01 | à boleia

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"Não, o senhor não está a perceber. Aquela mala é a minha vida." Repito com esperanças que a minha bagagem possa ser recuperada o mais rápido possível.

"Eu estou a entender, menina. Mas infelizmente, não há nada que eu possa fazer." O senhor disse com compaixão. "Agora só lhe resta esperar... caso a sua mala apareça, entraremos em contacto consigo imediatamente!" Ele assegura, mas ainda assim não parece muito esperançoso o que me faz olhar em volta em completo desespero.

"As minhas férias estão arruinadas..." Murmuro, baixando a cabeça e apoiando-a no balcão.

Roupa, dinheiro, o carregador do telemóvel, o meu livro e outros objectos igualmente essenciais estão na mala que se acabara de perder, o que faria as minhas 'férias' muito mais complicadas. Sem saber o que fazer, olho à minha volta mais uma vez.

A zona do aeroporto em que me encontro está praticamente vazia pois há menos voos a chegar do que há a sair.
As poucas pessoas que vão passando não dão pela minha presença, tirando uma pequena minoria que me olha com pena e tenta mostrar-se compreensiva.

"Eu preciso de dinheiro para um táxi. Acho que é o mínimo que podem fazer depois de terem perdido a minha mala." Digo, com convicção, tentando adoptar uma postura mais adulta e séria.

"Infelizmente, não é algo que possamos fazer." O senhor diz com pesar.

"Claro... adoro aeroportos. Contacte-me assim que houverem notícias." Peço antes de virar as costas e de desejar ao senhor um bom dia.

Dirijo-me até à saída mais próxima e dou graças por ter pelo menos a minha carteira com todos os meus documentos e o meu telemóvel que estou agora a usar para chamar um táxi.

Estou prestes a clicar chamar quando alguém me toca no ombro levemente e me faz virar.

"Desculpe, eu não pude deixar de ouvir a sua conversa com o senhor da recepção e eu queria perguntar-lhe se por acaso não quer boleia." O rapaz pergunta com um sorriso no rosto e eu não posso deixar de apreciar a sua simpatia.

"Obrigada, mas eu não quero incomodar de maneira nenhuma. Eu vou agora chamar um táxi, mas agradeço imenso." Explico e ele abana a cabeça ao de leve.

"Não ia ser incómodo nenhum, caso contrário não me tinha oferecido para lhe dar boleia." Ele diz com o sotaque típico da zona. "Onde é que vai ficar?"

"Penso que no iStay Hotel." Informo-o, enquanto procuro a reserva nos meus e-mails, até que finalmente encontro. "Sim, é isso."

"Não fica muito longe, eu posso dar-lhe boleia." Ele diz mais uma vez e começa a preparar-se para ir.

"Não me vai deixar recusar a oferta, pois não?" Pergunto, sabendo a resposta de antemão.

"De maneira nenhuma."

** ** **

O rapaz, cujo o nome é André, fez questão de me abrir a porta para entrar no carro e está agora a entrar também. Ele conduz um Mercedes Benz cinza, novo em folha.

"Então, és portuguesa, mas não és do Porto e se não me engano também não vives no país, certo?" Ele pergunta enquanto liga o carro.

"Certo. Eu nasci em Coimbra e cresci lá também, mas há uns anos mudei-me, com a minha mãe e o meu irmão. Agora vivemos no estrangeiro." Explico enquanto o observo a virar o volante para mais facilmente sair do lugar de estacionamento.

"Então e podias ter ido passar férias a qualquer lado do mundo mas decidiste vir para o Porto, porquê?" Ele pergunta, curioso, enquanto os seus olhos saltam de mim para o espelho retrovisor e novamente para mim.

"O Porto é a cidade mais bonita e acolhedora, não é isso que dizem?" Pelo canto do olho vejo-o abanar a cabeça em afirmação e sorrio levemente.

Depois de sairmos do estacionamento, André retira o telemóvel do bolso, procura o contacto de alguém e começa uma nova chamada, que coloca em alta voz.

Reparo na maneira como o sol lhe bate na pele, fazendo a mesma parecer mais escura e os seus pêlos mais louros. A mão dele está firme sobre o volante.

"Então puto?" Uma voz masculina ouve-se do outro lado da linha, o que faz André sorrir. Eu baixo um pouco o rádio para que ele possa ouvir melhor.

"Olá, Afonso." Ele diz. "Olha, estava só a ligar para dizer que se calhar vou chegar um pouco mais tarde." Os braços dele são fortes e as suas veias são salientes. "Tenho que ir fazer umas compras e levar uma pessoa ao iStay, e só depois é que para aí vou."

"Está bem, mano. Eu aviso a mãe que vais chegar atrasado." O outro rapaz, Afonso, diz e depois desliga, dando oportunidade a André de pousar o telemóvel.

"Afinal estou mesmo a incomodar." Sussurro, sentindo-me culpada por ter sequer entrado no carro com ele.

"Não. Eu é que te quero levar até ao centro comercial para comprares alguma roupa e um carregador para o telemóvel, só para teres o mínimo... achavas mesmo que te ia deixar no hotel sem roupa e de qualquer maneira?" Ele diz, determinado em me ajudar.

"Mas a sério, André, não precisavas. Afinal de contas nem me conheces de lado nenhum e já fizeste tanto por mim que eu já nem sei como agradecer." Lamento-me.

"Eu sei. Vens tomar café comigo, amanhã ou no dia seguir." Ele diz, com um sorriso nos lábios, enquanto me olha pelo canto do olho.

Ele tem o cotovelo apoiado no suporte de braço entre ambos os bancos e o seu corpo está ligeiramente inclinado na minha direcção. Ele é incompreensivelmente perfeito, o que me incapacita de olhar para mais algum lado senão para ele.

"Okay." Cedo.

EU QUERO-TE A TI [andré silva]Onde histórias criam vida. Descubra agora