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 O tempo vai passando como o vento leva as folhas acastanhadas no Outono. A vida são como as folhas: nascemos verdes, crescemos amarelados, envelhecemos acastanhados até que a vida nos leve como o vento leva as folhas e seremos apenas cinzas e esquecidos como os outros. A vida é um ciclo de folhas.
 O frio foi-se aproximando-se como o tempo e o Inverno chegou às portas da pequena e inútil cidade. O clima frio sempre foi algo que me aconchegava, literalmente. o Inverno para mim sempre foi amigável; passar os dias de chuva a ver um filme e enrolada numa manta e fumar. O cigarro é a única coisa que me aquece.
 O Verão para mim foi sempre antónimo de felicidade, não estou a dizer que não gosto e ferias, mas este atrai jovens a sair ou à praia/piscina com amigos a divertirem-se. O que é divertimento para mim? Nem eu tenho a certeza o que é. Felicidade para mim é um mito como o amor assim o é. 
 Olho ligeiramente para a janela ao meu lado e observo as folhas a serem sopradas pelo vento. As folhas somos nós e o vento são os problemas da vida. Identifico-me tanto como as folhas no Outono. 
 A aula já ia quase a meio e incrivelmente secante, apesar de ser da disciplina de Historia, a minha favorita. 
 Vasculho a sala inteira olhando todos os rostos presente. Muitos estavam atentos ao que o professor dizia, porém alguns conversavam muito baixinho ou a dormirem ou até mesmo a rabiscarem as folhas dos seus cadernos. 
 De repente, um rosto estranho passa pelo meu campo de visão na mesa à frente da que está à minha direita. Este nunca o tinha visto na minha escola muito menos na minha aula de História. Os seus cabelos encaracolados quase que cobriam os seus ombros e a sua vestimenta é apenas algo confortável: umas calças pretas e um sweater cinzenta com algo escrito na frente com um casaco grosso de Inverno. Apenas consigo ver uma parte do rosto devido de estar de lado para mim, mas apercebo que este tem uma face elegante. 
 Sou interrompida pelo professor chamando-me à atenção por ter reparado que tinha estado quase a aula toda distraída. Este ao me chamar automaticamente todos olham para mim como eu se fosse algo de outro mundo que nunca tivessem visto e com os olhos do desconhecido possam em mim e ai percebo o quanto bonito este é. Pele clara, olhos verdes como o verde do mar, lábios avermelhados secos possivelmente do frio que está lá fora. Este apercebe-se que o observo e mostra um pequeno sorriso aconchegante. Ignoro-o por completo e observo a face do professor no qual mantive a mesma expressão por algum tempo. 
 -Peço de desculpa, Sr. Smith. Prometo não me distrair outra vez...Bem vou tentar.- assim que digo isto ele vira-me as costas e volta para junto do quadro com o manual na mão e volta para a matéria.
 Algum tempo passa, o suficiente para acompanhar a matéria, e o som irritante do toque faz-se ouvir indicando o final da aula.  
 Arrumo rapidamente as minhas coisas na minha mochila e deixo a sala de aula em diração ao meu local favorito. 
 Assim que chego local verifico se este não tinha pessoas, já que não queria lidar com pessoas inúteis. Apesar deste sítio não ser frequentado por estudantes, mas mesmo assim gosto de verificar. O local está livre dessas criaturas e sento-me na berma da varanda e retiro o meu maço de tabaco. Passo os meus dedos por cada cigarro e chego até ultima, observo o espaço vazio dentro da caixa. Tenho apenas 10 cigarros e em apenas uma semana quase metade da caixa foi devorada por mim. Pego num cigarro e coloco-o por entre os meus lábios. Puxo pelo chão a mochila para junto de mim, olho para a pequena bolsa e abro-a retirando deste o meu pequeno e abençoado isqueiro. Acendo o cigarro e volto-o a colocar na minha boca. Inspiro um fumo que sai pelo filtro do pequeno objecto e sinto-o a passar por cada canto dos meus pulmões.
