficou pálido e eu não sei direito como, mas ele me pegou.

- Você ficou bem? - ele ficou surpreso. Não sabia de nada disso.

- Fiquei sim, fui atendida pelo grupo médico do time e foi aí que descobri que estava grávida de você. Seu pai quase desmaiou naquele dia - Ginny riu com a lembrança - Mas o Harpias teve que me dar a licença e eu me retirei pelo resto da temporada.

- Foi assim que você parou? Eles lhe proibiram de jogar pra sempre?

- Não,não. Eu só tinha que esperar você nascer, mas eu não quis voltar.

- Por quê?!?! - ele se afastou alguns centímetros para encarar a mãe - pensei que amasse jogar!

- Eu adoro jogar. Mas eu amo mais a vocês - ela deu um sincero sorriso - Se eu tivesse voltado a jogar, perderia muitos momentos com vocês, eu não queria isso. Ser jogador não é como um emprego normal, acontece de, em alguns momentos, ficarmos afastados alguns dias de casa. Eu não suportaria ficar longe de você. Minha decisão de parar foi ao longo da gravidez. E quando eu te peguei pela primeira vez, eu tive a certeza do que estava fazendo.

- Mas você não sente saudades?

- Claro que sinto saudades! - ela pincelou o nariz dele - mas nunca, nem por um segundo eu senti arrependimento. Por isso, eu anunciei minha aposentadoria.

- Você vai voltar a jogar um dia? - ele perguntou à mãe - Sabe, da forma como todo mundo fala é quase como se seu talento estivesse desperdiçado num jornal.

- Nunca se pode dizer nunca. Eu ganhei quase tudo que um artilheiro sonharia ter, ganhei quantias astronômicas, mas nada se compara ao presente de ter você e seus irmãos ao meu lado. Então, é bom que coloque isso em sua cabecinha, James Sirius Potter, eu escolhi você! - a mãe tinha uma expressão intensa e sincera, e James teve a certeza de que ela falava verdadeiramente, sorriu e se levantou e deu a mão a mãe.

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