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     Sinto minhas mãos transpirarem e minhas pernas ficarem mecânicas, não tenho direção própria, apenas sigo o caminho das outras pessoas como um gado junto a seu rebanho. Como pude me sujeitar a isso? Quando pensei que me mudar seria algo bom pra mim? A culpa invade meu peito ao pensar em quantas pessoas desejariam isso, quantas não tem nem a oportunidade de ir em busca de um estudo melhor. Paro imediatamente e respiro fundo, meus pensamentos ainda vão me consumir por inteiro. Saio dessa transe quando sinto um peso em meu ombro, esbarrei com um garoto. Ele é alto, afro bege e tem cabelos cacheados, carrega uma feição um tanto quanto misteriosa. Noto sua tatuagem no braço e imediatamente constato que é brasileiro como eu, é um desenho que simboliza o samba.

— Presta atenção garota — Sua voz suave, mas ao mesmo tempo forte logo foi revelada e me surpreende bastante. Seu rosto não expressa a ideia de alguém tão sem educação.

    Sigo meu caminho tentando ignorar esse momento e consigo alcançar a fila para ingresso no avião. Passo por todo um procedimento e entro sem nenhuma preocupação, já que despachei minha mala e só carregava uma pequena mochila preta. Sigo um corredor enorme até entrar nesse trem que voa e me sento logo numa das primeiras cadeiras. Fico olhando pela janela enquanto o avião não decola e cada vez mais pessoas passam ao meu lado, isso de certo modo me irritava. Porém, o maior motivo da minha preocupação era quem se sentaria ao meu lado, seria um velho pedófilo de 50 anos? Talvez uma criança chata desacompanhada ou uma senhora fofa que fala demais. Seria ótimo se fosse qualquer uma das opções, avisto o garoto que havia esbarrado mais cedo ajustando suas malas no compartimento próximo ao meu assento, torci para que tal não sentasse no banco junto ao que eu estava, mas o contrário aconteceu.

— Hey — Resolvi chamá-lo para me desculpar e pelo menos saber o nome dele. Tenho o dom de xingar as pessoas mentalmente, mas depois querer dar uma chance pra conhecê-las melhor.

— O que foi? — Respondeu com um tom meio arrogante.

— Qual seu nome?

— João Lucas —Diz breve

— Thainá! Significa estrela do amanhã...

    O garoto ficou em completo silêncio e fingiu que não ouviu. Isso me desanimou muito, pois já vi que meu jeito de socializar com outras pessoas não é um dos melhores. Pensando muito nesse aspecto da minha personalidade acabei pegando no sono.

...

    Acordo com a comissária de bordo me chamando, vi que tinham poucas pessoas saindo da aeronave. Parecia que eu ia ficar sozinha no avião. Noto o meu recém conhecido João Lucas se despedindo e agradecendo a aeromoça por tal ação em relação a mim, fico de certa forma confusa, mas deixo passar. Tento ignorar toda angústia que estava me consumindo no aeroporto do Brasil. Respiro fundo pra colocar minha fluência em prática e saio já indo em busca das minhas malas. Assim que as consigo vou para o lado de fora aguardar um motorista que a central de ajuda chamou pra mim.

    Não tive que esperar tanto, depois de uns 10 minutos avisto o taxista, que pronunciou com um engraçado sotaque estadunidense meu nome. Coloco minhas coisas dentro do veículo e informo meu destino. Quando chego parece que toda minha preocupação foi embora, pago o motorista, saio do carro com minhas coisas e imediatamente abro um sorriso enorme. Analiso a familiar casa dos meus irmãos, eles foram estudar nos EUA quando mais novos, assim como eu. A pintura puxada para o tom pastel me passa uma energia aconchegante, mas nada melhor do que ouvir a risada de alguém próximo. Corro pra dentro largando tudo pra trás e pulo no colo da primeira pessoa que vi, Rafael.

— Vai com calma — O jeito que me segurou forte, contradisse suas palavras. Senti a saudade que carregávamos no meio dessa troca de energia.

— Saudades criançona — Beni, irmão gêmeo do Fael, diz e logo me desprendo de um para abraçar o outro.

— Cadê o Pedro Henrique? — Questiono curiosa

— Tá dormindo amanhã vocês podem se ver ok? — Fael diz sério, já percebo que ele me quer descansando — Vou pegar suas malas lá fora

— Certo! Vou dormir, amanhã vai ser um dia complicado — Mordo meu lábio inferior já nervosa de pensar que logo no dia seguinte teria que ir pro colégio.

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qual filme favorito de vocês?

estou mudando alguns detalhes da historia, mas não ela por completo. espero que gostem, pois ela representa uma nova fase na minha vida também :)

o otário da casa ao lado ➹ revisandoOnde histórias criam vida. Descubra agora