 Eu não quero saber se isto vai me matar. Eu não quero saber se isto me vai caminhar para uma morte lenta e no final dolorosa. Eu não quero saber de nada disso. Afinal de contas, todas nós vamos morrer e seremos apenas uma folha em cinzas. A morte é certa, mas querem viver mais tempo outro não.
 Por um segundo o meu coração  para por susto ou por estupidez, mas apenas notei a porta de ferro a abrir-se e a primeira coisa que me vem à cabeça é esconder o que se tornara um pequeno cigarro por detrás das minhas costa de maneira que não estivesse à vista de alguma coisa.
 Assim que a porta abre-se toda, observo o novo rapaz da turma. 
 -Desculpa, não sabia que alguém se encontrava aqui. Eu apenas procuro um lugar para ficar sozinho.-este começa a gaguejar ao longo do seu pequeno discurso. 
 Dou por mim a sorrir pela maneira que ele falou, via-se que ele estava nervoso e para mim eu achava aquilo muito fofo.
 -Pois, mas este sitio já está ocupado.-digo um pouco rudemente e este atrapalha-se ainda mais.
 Se eu fui má? Talvez, mas este local é meu e para os meus momentos de necessidade de um cigarro e isolamento. 
 -Desculpa, eu... eu vou me embora.- novamente ele gagueja e fira-se ficando costas para pronto para ir-se embora. A sua voz era já de um homem, mas de um menino ao mesmo tempo.
 Penso por muito pouco.
 -Olha podes ficar se quiseres.- as palavras saíram de repente da minha garganta sem dar-me de conta.
 Ele vira-se novamente e deixa um sorriso sair dos seus lábios mostrando os seus lindos  dentes. Ele aproxima-se cada vez mais de mim e assim que está junto de mim este senta-se no final da varanda muito junto de mim. Alias demasiado para o meu gosto.
 Retiro  o quase inexistente cigarro do esconderijo e levo-o à boca inspirando um pouco deste.
 O rapaz, no qual o nome não se sabe, olha para com uma expressão confusa para mim.
 -Que eu saiba não se pode fumar dentro de escolas.-pergunta, mas desta vez sem gaguejar. 
 Dou um pequeno riso e suspiro o fumo para a sua face brincando um bocado com ele. Este imediatamente começa a tossir e a abanando a mão na tentativa de afastar o fumo tóxico de junto de sim. Dou uma pequena risada em reação ao seu ato e logo de seguida pressione o pequeno cigarro contra o chão apagando este.
 -As pessoas não sabem que fumas aqui?-este pergunta inocentemente. 
 -Só saberão se alguém contar.-digo referindo-me a ele. 
 Ele olha para sem expressão na cara, mas logo vira a cara dando um pequeno sorriso. Assim que ele volta a olhar para mim, os seus olhos esmeralda entram nos meus e isto deixa-me desconfortável já que eu nunca gostara de olhar nos olhos de qualquer pessoa. Nunca consegui olhar directamente nos olhos de alguém. Não sei se é pura estupidez ou algo normal, mas que deixa-me desconfortável isso sim.
 -Harry.-ele diz e deixa-me confusa.
 -O quê?-pergunto 
 -Chamo-me Harry.-diz e eu ignoro-o apenas deixando um okay sair pela minha boca.-E tu não vais-me o teu nome?
 Assim que ele pergunta o meu nome eu olho para ele e pressiono o cigarro contra o chão frio apagando o mesmo e observo a sua face. Nunca foi de me apegar à pessoas e muito menos ter amigos. Apenas não consigo sentir ligação com alguma pessoa apenas com a minha doce avó.  
 Dou por mim a olhar para o nada, apenas pesando em alguma coisa. Coisa que nem eu sei, mas apenas pensando. Preferi não responder à sua pergunta.
 Sinto o tempo a passar e, por entre do santo silencio, o toque irritante da campainha faz-se ouvir. Imediatamente, levanto-me do chão e dirijo-me para a porta de ferro pesado e deixo o local, sem dizer nada a ninguém, pronta para ter a próxima aula.
  


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⏰ Última atualização: Nov 06, 2018 ⏰

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