Sol

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Conheci Jongdae em gelado inverno de Seul. Eu acabara de me mudar para a Coreia do Sul e não conhecia quase nada. Meu propósito era estudar o idioma na universidade e poder dar aula de chinês para os sul coreanos. E só isso.

Eu não tinha planos. Apenas seguia minha vida sem estorvar ninguém, assim como um bom introvertido faria, mas era impossível não se comunicar dentro da faculdade, principalmente quando se tratava um curso de línguas.

Baekhyun fora meu primeiro amigo. Ele sentava ao meu lado e conversava sobre assuntos aleatórios. Na época o meu coreano era terrível, mas ele entendia bem. Trocamos nossos contatos e eu passei a estudar na casa dele, ele me ensinava coreano e eu o mandarim.

Ele morava junto com o namorado, KyungSoo, uma adorável pessoa, que sempre nos agraciava com uma xícara de chocolate quente para nos aquecer naquele frio inverno. Eu costumava ir para a casa de Baekhyun quase todos os dias, e vez ou outra ele reunia os amigos para um jantar ou uma pequena festa, tanto Soo quando Baek possuíam vários amigos e eu acabei conhecendo vários deles.

Mas eu não quero falar só de mim, não. Eu não estou escrevendo aqui para contar sobre minha experiência como imigrante. Estou aqui para falar de Kim Jongdae.

Como já disse, nossa primeira troca de olhares fora em um dia frio, na casa de Baekhyun, inclusive. Eu cheguei atrasado para o jantar e só pude apreciar a sobremesa. Jongdae havia preparado um petit gateau, um dos melhores que eu já havia experimentado.

"Ninguém nunca me elogiou antes" – ele sorria após o meu agradecimento pela sobremesa "às vezes faz falta alguém dizer o quanto você é importante, sabe?".

Ele havia levantado uma discussão filosófica, dizendo o quanto era importante dizer coisas boas aos outros e expressar gratidão. Aquilo era um papo muito profundo para quem apenas tinha elogiado a sobremesa, mas eu não me importei de ouvir suas ideologias e ele também foi capaz de ouvir as minhas.

Naquele momento eu descobri que Jongdae era especial. Diferente.

Ele dizia que queria ser alguém útil na vida dos outros e que sua existência dependia apenas da felicidade de seus amigos e colegas. Expliquei que o nome era empatia e ele ficou feliz em saber em qual conceito se encaixava. Questionei-o sobre o cuidado que ele tinha com seu "eu", e ele me respondeu que não era egoísta. E antes que eu pudesse rebater ele soltou me interrompeu.

"Só um minuto" – levantou-se da cadeira – "Acho que Kyungsoo precisa da minha ajuda".

Ele sempre se esquecia de seu universo e das dores quando se tratava dos outros, era como se guardasse o próprio problema no bolso e o esquecesse. Por mais que eu achasse a ação admirável, eu não conseguia compreender o porquê de Jongdae se sacrificar em prol de pessoas que não devolviam nem 1% do que ele realizava.

Em meio a tantos encontros na casa de Baekhyun e Kyungsoo, acabei me tornando amigo mais próximo de Jongdae. Ele sempre se oferecia para lavar a louça ou limpar a bagunça depois das confraternizações, e eu não o deixava fazer tudo sozinho. Talvez eu me sentisse atraído por suas ideologias, dizendo que todas as energias ruins são canalizadas em boas energias com apenas nosso esforço. Talvez Jongdae tivesse uma energia tão boa que eu me sentia atraído por ela.

Mas nem tudo era perfeito.

Aquele Jongdae brilhante que eu conhecia era apenas uma casca daquilo que ele escondia lá dentro.

Um dia fiquei encarregado de secar as louças que ele lavava. Ele estendia os pratos um tanto tímido, tentando não manter contato visual. Pensei que ele estivesse cansado, afinal fora uma festa maior do que estávamos acostumados, era a festa de noivado de Baekhyun e Kyungsoo. E então, quando ele esticou o braço, eu vi.

GirassolWhere stories live. Discover now