Era uma tarde escura, minha primeira lembrança é de ter olhado para o céu. Nuvens escurecidas tampando uma perfeita visão do paraíso, um sol não muito forte, não muito fraco. Silencio total, apenas uma leve brisa ardendo em meus olhos, nenhuma dor, nenhuma memória, nenhum sentimento. Até que o passado voltou a me atormentar.
Interrompendo aquele minuto de descanso antes do pesadelo, me voltou o primeiro sentimento, a primeira memória, a primeira dor. A perda. Senti algo preso, querendo sair, implorando para sair, sendo parado por uma decepção, um trauma, uma cicatriz. Uma ferida aberta, lacrada a pontos e a força, com algo forte rasgando a carne, machucando, tornando-a maior. Ocorreu então que um sentimento físico, um impulso nervoso, o estrondoso soar do silencio, o escorrer, a terra abaixo de meu corpo a molhar. Deu alguns segundos e percebi o que havia ocorrido. A cicatriz havia aberto, a linha sustentando a ferida perdeu sua força, o que estava dentro saiu. Eu estava chorando, sem sequer saber o porquê, sem sequer sentir as lágrimas em mim.
Me levantei, não sei como, não tenho memória deste momento, só uma pequena recordação de poucos detalhes. Grama alta a frente, sem sinal do que ver nem do que procurar, um vazio preenchido por um céu a desabar. Olhei as horas, eram 6 da tarde. Olhei para o horizonte, nada. Olhei ao lado e vi minha bicicleta, não lembrava dela, apenas sabia que era minha, e que por algum motivo eu deveria montar nela, e continuar. Ao norte estava meu destino. Ao sul estava meu passado. Pedalei ao norte.
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O choro
Mystère / ThrillerDuas gotas ao chão, um mundo inteiro a desabar. Não há como negar, sempre acontece, todos os dias, todos os seres, deixe escapar uma faísca, e a destruição pelo fogo estará feita...