O barulho foi como uma marretada na cabeça de Jorge. Revirou-se na cama, seu corpo parecia pesar uma tonelada. O celular estava no chão, era uma ligação de alguém salvo nos contatos com o nome de "PNs".
-Alo... Quem tá falando? – Sua voz saiu rouca.
-Bom tarde rapaz! – Era um homem - Nós conversamos ontem. Não se recorda? – Jorge olhou para o relógio do celular que marcava 18:07, tentava se lembrar o que tinha ocorrido na noite anterior mas só se lembrava de ter falado com uma garota, uma garota ruiva. Renata!
-Você é amigo da Renata? – Perguntou enquanto procurava algo para vestir meio a bagunça.
-A garota ruiva? – Perguntou- Sou sim, agora sou amigo dos dois. São duas pessoas de bom coração. – O homem tinha uma voz paternal e calma. – Você poderia anotar algo para mim? Eu sei que perdeu o papel que lhe dei – Jorge concordou. Ele lhe passou um endereço que Jorge não fazia ideia de onde era. – Aquela grande oportunidade está de pé ainda!
-Grande oportunidade? – Jorge se esforçava para tentar lembrar-se de algo, sua cabeça doía muito. Preciso de um banho gelado, pensou.
-Sim! Apareça nesse endereço as 19:20. Eu explico tudo de novo quando nos encontrarmos, preciso desligar. Um abraço meu amigo. – Sr. Pêenes desligou, Jorge resolveu chama-lo de Sr. Pêenes. Quem seria esse cara? Porque eu não me lembro dele? Que oportunidade seria? Muitas perguntas que aguçaram sua curiosidade.
Jogou todas as coisas do chão pro alto, comemorou quando encontrou as chaves do carro e foi em direção à porta quando se deparou com metade de um homem com um terno sob medida que estava parado próximo a porta de seu quarto, tirando uma peça de roupa que Jorge o acertou. Jorge gritou, trocando a voz rouca por um grito agudo assustado:
-Que jovem organizado! – Disse o homenzinho sorrindo irônico – Ainda bem que estou aqui pra lhe ajudar.
Jorge o encarou após o grande susto que tomou, por que diabos tem um anão de terno na porra do meu quarto.
-Fruta que caiu! Você fugiu de Westeros pra me assustar? Que merda cara!
- Westeros meu jovem? Anões vivem nesse lugar? – Apertou os olhos em direção a Jorge.
-Não, meu Deus. Esquece! O que faz aqui?
-Vim lhe acompanhar! – O anão abaixou-se e esticou o braço num gesto cordial. –Meu nome e Zacarias, muitíssimo prazer!
-Ótimo! – Jorge sorriu – Me faça companhia até la fora.
Indicou a saída para Zacarias que o acompanhou. Segundos após trancar a porta correu para seu carro fugindo daquela maluquice. Abriu a porta do carro as pressas, deu partida e acelerou, olhando o anão diminuindo cada vez mais no espelho retrovisor.
-Peço uma Branca de Neve e você me manda um anão? – Disse olhando para o céu.
-Quem é essa Branca? – Respondeu uma voz no banco do passageiro, era Zacarias. Jorge mais uma vez mostrou o seu grito agudo e o carro balançou na rua quase raspando a guia. Ele parou o carro e o olhou sem palavras. O anão havia brotado como mágica ao seu lado. Deu tapas no seu rosto pensando estar drogado ainda. "Meu Deus, eu preciso me tratar", pensou.
-Vire a próxima rua da padaria a direita, por favor. – Indicou amigavelmente. Jorge entendeu que estava ainda com efeitos das drogas e resolveu deixar rolar. Não conteve sua gargalhada.
-Sem problemas Oompa Loompa, vamos até a fábrica do Willy Wonka!
Um homem de cabelos grisalhos o esperava dentro de um pequeno restaurante bebendo um refrigerante. Chegaram no horário combinado, Zacarias foi até ele e fez o mesmo gesto de cordialidade, o homem sorriu em resposta. Jorge sentou-se com ele, o encarou tentando lembrar se já o tinha visto. "Só pode ser pegadinha", pensou sarcástico, "é o merda do Papai Noel".
Riu quando o velho o cumprimentou. Já aceitava que estava maluco e estava apenas entrando no "jogo".
-Exatamente! Chamo-me Papai Noel rapaz. E nós fizemos um trato. Um trato muito importante a que vim cobra-lo hoje.
-Claro que o senhor é o Papai Noel! – Sua voz saia sarcástica - O Tyrion ali é o seu duende e eu vim aqui para ser sua rena voadora. – O velho gordo soltou uma risada.
-Olha isso, até sua risada é a dele.
-Você era um garoto interessante. Filho único, pais ausentes. Sempre falava comigo, quase todos os dias, na esperança de mudar sua vida e tira-lo da solidão. Lembro-me de seus pedidos e daquele mais importante feito do fundo do coração. Algo nesse pedido me fez pensar muito e hoje eu o realizarei. – O velho se acomodou na cadeira e colocou as mãos na barriga com um sorriso que apertava suas bochechas vermelhas.
-O que... Depois de anos, hoje vai realizar meu pedido para ser... você? Isso só pode ser brincadeira. Mas acredite, eu seria um Papai Noel muito melhor do que você jamais foi!
- E você será meu rapaz – O velho deu outra risada, "hohoho" – Está decido! Você fará meu trabalho por uma única noite de natal. Queria muito tirar férias.
-Um brinde! – Jorge levantou seu copo - E quanto é o salário? – Perguntou ironicamente. Zacarias apareceu rapidamente, Jorge já estava ficando irritado com aquilo, o velho começou a rir e uma luz forte brilho quando os copos se tocaram. E depois a escuridão.
O barulho foi como uma marretada na cabeça de Jorge, ele se revirou na cama tentando levantar, seu corpo parecia pesar uma tonelada. O celular estava no chão, era Renata. Ele rolou até a ponta da cama e caiu no chão. Assustado olhou em volta a procura de um anão mágico e um velho barbudo dizendo ser o Papai Noel. Nada. Foi um sonho, ufa. Preciso parar com as bebidas e as drogas. Foi para o banheiro. Aliviado, ligou o chuveiro em temperatura polo sul. Pensou em tudo que se lembrava do seu sonho e começou a rir sozinho.
Do lado de fora, próximo ao seu carro estava um anão de terno o esperando com um sorriso no rosto.