O que é que faço quando o desespero me enrola numa rede, quando me atira para o fundo do poço e tudo o que sei é que estou num círculo?
Estou num círculo vicioso.
Ora muito bem, ora muito mal.
O meu ser atingiu um nível de instabilidade que me leva ao desespero.
Do fundo do poço consigo ver tudo o que há de mau, sem máscaras, a verdade dura e crua.
Quando alguém me tenta ajudar e estica a mão, primeiro não aceito, recuso a ajuda mil vezes até que por fim, com tanta insistência, lá acabo por esticar a minha mão e segurar a outra com firmeza. A pessoa faz um esforço enorme, eu saio do poço. A vida ilude-me outra vez, engano-me e agarro-me à restea de esperança que ainda existe mas do nada a esperança de voltar a ficar melhor desfaz-se e eu sinto-me a descer até lá ao fundo outra vez.
É sempre assim, caio no fundo, aceito ajuda e assim que me levanto para caminhar em frente, puxam-me o tapete, os meus pés cedem, perco as forças e lá volto eu ao mesmo.
É este o meu círculo vicioso. Podia ser pior, sim é verdade. Mas no fundo, é mau porque não sei lidar com tudo isto.
Consigo sentir toda a dor a atar-me com um nó na garganta. Não consigo subir até ao topo e sair do poço, então quando bato no fundo outra vez, o meu instinto é aceitar que por mais forte que seja, o meu futuro está naquele nó, naquela corda.
A minha vontade é permitir-me que a deixe ali. A minha vontade é permitir que a corda fique ali à volta do pescoço. Anseio fechar os olhos e saltar para o infinito de vida que há no outro lado.
E por mais que julguem a minha vontade e não aceitem que é isto que eu quero, que será esta a realidade, não é isso que me vai impedir. Já não há nada que me prenda a este lado, a esperança não me agarra, ilude-me. Não me quero sentir presa neste círculo vicioso por muito mais tempo. Mesmo que não queira que eu vá, cada vez mais sinto que a minha hora está perto, consigo ouvi-la a caminhar, passo ante passo. É quase irrecusável aceitar os termos que ela vai apregoando, baixinho, na minha cabeça.
Ao início esta voz assustava-me, queria fugir e fingir que ela não existia dentro de mim mas agora é inegável. Tenho vindo a aprender a conviver com ela, confio nela e acredito que o que ela fala é o melhor para mim. É tudo uma questão de tempo. Tempo e coragem.
Quero ter a certeza que mesmo não aceitando, se vão mentalizando que é este o melhor caminho a seguir.
Quero partir. Já não o escondo. E cada vez que o desespero aperta comigo, sinto a vida por um fio. Só me apetece gritar ao mundo que a minha hora está a chegar, já falta pouco. Agora a minha única procura e preocupação neste momento é saber qual o caminho mais rapido e indolor.
O fio está cada vez mais fino e a corda, oh! Esta corda está cada vez a sufocar- me mais.
Não sei por quanto mais tempo vou conseguindo resistir nem sei como tenho aguentado até aqui, só sei que para aqui estou, entre quatro paredes, num canto do meu quarto escuro, que mesmo com a janela aberta e o sol à espreita, se torna cada vez mais escuro, mais só, mais triste e eu vou deixando esta tristeza tomar conta do meu ser ou do que resta dele, porque eu sinto que já parti à muito, apenas o corpo permanece aqui, carregando esta dor com ele. Até quando não sei, só sei que a dor tem vindo a aumentar de dia para dia, até chegar a este ponto, em que se torna insuportável.
Rezo para que o último suspiro chegue rápido e seja breve para conhecer o alívio do que é não sentir mais nada.