O povo de outrora já contava esta história se referindo a um passado distante como o descrito agora. Em tempos remotos quando ainda as árvores conversavam com os sábios e o vento cantava proezas de heróis distantes. Numa terra além do mar para leste, desconhecida pelos vivos e jamais contada pelos que já se foram, um lugar diferente de tudo que há hoje em dia.
Havia o reino de Gargualag, uma grande nação que vivia do comércio, cheia das mais ricas iguarias e produtos. Afortunada e bem sucedida, fora construída a beira do mar, por sobre uma escarpada de puro cristal, a cidade brilhava a luz do sol e era conhecida entre os navegantes como a Estrela do Horizonte.
Mas os dias de fartura e serenidade não duraram por muito tempo. Naquelas altas terras na península da Passagem da Serpente próxima das terras do Alto Gelo, uma história se espalhava. Contavam sobre a imensa fortuna sobre qual a cidade se erguia, diziam que até mesmo o mais pobre camponês era muito mais rico do que qualquer nobre de outras terras.
Mas o povo não extraia nenhuma riqueza daquele imenso cristal, e nem mesmo pensavam, de tamanha inocência.
Uma grande inveja então obscureceu o coração de muitos reis, que por mais que tudo almejavam aquela colossal jóia.
O primeiro sinal veio com o vento, uma densa fumaça escura vinda do mar encobriu a cidade, e logo o som de tambores e chifres de guerra faziam as construções tremerem. Barcos de todas bandeiras vinham em direção a cidade numa desorganizada guerra pela pedra preciosa, mas em meio ao caos, algo muito pior apareceu. Pois sim, as histórias não haviam se limitado apenas pelas terras dos trópicos, mas tinha alcançado os confins do norte, e uma ganância maior do que a de qualquer rei se inflamou.
Vindo das terras pálidas do Alto Gelo, onde o frio era tanto que nem mesmo os mortos sonhavam em ficar, veio um nefasto Dragão glacial. Que não cobiçava por terras ou cristais gigantes, mais sim o sangue de inocentes.
A fera maligna se lançou por sobre o castelo esmagando como palitos as torres por entre os dedos. Os exércitos sumiram no horizonte e o povo da cidade tentava fugir. Mas o monstro capturou para si um por um, os prendendo numa jaula de gelo que carregava pendurada ao pescoço, mas naquele dia um conseguiu escapar, lançado por entre as grades enregeladas, um bebe caiu por entre as folhagens de uma alta figueira para dentro de um ninho de gralha.
Da cidade apenas havia restado escombros, e quando tudo acabou o imenso cristal se desprendeu da terra e afundou no mar Negro para nunca mais ser visto.
O dragão retornou para seu covil, trazendo pela primeira vez um longo inverno para antigas terras de Gargualag, onde o verão nunca cedera.
O pequeno bebe logo quando encontrado pelas gralhas, fora entregue há uma trupe itinerante, onde ele cresceu e nunca soube da sua história ou dos seus verdadeiros pais, não havia recebido nome, e todos apenas o chamavam de Piom, ou apenas de garoto. Entre os homens e mulheres que formavam aquela imensa trupe que por norte e sul viajavam, a que lhe mais acolheu fora madame Rathá, uma senhora baixa de seios e barriga volumosos que caia por sobre seus joelhos. Vivia com um espelho em mão, penteando seus longos desgrenhados cabelos vermelhos que lembravam uma fogueira por sobre sua cabeça. Era praticamente mãe de todos da trupe e cozinhava e escrevia as peças e canções que eram apresentadas. Piom aprendeu a escrever e ler com ela, e vivia alegre entre todos até seus treze anos.
Um dia numa rotineira apresentação numa cidade sulista, conheceu um adivinho, que contou sua história. Piom então fugiu, subiu no primeiro barco que encontrou no cais, e viajou escondido dentro de uma imensa abóbora.
Dias depois numa terra distante e desconhecida ele desembarcou, conheceu, porém em sua estadia no barco outro clandestino, Troy um semideus filho do Verão, um homem de hábitos soturnos, mas muito engraçado em suas horas mais descontraídas. Estava viajando escondido por entre as pilhas de tecidos tingidos e conheceu Piom quando tentava pegar um naco da abóbora para comer.
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Gargualag - A espada de Troy
Short StoryAntiga lenda mencionada no livro "A canção dos Ventos" ganha vida nesse conto curto sobre a jornada de um garoto órfão e seu amigo semi-deus em busca no que viria a se tornar a mais badalada canção recitada pelos bardos da Terra dos Ventos.