Adeus, Helena

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Há muito tempo, em uma cidadezinha no interior do Brasil, da qual ninguém se recorda corretamente o nome, viveu Helena. Não alguém rica, não alguém vivaz, não alguém importante; ela era Helena, e nada mais.

A jovem garota, como conta a estória, passou uma noite na Praça do Conde, único local de que a história se lembra (veja bem, foram tantas as vezes contadas, que versos foram perdidos e nomes alterados, porém o fim sempre continuou o mesmo).

Ninguém sabe o que ela foi fazer lá, nem seus pais nem ninguém. Muitos dizem que ela foi se encontrar com alguém de fora, outros que planejava uma fuga, mas no fim isso não tem importância. O que importa é o final: Helena passou a noite na Praça do Conde, e disso todos concordam.

O vento frio do inverno trazia nuvens cinzentas para o céu negro, ameaçando uma chuva repentina para a pobre Helena que não possuía guarda-chuva, mas ela não se importou. Ela continuou sentada no banco de madeira da praça, iluminada pela luz falha do poste de ferro, e acompanhada pelo silêncio característico da solidão da noite.

Essa parte da história possui muitas versões, nenhuma da qual se possa afirmar com certeza. Mas no fim ficaremos com a mais antiga e aceitável de todas: o ladrão errante. A tal cidade sem nome era um local de travessia, por onde muitos passavam a fim de encontrar futuro em locais distantes. Por isso diz-se que era um ladrão errante, sem dinheiro para conseguir uma carroça e seguir seu rumo.

Ele encontrou Helena, a pobre Helena, sozinha na escuridão da meia-noite. Ela era uma moça formosa, por quem muitos se apaixonavam e por quem muitos lutavam, então não é difícil acreditar na teoria de que o ladrão a havia estimado por sua beleza. Porém a ganância e o egoísmo são características do homem, por isso então ele sacou sua arma, ignorando seus possíveis sentimentos e atacando a jovem moça.

Mas, pobre Helena, saira de casa sem um tostão. Suas preces não foram concedidas pelo ladrão e, após minutos de contradição, ele enfim apertou o gatilho. O que se seguiu fôra o som agudo da arma, o grito do ladrão que correu assustado, e a incredulidade de Helena. Oh, pobre moça jovem, talvez sonhara com um futuro melhor para si, além das plantações de trigo e das estradas de terra que inundavam a cidade.

Naquela noite Helena morreu, de uma forma triste e solitária, que ficou gravada na história da cidade. Ela morreu, como tantos outros, mas não foi esquecida, como poucos. Ela ficou na memória daqueles que habitavam a história, mas nem todos sabem o porquê.

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Conto criado para o Concurso 05 do Café com Letra, com 442 palavras.

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