Capítulo III

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17/04/1990

Eu andava de rastos. Desde que soube do sucedido que não voltei a comer, brincar ou fazer qualquer outra coisa normal de uma criança de 6 anos.

***

Eram cerca de 14:00 quando a minha mamã entra no meu quarto, toda ela vestida de preto.

Mãe: Carlinhos ?

Fingi estar a dormir, mas a minha mãe conhecia-me demasiado bem.

Mãe: Carlinhos ? - insistiu ela.

- Não quero estar com ninguém mamã, por favor.

Mãe: É dia do funeral do tio.. não lhe queres vir dizer um último "xau xau" ?

- Quero! - digo levantando-me.

***

Estávamos já no cemitério, quando começaram a fazer, um por um, um discurso de quão bondoso meu querido tio tinha sido durante sua vida, mesmo que esta não tivesse sido muito comprida..

Mãe: Não queres dizer nada, filho ?

- Quero sim.

Minha mãe acompanhou-me até ao pé do caixão e alertou indirectamente as pessoas para não ligarem muito ao que eu iria dizer, até porque tinha 6 anos e talvez não soubesse o que é vida.

- Bem.. este senhor aqui deitado, deu-me muita alegria no tempo em que esteve comigo. Sempre me fez sorrir em momentos tristes, a mim e a qualquer pessoa que ele gostasse. E não há aqui ninguém que ele não gostasse. Ele sempre animou todos, em qualquer altura, mesmo que não estivesse com paciência ou disposição. Ele ajudou-me em muita coisa e apoiou me em tudo, sem nunca pedir nada em troca. Essa foi a pessoa que eu conheci, e que vou levar comigo para sempre, no meu coração. 💛

Saí daquele cemitério o mais rápido possível, acompanhado dos meus pais. Eu não aguentava ficar ali nem mais um segundo. As lágrimas tomaram o meu rosto, e nada as fazia parar.

Mal entrei em casa, fechei-me no quarto e chorei, toda a noite, sem parar.



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