Capítulo Dois

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       Abro os olhos lentamente, um pouco desnorteada. Sinto que estou deitada em um colchão macio, mas em uma cama pequena. Sento, colocando a mão sobre um lado da cabeça, tentando clarear os pensamentos. Estou em um quarto minúsculo, as paredes são feitas de madeira, sem pintura, e havia pouca mobília nele, apenas a cama de solteiro, um guarda-roupa de duas portas e uma mesinha de cabeceira, ambos do mesmo tipo de material que cercava o cômodo, parece que alguém os construiu de qualquer jeito e colocou-os ali. Giro as pernas para fora da cama, meus pés tocam o chão frio e sinto um arrepio percorrer meu corpo. Ainda estou fraca, mas preciso descobrir que lugar é esse.

       Olho para minha imagem refletida no espelho atrás da porta, uma camisola rosa comprida cobre minha pele, meus cabelos estão presos em um rabo de cavalo desajeitado e pareço muito pálida, como nunca estive antes. Toco a maçaneta ao mesmo tempo em que alguém do lado de fora o faz, e dou um pulo pra trás, batendo minhas costas na parede, sinto uma dor atravessar meu corpo, a peça é tão pequena que mal tem espaço para alguém se mover.

       Posso ver uma cabeça loira espiar, mas quando ela percebe que não estou na cama, abre a porta toda, e os olhos azuis recaem sobre mim. Dylan está parado no portal, ainda usando o uniforme da guarda, abaixo de seus olhos tem profundas olheiras.

       — O que está acontecendo? – pergunto. – Onde estou?

       — Eu trouxe você até aqui no meio da noite. – ele dá de ombros, me puxando, sem educação alguma, por um corredor mal iluminado.

       — Dylan... – murmuro, e em seguida lembro que ele é o novo soldado da guarda. – Soldado White, ordeno que me solte agora.

       — Ordena? – ele ri, mas faz o que mando. Entramos em uma cozinha, a mesa de madeira combina com as cadeiras marrons, assim como os armários que estão em toda extensão de paredes, a pia de alumínio está brilhando, sem louças dentro. – Vamos recapitular algumas coisas: aqui você não é a Princesa Katherine, então não pode dar ordens. Ou melhor, por enquanto não.

       — Mas você é soldado da guarda, ou seja, ainda tem que me obedecer.

       Com sua postura perfeita, anda até a geladeira branca que fica em um canto, e abre a porta, pegando uma garrafa d'água.

       — Não sou mais desde o momento em que entrei naquela sala e tirei-a de lá.

       — O que quer dizer com isso? – pergunto, olhando para suas costas.

       — Arrisquei minha vida para tirá-la daquele lugar. – finalmente seu corpo vira, e seus olhos encaram os meus, o desprezo expresso neles. – Mas não pense que tenho apreço por você, tenho outros motivos para ter feito o que fiz.

       Então ele larga a garrafa em cima da mesa, batendo-a com força e aproxima-se de mim, seu rosto bem próximo ao meu, e murmura:

       — Da próxima vez que me chamar de fracote, vai desejar nunca ter saído daquele lugar.

       Apesar de ser vários centímetros mais baixa do que ele, inclino meu rosto para cima, o mais perto possível do dele.

       — Você está me ameaçando? – posso ouvir a raiva através da minha voz. Ninguém me ameaça e fica por isso mesmo, e com ele não vai ser diferente.

       — E se estiver? – vejo que está me desafiando, esperando para ver o que irei fazer.

       Dou a volta na mesa, aproximando-me da jarra cheia de água, abro a tampa e jogo seu conteúdo nele, o líquido está gelado, e Dylan se encolhe ao senti-lo na pele. Pode parecer idiota jogar-lhe água, mas no momento, é a única coisa que posso fazer.

Vossa AltezaWhere stories live. Discover now