Capítulo Um

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       Meus joelhos batem em cascalhos e eu sinto cortes superficiais neles, meus olhos ardem com a vontade de chorar, mas seguro as lágrimas. Levanto, respiro fundo e ergo a cabeça. Durante toda minha vida, fui ensinada a segurar o choro e sorrir, mesmo que por dentro eu não estivesse com vontade de ser agradável com ninguém. Olho para baixo, a barra de meu vestido rosa claro está suja de lama, assim como meu par de botas pretas, que consegui com uma garota que conheci recentemente na cidade, eram boas para andar ali. Pego a saia volumosa e caminho em direção ao palácio, mesmo com a ardência em meus machucados incomodando. Aquela é minha casa, uma construção imponente, cheia de torres, corredores, escadas e cercada por guardas, posso dizer que é linda, mas mesmo assim eu continuo fugindo para a floresta, a fim de ter um tempo livre só pra mim, sem soldados me escoltando por onde quer que eu vá, sem olhares curiosos de serviçais me encarando, querendo olhar um pouco para a princesa rebelde e sem meus pais, o rei e a rainha, estarem atrás de mim, repetindo que eu preciso ser perfeita. É bom estar longe de todas aquelas pessoas, mas por outro lado, muitas vezes, ao caminhar entre as árvores, acabo por adquirir machucados, assim como aqueles arranhões.

       Quando estou passando por uma árvore, escuto barulho de pés pisando o solo e quebrando galhos caídos, paro imediatamente e viro minha cabeça na direção do som, meus cabelos castanhos sendo bagunçados pelo vento. Posso ouvir os passos aproximando-se. O mais silenciosamente possível, escondo-me atrás de uma árvore e pego um galho no chão, pronta para bater na cabeça de quem quer que for. Tento controlar minha respiração ao ver o intruso entrando em meu campo de visão. Sinto a adrenalina correr pelo meu corpo, e aperto as mãos em volta da madeira que seguro enquanto ele se aproxima. O estranho passa pelo meu esconderijo e não me olha, posso vê-lo por trás, seus cabelos são loiros e sua postura é perfeita. Por descuido, minha respiração soa um pouco alta demais e o rapaz vira, seus olhos azuis encaram os meus e ele aproxima-se de mim, enquanto fico contra a árvore, ainda segurando minha arma, ergo-a e bato nele com força, o fazendo gritar e cair para o lado, segurando o ombro em que eu bati.

       — O que é isso? – um homem alto, com roupa de soldado do palácio aparece em meu campo de visão. Parker, o general da guarda. – White, você está bem?

       O atingido por mim levanta do chão, ele ainda parece com dor, mas em seus olhos não há nenhum indicio de querer chorar por causa disso.

       — General, encontrei a princesa. – sua voz é grave, o que faz com que arrepios subiam pelo meu corpo. – E, aparentemente, ela gosta de bater nos soldados.

       Parker corre até nós enquanto solto o galho no chão, é pesado, mas com o medo, nem senti seu peso ao pegá-lo. White, pelo visto, esse é o sobrenome dele, ajeita os cabelos, tirando folhas e sujeira deles, ele é um rapaz bonito, não parece ser muito mais velho do que eu. Posso ver que sua boca está sangrando um pouco, deve ter batido no chão quando o acertei. Encaro-o da cabeça aos pés. Os uniformes de cada hierarquia de soldados são diferentes, enquanto o do general é de um vermelho vivo, com botas pretas, o do outro é de um preto básico, de botas da mesma cor. Ele é um soldado, novo, pelo visto.

       — Katherine... – Parker começa, ele me chama pelo meu nome por ser amigo intimo de meus pais, foi papai que deu a ele esse posto, mas logo se corrige, ao lembrar-se do novato: — Vossa alteza, sinto muito em ter lhe assustado, mas o rei e a rainha mandaram-nos para procura-la.

       — Não preciso que ninguém me procure. – retruco, passo pelos dois e caminho na direção em que estava indo antes do loiro aparecer. – Já deixei claro para todos que não quero ninguém atrás de mim, inclusive meus pais.

       — Vossa alteza – o mais novo aproxima-se de mim, para na minha frente, impedindo-me de continuar minha caminhada. – Sou Dylan White, fui recrutado há pouco. – ele faz uma reverência exagerada, e em seguida ergue-se, mas posso ver a dor e a raiva faiscando em seus olhos.

Vossa AltezaWhere stories live. Discover now