Promisse.

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O teclado e o monitor à minha frente pareciam meus maiores inimigos naquele momento. Tudo que sempre me fez mais feliz agora parecia tão distante e desconfortável.

A voz suave da música que tocava ao fundo me fazia lembrar dos dias em que horas passavam em um piscar de olhos se eu escrevia, cada palavra como se dependesse daquilo pra viver e depois de um tempo, um capítulo, dois, dez, uma história inteira estava ali pra mim; cada personagem com sua individualidade, como se eu tivesse entrado na minha própria imaginação e conversado com todos, criando a história ideal com tudo em seu devido lugar, como tinha que ser.

Mas na verdade isso realmente tinha ficado no passado.

Um passado que infelizmente não era tão distante, pelo contrário, de uma noite pra outra, de uma decepção pra outra minha vontade de fazer qualquer coisa simplesmente sumiu. Sumiu e, cada vez que eu penso nisso, a vontade de chorar é inevitável; as lágrimas não saem, mas a vontade persiste e essa dor é realmente difícil de lidar.

Tantos problemas e tantas vontades que não posso resolver, nem as palavras podem me fazer companhia.

Eu perdi tudo.

Tudo que eu amava agora pesa sobre mim, viraram obrigações que não tenho mais capacidade de realizar, desafios que não sou capaz de vencer.

Pedir desculpa diariamente a si mesmo não é fácil, mas quando eu acordo faço isso: peço desculpas a mim mesmo, não queria ter acordado, meu corpo devia ter me respeitado e aceito isso, desistido durante meu sono, minha alma já não suporta, meu coração também não, mas meu cérebro insiste que nem tudo se perdeu.

Por que? Não posso afirmar com certeza, nada faz sentido.

Era noite quando finalmente resolvi desligar o computador e deixar de tentar insistir em escrever uma frase que fosse. Estava sem fome, mas as ligações insistentes de Ten perguntando se eu já tinha comido, ou ao menos saído de casa durante a última semana que passara insistiam em acontecer. Eu sempre respondia que sim mesmo que não fosse verdade, ele sempre fingia que acreditava.

Eu não tinha mais esperança em mim mesmo. Por que comer e nutrir meu corpo se ao menos o queria com vida? Era inevitável mentir e dizer que estava tudo bem apenas para evitar preocupações - desnecessárias - sobre o que eu fazia ou deixava de fazer. Ten sabia muito bem que eu pensava daquela forma e ainda insistia em tentar me fazer sorrir à todo custo.

Impulsionei meu corpo para trás, afastando a cadeira de rodinhas da mesa e me levantando, indo direto até o banheiro em seguida. Apoiei meu corpo no mármore da pia e encarei meu reflexo no espelho por alguns segundos. Era uma tentativa diária para tentar entender o que Ten via em mim que ainda o fazia ter esperança em me fazer parecer melhor ou mais feliz. O que ele via em mim ao todo. Meus olhos cansados e olheiras denunciavam as dezenas de noites que perdi por culpa da insônia, meus lábios secos denunciavam a falta de cuidados que tinha comigo mesmo. Meu cabelo estava despenteado, com a raiz já escura e meu corpo estava magro, minhas bochechas também pareciam nem existir mais.

Deplorável. Assim que eu estava.

Escutei a campainha da minha casa tocar e suspirei, sem a mínima vontade de atender e fazer sala. Mesmo que provavelmente minha “visita” fosse o garoto tailandês de sorriso constante que nunca me largava, eu queria um tempo sozinho - nem que fosse apenas para me lamentar ou tentar dormir.

Saí do banheiro e atravessei o corredor, sem nem me dar ao trabalho de ver quem poderia ser na porta, até porque se não fosse meu amigo, e sim um assaltante ou assassino, eu iria o agradecer por ter chegado em boa hora. Ao abri-la, a primeira coisa que passou por minha cabeça foi raiva do sorriso enorme nos lábios de Ten, a segunda foi desapontamento por não ter sido nada de real perigo e por fim um pouco de alívio. Antes que eu pudesse ter qualquer reação que fosse, o menor me envolveu em um abraço apertado e afundou o rosto no meu pescoço, me causando um arrepio esquisito. Fazia muito tempo que não tinha contato com ninguém a não ser ele e mesmo assim, mal apertávamos as mãos algumas vezes. Mordi meu lábio inferior, retribuindo seu abraço e fechando os olhos. Por alguns segundos aquele me deixou sinceramente feliz e me puxou à uma parte menos escura em que eu estava, não queria o soltar, mas acabei o fazendo depois de longos segundos.

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⏰ Última atualização: Oct 14, 2017 ⏰

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