Prólogo

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As crianças brincavam felizes apesar das dificuldades. Os verdadeiros rostos preocupados eram os das freiras que promoveram um típico evento para arrecadação de roupas, comidas, brinquedos.

O evento se baseava em um piquenique onde algumas velhas senhoras que moravam nos arredores levavam suas tortas para todos comerem juntos, as crianças então tocavam algumas músicas que aprenderam na flauta doce, os visitantes podiam ver alguns artesanatos como pinturas e esculturas que as crianças faziam e assim em troca levavam suas doações. Famílias inteiras da cidade de Pinheiros compareceram, levando suas crianças para socializarem com as crianças orfãs.
Em um lado do jardim, os adultos conversavam sobre doação em dinheiro, mas as freiras preferiam a doação de materiais. Do outro lado do jardim, acontecia um pequeno teatro de "Os três porquinhos", dirigida por Thomas Fragoso, jovem professor, escritor e ajudante do orfanato.

A nova agente da delegacia de Pinheiros, Helena, comparecera pois estava tocada com a situação das crianças. Ela levara duas sacolas, uma cheia de comida, e outra com alguns cobertores, já que o inverno começara a chegar. Muitas pessoas da vizinhança ficaram perplexas pois nunca antes viram a mais nova agente da delegacia, e obviamente ficaram curiosas. Helena degustara algumas tortas das mais talentosas cozinheiras da cidade, mas logo se interessou por outra coisa, a pequena e improvisada peça de teatro.
Aproximou-se e divertiu-se com a espontaneidade das crianças ao interpretarem. O professor estava orgulhoso.

— Belo trabalho! Qual seu nome?

— Thomas. E o seu? Aliás, obrigado. Tivemos pouco tempo para praticar, mas as crianças se esforçaram muito.

— Meu nome é Helena. Realmente, notei como as crianças estavam felizes.

— Apesar das dificuldades. – os dois jovens adultos olharam para baixo, um pouco tristes pela situação do orfanato.

— Também acho – Helena retomou o assunto – mas meu coração encheu de esperança ao ver a comunidade ajudar!
— Você realmente gostou do nosso teatro?

— Sendo sincera? Eu amei! Fiz teatro durante minha adolescência e eu adoraria retomar!

— Eu também adoro teatro, faço parte de uma oficina e ajudo as crianças aqui.

— Oficina? Poderia me indicar?

— Claro!

Os dois continuaram conversando enquanto caminhavam pelo jardim.

    •um mês depois•

O professor Thomas sentou à mesa dos professores para tomar o seu típico café forte e sem açúcar. Quando de repente, a diretora jogou um jornal contra a mesa, ela parecia muito brava.

— O que aconteceu Milena?

— É este prefeito! Não bastam os escândalos, descobriram que ele está desviando o dinheiro para as reformas do Orfanato Moonchild.

Thomas ficou perplexo, ele foi um orfão, e estivera no orfanato por quase toda sua infância. Pegou o jornal e deu uma olhada na manchete.

"MAIS UM ESCÂNDALO: O PREFEITO DESVIA VERBA PARA MANUTENÇÃO DO ORFANATO MOONCHILD".

O jovem professor estava quase em lágrimas, ele costumava visitar o orfanato e sabia que ele estava praticamente "entregue às traças", quando algo faltava, as freiras tinham de tirar o dinheiro do próprio bolso, e agora mais essa? O dinheiro que devia ser destinado para as tão esperadas melhorias no orfanato estava sendo desviado para... para... sabe-se lá o quê.

Foi até a página indicada na primeira página do jornal e leu a matéria completa.

"Ligações grampeadas pela polícia local de Pinheiros, desvendaram mais um ato de corrupção cometida por Laercio Matos, o prefeito da cidade. As ligações desvendaram um ato de corrupção baseado em desviar o dinheiro destinado ao orfanato estadual Moonchild, a polícia descobriu que o prefeito pegava o dinheiro para si, e que sua esposa estava gastando altas quantias em shoppings no exterior."

Thomas tirou os óculos enfurecido, jogou o jornal na mesa e esfregou os olhos frustrado. Não conseguiu mais dar aula, foi para casa extremamente cansado e decepcionado. Lembrou-se das crianças que vira no orfanato no mais recente evento, algumas estavam sujas, outras estavam com fome, afinal as freiras do orfanato estavam com pouca comida e o lugar precisava de uma reforma.

Por Uma Boa Causa...Onde histórias criam vida. Descubra agora