Min Yoongi não estava bem. Para falar a verdade, dizer isso era um grande de um eufemismo. Ele estava sozinho, com frio e perdido em pensamentos. Só o próprio sabia como ficar preso em pensamentos era ruim, ainda mais os seus pensamentos.
Para distrair-se deles, passava todas as noites em claro, escrevendo. Seu relógio biológico era programado para as madrugadas, especialmente com todas as suas obrigações. Fingir um sorriso e realizar todas as suas atividades era exaustivo, principalmente quando o que mais queria fazer era encontrar algum objetivo pontiagudo e bater sua cabeça ali até esmagar seu crânio.
Sim, isto parecia bom.
Mas, não podia se dar ao luxo de morrer. Ah, não, não era tão egoísta assim. Precisava manter-se em pé pela maior quantidade de tempo possível, não podia decepcionar ainda mais sua família. Já era um desapontamento por si só, se cometesse suicídio, apenas acabaria com o resto de expectativas que seus pais ainda mantinham sobre ele.
Simplesmente odiava os olhares que recebia, como se fosse uma criancinha perdida e desesperada por proteção. Ele já sabia que era um doente, inútil e uma decepção, não precisava que as pessoas lembrassem-no disto também. Sempre que via seus pais trocarem olhares cúmplices, sentia vontade de gritar a plenos pulmões e puxar seus cabelos. Precisava de cuidados, sim, mas não os queria. Queria ser tratado como uma pessoa normal, que ignorassem suas doenças estúpidas.
Mas, ao mesmo tempo, não queria. Queria ser abraçado, acolhido, queria ajuda, queria se livrar de tudo aquilo. Então, por mais que odiasse os olhares cúmplices e cuidado extremo, era extremamente grato por eles, porque ele sabia que, no fundo, ainda haviam pessoas que realmente se importavam com aquela carcaça que ele chamava de si mesmo.
Ele odiava tudo: crianças, felicidade, casais, barulho, adolescentes (mesmo que fosse um), as pílulas para anemia que tomava diariamente, as pessoas que se preocupavam consigo...
Mas, havia algo que ele odiava mais que todos os itens listados acima: a si mesmo. O que Min Yoongi mais odiava no mundo era nada mais, nada menos, que o próprio. Sentia vontade de bater o rosto contra o espelho sempre que via seu reflexo, cortar os pulsos até drenar todo o sangue de seu corpo quando escondia-se num banheiro qualquer para chorar e se matar quando... bem, o tempo todo. Qual seria a falta que faria, afinal? Era um completo inútil. Só sabia ficar trancado em seu quarto o dia todo e escrever. Não tinha finalidade alguma no mundo, portanto, poderia morrer à vontade.
Acima de tudo, odiava sua depressão, ansiedade e seu transtorno alimentar. Porém, sabia que era o único culpado, afinal. Não possuía habilidade social alguma e estava preso aos seus traumas do passado, mesmo após tudo que acontecera.
É claro, não poderia esquecer seus passados traumas. Eles ainda estavam mais presentes na vida do garoto do que ele gostaria de admitir, sussurrando palavras hostis em seus ouvidos como um lembrete que ainda estavam ali e que o atormentariam para sempre. Todo o bullying que enfrentou, pessoas a quem confiou, a humilhação... eles foderam seu psicológico de vez, assim sendo um constante lembrete do mesmo no dia a dia, sempre que o Min não conseguia realizar algo por simplesmente ser um inútil.
Sempre fora bonzinho demais: desde que se entendia por gente, deixava todos os seus "amigos" pisarem em si, simplesmente porque eram os únicos que ele conseguia fazer. Tendo sua autoestima destruída desde cedo, não foi difícil para si cair numa depressão logo após ser abandonado por seu antigo melhor amigo. Passava dias sozinho, apenas ele e seu caderno de desenhos, expressando seus sentimentos nos traços negros e poemas mal feitos nos cantos das folhas. Porém, um vestígio de esperança surgiu, quando um outro amigo o ofereceu apoio. Mal sabia ele que o suposto "apoio" era o que arruinaria sua mente de vez.
