Ato Um.

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We're creatures of the underworld. We can't afford to love.

A noite chegava como um leve aviso de que o dia estava no fim. A exaustão era companheira de rotina dos jovens atores que agora se encontravam rindo, espalhados pelo palco do grande teatro central. Remus, que interpretava uma versão alternativa de Satine no musical Moulin Rouge, sorria com os olhos fechados ao que seu colega de cena contava uma piada, na tentativa de distrair os amigos.

— É sério, vocês precisavam ver. - disse Gideon, levantando-se do tapete e espanando a roupa. — Essa passagem de cena foi ótima mas nosso horário acabou e a minha casa me espera, days turned into weeks, weeks turned into months. - recitou Prewett, acenando aos colegas enquanto caminhava até as portas laterais, em direção à saída.

Assim que o barulho da porta batendo foi ouvido, todos pareceram notar o horário e assim foram se despedindo, cada um trilhando seu devido caminho. Lupin, que sempre era o último a sair quando tinham ensaios noturnos, ficava encarregado de trancar todo o teatro e era isso que o jovem homem estava fazendo enquanto cantarolava o refrão de Lady Marmalade distraidamente. Após conferir duas vezes se tudo estava devidamente fechado, o rapaz tratou de pegar as chaves do carro no bolso da jaqueta, apertando entre seus dedos antes de entrar no conversível azul ciano e seguir até o pequeno apartamento em que vivia com seu gato, o peludo Church.

[...]

— Espero que você esteja em casa, bolinha de pelos. - disse Remus, torcendo a maçaneta da porta de entrada e sorrindo quando seu companheiro felino miou alto, avisando que estava em casa dessa vez, e não havia fugido pela grande janela da sala.

Retirou os sapatos e suspirou, aliviado por estar em casa. Amava o que fazia, sim, mas as vezes decorar todas aquelas falas e músicas é cansativo. Desde os seis anos era apaixonado por teatro e cinema, lembrava-se de seus pais toda a vez que dava play em algum dos filmes antigos de sua coleção e isso era reconfortante.

Sua mãe havia o matriculado na escola de teatro quando o mesmo ainda tinha seus oitos anos de idade e desde então o jovem Lupin se dedicou a fazer os pais, e principalmente a si mesmo, orgulhosos. Jurou que o teatro seria o seu grande e único amor.

O homem levou a promessa de juventude tão a sério que hoje, com seus vinte e quatro anos, continuava solteiro e sozinho, dedicando todas as horas de seu dia para ensaiar e ser cada vez melhor naquilo que fazia.

Bebeu seu chá de hortelã enquanto acariciava os pelos macios do gato que estava enroscado ao seu lado, no sofá de couro. Pousou a xícara na mesa de centro e se pôs a caminhar até o banheiro, fazendo sua higiene noturna e tomando um banho quente e relaxante, a água batendo em suas costas o fazendo murmurar de contentamento.

— Sabe que não vou deixar você entrar no box, não sabe? - questionou, vendo o felino miar e sair do cômodo, provavelmente indo deitar-se. Secou o corpo, os cabelos, colocou um pijama leve e rumou até a cama ainda desfeita da noite anterior, ainda sentindo-se morno.

Não demorou até que Remus dormisse, mas pareceram minutos até que o despertador tocou e novamente já era o momento de acordar.

[...]

— Você realmente está me dizendo que Gideon machucou a perna e não vai poder apresentar a peça conosco? Como ele fez isso? - questionou Lupin, com a testa franzida em confusão. — Ele está bem, certo?

Ao que parece, Gideon Prewett levou a expressão "quebre a perna" longe de mais.

— Ele acabou caindo da escada, tropeçou em algum brinquedo que seu filho deixou por lá. Nada grave, apenas uma torção, mas sim, ele vai se ausentar. Sinto muito Remus, vamos chamar outro ator, espero que não se incomode. - explicou Hagrid, colega e diretor da peça em que estavam trabalhando, um remake de Moulin Rouge.

Lupin assentiu, sorrindo fraco. — Espero que nosso amigo fique bem logo. E está tudo bem, não me importo de ter um colega novo... podemos passar as falas nos horários que estão vagos até ele aprender. - concordou, vendo o homem rir e pegar o celular do bolso.

— Ótimo! Vou ligar agora mesmo e até o fim da tarde conseguirei um substituto. - disse, digitando algo em seu smartphone. — Alô, Sirius? Meu garoto, ao que parece tenho um trabalho para você. - e saiu, falando alegremente com quem quer que fosse do outro lado da linha.

O homem balançou a cabeça, bufando.

— Gideon pediu desculpas, Remie. - falou Hestia, sua amiga e colega de peça. — Apesar de ele não ter culpa. - riu, sendo acompanhada pelo castanho. — Espero que você e o novo ator se deem bem, não é? Preciso ir, até logo.

— Também espero, Hes. - gritou o homem, vendo a morena acenar.

   [...]

Eram três da tarde e Remus estava distraído lendo o roteiro pela quinta vez, passando mentalmente todas as falas e canções, até que sentiu uma mão quente lhe tocar o ombro em um aperto firme. Sobressaltou-se, pondo uma das mãos no peito. Sua careta de susto, porém, se desmanchou assim que viu longos cabelos pretos e um sorriso sendo direcionado a si.

— Remus Lupin, certo? - questionou o moreno, abrindo mais o sorriso de dentes brancos e perfeitos. — Sou Sirius Black, mas você pode me chamar de Christian. - piscou.

Lupin arqueou as sobrancelhas, arrumando a postura no sofá.

A little supper? Maybe some champagne? - disse, convicto.

I'd rather, um, just get it over and done with. - questionou Black, com uma expressão engraçada no rosto.

Hmph. Oh. Very well. Then why don't you come down here and let's get it over and done with. - respondeu Remus, dando de ombros.

I prefer to do it standing. - o moreno sorriu, mordendo o lábio.

— Okay, ao que parece não vai ser tão difícil trabalhar com você. Sim, sou Remus, prazer conhece-lo, mas pode me chamar de Satine. - ironizou, rindo.

Sirius deu de ombros, formando um bico nos lábios. — Meu musical favorito, sei algumas falas mas provavelmente vou te dar trabalho, sinto muito.

— Bom, vamos ver como isso vai funcionar. - sorriu de lábios fechados, levantando-se do sofá e guardando as folhas do roteiro na mesa do pequeno camarim. — I'm the Green Fairy... The hills are alive, with The Sound Of Music. Até mais tarde, Christian.

— Até mais tarde. - respondeu Black, vendo seu futuro companheiro de cena se retirar e acenar tranquilamente.

L.AOnde histórias criam vida. Descubra agora