Sábado, outubro. 23:17.
Ao longe via luzes e ouvia os sons da festa. Lya, minha amiga desde que cheguei em Londres, há 4 meses, havia me convidado para um suposto racha.
Confesso que inventei milhares de desculpas, mas nenhuma foi tão boa a ponto de me deixar livre neste sábado. Parei o carro no que devia ser um campo e liguei para Lya, notificando minha chegada.
- Alguém chama um oculista que acho que tô vendo coisas. - ouvi a voz de Lya.- Ao vivo e em cores. - dei uma voltinha, rindo.
- Vem. - Lya pegou minha mão e me guiou pela multidão.
01:06
Bêbada. Essa palavra descreve muito bem meu atual estado. E cansada, querendo uma cama.
Os rachas já haviam começado e eu definitivamente não estava nem aí. Lya me entupia de coisas que eu nem sabia se não eram tóxicas e era tudo que eu precisava. Precisava ocupar o vão, a solidão e o vazio.
Os pneus cantando se tornaram músicas para mim, e a gritaria da multidão era como um coral.
03:09
Lya me contava sobre como conheceu seu primeiro namorado na fila de uma clínica veterinária pela bilionésima vez aquele mês, e para mim, não perdia a graça em nenhuma delas.
- Ele me perguntou qual era o melhor antipulgas para tartarugas, dá para acreditar? - ela ria com a mão na barriga.
- Meu Deus você precisa me apresentar a ele qualquer dia. - eu gargalhava junto.Em questão de segundos, minha audição se transformou num zunido alto e estridente. E a multidão se locomovia separadamente. Meu corpo já havia perdido todos os sentidos. E eu aparentava estar caindo.