O problema não era seu amigo em si, e sim os amigos dele. Eram desesperados por status e atenção, rebaixando-o em qualquer oportunidade que surgia simplesmente porque podiam. Sua autoestima foi piorando cada vez mais, sua personalidade verdadeira estava cada vez mais escondida sob camadas de indiferença, e os vestígios daquele garotinho sonhador e alegre foram rapidamente apagados. Quando tentava desabafar ao menos um pouco, era rebaixado novamente, e seus sentimentos, menosprezados. Passava-se como se estivesse fazendo drama, buscando atenção, sendo ridículo. Até mesmo seu amigo contribuía com a humilhação, menosprezando seus sentimentos e traindo sua confiança.
Não era mais Min Yoongi.
Min Yoongi estava morto.
Ele o matara.
Quando enfim percebeu que não podia mais aguentar aquele ambiente tóxico, resolveu mudar-se de escola. Saiu dali, deixou aquelas pessoas para trás e tentou a sorte em um ambiente desconhecido. Levou um tempo, mas enfim conseguiu fazer novos amigos. Estes eram compreensivos e mostraram-se dignos de sua confiança, mesmo que apenas parte dela. Cristo, ele até mesmo conseguira se assumir bissexual sem medo do preconceito em sua escola nova! Sua vida estava, definitivamente, melhorando, principalmente após começar um tratamento psicológico.
Mas ainda estava afetado. As palavras daquelas pessoas ainda estavam ali, sua autoestima ainda estava no chão e era extremamente paranoico. Embora seus novos amigos não mostrassem indícios de que não apreciassem sua companhia (bem, talvez alguns, mas poderiam ser apenas dias ruins - ou ele poderia estar se iludindo, em busca do conforto que nunca teria), ele, por vezes, se afastava deles subitamente, sua mente sussurrando que eles o odiavam por ser um inútil fracassado e uma decepção para todos. Queria explicar sua atitude estranha, queria falar que não havia nada de errado com eles, ele era o único culpado ali por ser um completo desperdício de tempo e oxigênio. Era sua culpa, por ser um imbecil paranoico e ridículo com tantos problemas de confiança. Então, lá vinha ela, a vontade de bater a cabeça com força contra algum objeto pontiagudo novamente. Queria matar sua mente por mantê-lo impossibilitado de fazer qualquer coisa.
Não podia ficar em um ambiente com muitas pessoas, não podia socializar direito sem ter um ataque de pânico, não conseguia trocar de roupa sem sentir desgosto por seu corpo, não podia manter nem uma mísera amizade direito, não conseguia passar um dia sequer sem ter vontade de cortar seus pulsos inteiros.
Merda, por que ele era tão patético?Não podia nem expressar seus sentimentos como uma pessoa normal, o twitter sendo incapaz de ajudar com aquele problema, pela primeira vez. Não podia desabafar com outras pessoas também: era muito difícil e ele não queria atrapalhá-las de jeito nenhum.
Então apenas continuava assim, escrevendo, lutando contra a vontade de utilizar as lâminas, lutando para sobreviver por mais um dia e chorando todas as noites antes de dormir.
Estava sufocando.
E ninguém poderia salvá-lo.
"I am not as fine as I seem, pardon
Me for yelling
I'm telling you, green gardens
Are not what's growing in my psyche
It's a different me
A difficult to be"
Migraine, Twenty One Pilotseai gente
então
esse daqui é um desabafo, como vocês já devem ter percebido
sei lá minha vida é uma bosta
não quero prolongar isso aqui, então vamos às musiquinhas que eu me inspirei para escrever isso:
migraine - twenty one pilots
car radio - twenty one pilota
island of the misfit boy - front porch step
migraine na mídia pq sim
então é isso
vlw flw e até logo
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inútil
Non-Fictioninútil adjetivo de dois gêneros 1. que não tem utilidade, serventia, préstimo. 2. que não vale a pena, que é baldado; infrutífero, vão. 3. que ou aquele que não serve para nada; que ou quem se revela imprestável, incapaz para realizar qualquer coi...