•We are Still Alive•

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Mais um longo dia se estendia pela frente, caminhando nesse mundo caótico, digno de pena. O inferno queimando para os humanos que tiveram o prazer - ou desprazer - de conservarem suas vidas desgastadas e singeladas.

A necessidade concisa de sobrevivência manifestada em seus corpos deixou todos à mercê de suas próprias ações impias. Para alguns, considerados atos profanos, para outros, circunstâncias de um mundo destruído que manifesta a sobrevivência.

Uma gota gélida de suor escorreu por minha testa, não hesitei ao limpá-la livremente e resvalar a ponta de meus dedos por minha epiderme ardente enodoada.

Meu estômago e garganta alertam-me de minhas carências humanas, a míngua de água ou qualquer tipo de alimento começa a se manifestar, fluindo um breve desconforto que pode suceder-se e abalar seriamente minha imunidade.

Eu precisava encontrar àgua e comida. Mesmo que sejam castas, um pouco delas é o bastante para que minha efêmera vida se estenda por mais alguns dias.

Conforme eu traçava meus passos cruzados e guiava meu corpo fraco pelos arbustos verdes e bem erguidos, um pequeno ruído de vida chegou a meus ouvidos e eu cessei meus passos. Meus olhos pairaram sobre um esquilo no chão da floresta, atrapalhado dentre as folhas secas, devorando uma noz ingenuamente.

Projetei movimentos cautelosos, qualquer barulho ameaçador poderia espantá-lo para longe ou além do alcance dos galhos das árvores. Dias e dias de estômago vazio cegavam-me a ponto de querer transformá-lo minha única alimentação para o resto do extenso dia.

Abaixando-me com cautela, provocando um atrito entre meu joelho exposto no retalho da calça e o solo, empurrei meu corpo próximo a minha cachorra de estimação jogando meu olhar em sua direção cautelosamente.

Lilika não escondia seus extintos animais ao meu lado. Suas orelhas pontudas - quase comparadas à de um lobo - mantinham-se erguidas no àpice de sua cabeça coberta por pelagem preta com leves salpicações brancas. Seus olhos âmbares brilhantes mantinham-se fixamente coladas ao pequeno ser indefeso perdido às folhas.

Formando uma pequena concha com minhas mãos, aproximei-me de seu ouvido. Suas orelhas bateram com o roçar de meu contato com seus pelos compridos. Projetei em meus lábios um movimento casto e assoviei, dando-lhe a ordem que ela aguardava anciosamente.

A princípio e sem piscar, esticou sua pata e deu seu primeiro passo casto cauteloso. Sem obter movimentos da presa à alguns centímetros, logo deu seu segundo e terceiro passo. Ao quarto, seu peso esmagou uma folha seca e a presa se estagnou, em alerta.

Soltei o ar com pesar. Lilika pode ter percebido a tensão da presa e cessou os passos conforme o pequeno esquilo esticava seu pescoço e girava sua cabeça em vários ângulos. Titubeante, arrastei minha mão direita às minhas costas conforme apoiava meu peso com a esquerda no solo. Uma lufada de ar jogou meus longos fios vermelhos carmim para longe de meus olhos permitindo que eu reparasse com clareza.

Sua distração se fez presente e Lilika tornou a se movimentar com cautela. Atei meus dedos em meu revólver preso ao meu cinto e o puxei para fora, me armando com ele. Erguendo meu revólver em uma linha retilínea ao esquilo, posicionei meu indicador no gatilho.

Um passo falso de Lilika foi o bastante para mostrar à presa que ele não estava sozinho. O pequeno animal se preparou para correr, porém, Lilika se apressou. Com um salto - sacudindo as pelagens e esticando as patas da frente - alcançou o animal. Estiquei meu pescoço a fim de presenciar a cena, Lilika rosnava e chacoalhava a cabeça ao mesmo ritmo dos sons que o pequeno esquilo emitia.

Levantei-me quando Lilika cessou seus movimentos. Abanando seu rabo peludo, ela se virou para mim, exibindo o cadáver do esquilo preso aos seus dentes, seus pelos em volta da boca e o focinho molhados com sangue. Sinalizei para que ela o trouxesse até mim.

Lilika soltou o animal morto em minha mão estendida em sua direção. Revirei seu pequeno corpo o examinando, aparentemente, estava limpo.

Deixei minha mochila no chão próximo à mim, o escorando em minha perna direita. Puxei o zíper pelo contorno da mesma invandindo seu interior com minha mão tateante. A devolvi para perto de mim quando o saco plástico roçou levemente a ponta de meus dedos.

Empurrei o corpo sangrento e peludo para dentro do saco plástico, contornando-o e enlaçando as orelhas do mesmo. Devolvi o saco - agora sustentando o esquilo - para dentro da mochila surrada com alguns retalhos aparentes.

Puxei a alça da mochila para cima do meu ombro direito e chamei Lilika com outro assovio. Dei passos rápidos à frente por entre os pinheiros salpicados pela extensão da floresta. O ar fresco junto com uma leve brisa que, automaticamente, oscila as folhas nos topos das árvores e algumas no solo junto à pequenos grãos de terra seca. Meus cabelos são jogados às minhas costas e eu fecho meus olhos durante a breve ventania fresca que traz uma calmaria elevada à outro patamar.

Retorno a realidade mórbida ao ouvir um pequeno ruído molhado emitir por baixo de meu tênis. Meus olhos encontram meu All Star - surrado e desgastado pelo uso demasiado do mesmo - que acabará de dar seu novo piso. Afasto meu pé para o lado exibindo um pequeno fruto roxo moído contra o solo que libera um leve sumo claro.

Lançando meu olhar para cima, sem rodeios, me deparo com várias amoras presas à ponta dos galhos - alguns quebradiços - de uma àrvore qualquer no meio de tantas. Molhando meus lábios impetamente, estiquei meus dedos colhendo algumas das frutinhas escuras, fazendo um pequeno punhado delas em minha mão.

Degustei algumas conforme atirava outras para Lilika. Além de estarem doces, o molhado em seu interior refresca minha língua sedenta.

Alguns passos reverberaram e eu engoli os pequenos frutos em minha boca. Espiando por cima de meus ombros, três figuras se aproximavam, grunhindo alto e famintos.

Me virei ao mesmo tempo que Lilika, a mesma rosnava em alerta conforme os corpos esgueiravam-se até nós. Com um sorriso satisfeito nos lábios, saquei minha adaga para perto de meu peito pronta para me defender.

Um último rosnado vindo de Lilika foi o bastante para que seus braços se esticassem e eu estivesse preparada e pronta para atacar.

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Espero que tenham gostado.
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㊣Ghost™

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⏰ Última atualização: Oct 07, 2017 ⏰

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