C a p í t u l o ú n i c o

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                             Já parou para pensar qual seria sua reação caso acordasse em algum lugar desconhecido? Provavelmente, antes de mais nada, o medo ia falar mais alto. Mas, e depois que o primeiro impacto passasse? Quais seriam as suas outras atitudes e pensamentos?

                Procurar por alguém que possa ajudar, ou evitar qualquer desconhecido?

                Tentar fugir ou se pôr em posição fetal e chorar até apagar de novo? Com esperanças de acordar em outro lugar? De preferência em seu quarto? Deitado na sua cama? Para abrir os olhos e se dar conta de que tudo não passou de um pesadelo?

                Pois é, cada um age de uma forma diferente. Enquanto uns enfrentam o ignoto de frente, outros fogem dele.

                Acabei de acordar, contudo, aqui não é meu quarto. Muito menos estou deitada em minha cama.

                Sim, nesse tempo todo, estive descrevendo minha situação atual.

                Eu estou em algum lugar escuro. Muito escuro. Não poder ver o local exato me desestabiliza. A escuridão pode esconder tudo e nada ao mesmo tempo. Isso deixa a coisa mais aterrorizadora do que já é, principalmente somada ao fato de eu não saber como vim parar aqui.

                Sem a visão, procuro aguçar os outros sentidos, por isso, antes de me levantar e provocar algum barulho com minha movimentação, apuro os meus ouvidos. A procura de algum som. Qualquer coisa que indique companhia. Nada.

                Tento sentir o solo abaixo de mim. É liso e frio. O ar é frio. Mas, tampouco, a baixa temperatura me incomoda. Pois, sinto, apenas, com o tato e pele. Não com os ossos ou a carne. Estranho, a temperatura gélida parece não perpassar a epiderme. Será que tudo isso é apenas percepção?

                As coisas aqui aparentam ser apáticas. Quietas. Sem graça. Entedia.

                Sem aviso, uma gargalhada saí da minha garganta. Me assusto. A capacidade de, de repente, achar graça em um momento de pura aflição faz com que eu comece a duvidar do meu juízo. O riso pode estar tentando mascarar uma possível vontade de chorar? Não sei, mas também não me importo. Ficar tentando desvendar cada variação do meu humor é enrolação.

                Me sento com facilidade. Já não me preocupo com o barulho que eu possa estar fazendo. Quero chamar atenção de alguém, de qualquer pessoa, para poder indagar que lugar é esse e por qual razão estou aqui. Me esconder não é uma opção. Simplesmente não faz o meu estilo.

                Ainda sem conseguir enxergar, me apoio nas mãos para poder levantar. Em poucos segundos estou de pé. No mesmo lugar onde antes estava sentada.

                Reflito um pouco para decidir por qual lado seguir. É difícil tomar uma decisão no escuro, sem poder ver qual é a melhor direção.

                Ir em frente, sempre em frente. Não é o que as pessoas dizem? É o que faço, com passos longos, quase apressados e eles me levam para o chão. Literalmente. Seja o que for aquilo onde eu estava, não era chão. Agora percebo, e me sinto burra por não ter estranhado a superfície antes. O contraste entre elas, as superfícies, é gritante. Mesmo sem ver, posso afirmar que o piso é de madeira. Provavelmente de tábua corrida.

                Flexiono meus membros inferiores e superiores, eles estão intactos e sem dor. Por sorte, a queda não causou danos.

                Pela segunda vez, nos últimos minutos, me levanto para o desconhecido.

Quebra-cabeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora