Conversando com Deus

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Eu topei com deus outro dia

Eu sei o que você está pensando. Como você pode saber que era mesmo deus?

Bem, eu vou explicar à medida que avançamos, mas basicamente ele me convenceu por ter todas, realmente TODAS, as respostas. Qualquer pergunta que eu atirava nele, ele rebatia com uma resposta plausível e satisfatória. Ao final, foi mais fácil aceitar que ele era deus do que o contrário.

O que é estranho, porque eu ainda sou ateu e nós até mesmo concordamos nisso!

Tudo comecou às 8:20, em Paddington. Eu peguei um bom assento ao lado da janela, sem crianças gritando ou adolescentes bêbados ao alcance do ouvido. Nem mesmo um celular à vista. Me sentei, lia o jornal, e eis que ele entra.

Como ele se parecia?

Não como você esperaria, com certeza. Ele tinha por volta dos 30 anos, trajava um par de jeans e uma camiseta. Definitivamente casual. Parecia que poderia ser um assistente social ou talvez um programador como eu.

– 'Esse assento está livre?', ele disse

– 'Fique à vontade', eu respondi

Ele se senta, relaxa, eu ignoro e volto às cartas sobre comida geneticamente modificada entrando nos supermercados. O trem começa a andar, e alguns minutos depois ele fala

– 'Posso lhe fazer uma pergunta?'

Lutando pra não parecer surpreso eu respondi "Sim" em um tom que dava a entender que poderia não me importar com uma pergunta, possivelmente até uma segunda, mas que definitivamente não estava no clima pra uma conversa.

– 'Por que você não acredita em deus?'

Filho da puta!

Eu amo esse tipo de conversa e posso dialogar por horas sobre o nonsense das crenças teístas. Mas tenho que estar a fim! É mais ou menos como se um testemunha de jeová batesse à sua porta 20 minutos antes da sua operação de extração de siso. Por mais que você realmente adorasse ficar, não tem nem como começar a diversão. E eu sabia que, se eu desse a minha resposta padrão, ainda estaríamos argumentando quando o trem chegasse em Cardiff. Eu simplesmente não estava no clima. Eu tinha que cortar ele.

Mas então eu pensei 'Como é que esse completo estranho está obviamente tão seguro – e correto – sobre meu ateísmo? Se eu estivesse dirigindo meu carro, não seria nenhum mistério. Eu tenho o peixe de Darwin no vidro traseiro, o antídoto pra aquele peixe cristão que se vê por todo lado. Então, qualquer um que visse o peixe e o entendesse, iria adivinhar minha filosofia. Mas eu estava em um trem e nem mesmo usando minha camiseta que diz "Evolua" aquele dia. E o The Independent não é uma marca registrada para ateus de carteirinha. Então, eu me perguntei, o que entregou o jogo?

– "Por que você tem tanta certeza que eu não acredito?"

"Porque", ele falou, "eu sou deus – e você não teme a mim"

Você vai ter que acreditar na minha palavra, é claro. Mas tem meios de mandar uma dessas que fariam de quem proferisse tal frase um candidato a um hospício. Ou pelo menos prozac. Falar assim como um "fato indiferente" é uma tarefa difícil, mas foi exatamente como ele fez. Nada no seu tom de voz ou atitude me pareceu não combinar com a alegação. Ele disse isso porque ele acreditava nisso e sua racionalidade não parecia estar sendo induzida por drogas ou ser o resultado de um colapso mental.

– 'E por que eu deveria acreditar nisso?'

'Bem', ele disse, 'por que você não me faz umas perguntas? O que quer que você queira, e veja se as respostas satisfazem sua mente cética.'

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⏰ Last updated: Sep 26, 2017 ⏰

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