Capítulo Único.

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Já era tarde da noite, as ruas estavam desertas e a caligem densa diminuía ainda mais a iluminação das fracas lâmpadas. Dificultaria a visão de qualquer mundano que tentasse passar por ali, seria o mesmo que caminhar de olhos fechados para a morte.

Forcei meus olhos para enxergar através da nevoa e meu olhar parou em uma silhueta fina e bela passando por um dos baixos postes acoplados no muro de uma residência, seus fios escuros e curtos refletiam levemente a luz e pude ver um sorriso perverso em seus lábios. Por longos segundos meu corpo ficou estático e meu rosto carregava uma expressão perplexa, lá estava ela novamente com outra vitima sendo arrastada pelo chão de pedras portuguesas sem deixar rastro algum. Ela carregava uma pessoa viva. Minhas mãos apertaram a superfície fria do parapeito que me apoiava, a curiosidade e a vontade de fazer algo a respeito me consumiam. A pessoa ainda estava viva e não gritava por socorro, não conseguia entender o motivo. Poderia ser um bêbado? Não. Eu teria sentido o cheiro do álcool a metros daqui. Ela poderia estar inconsciente? Sim, é o mais cabível.

Ela sempre achou graça em ver a vitima sofrer. Ou pelo menos acho, nunca tive contato com ela, só ficava observando sorrateiramente seus atos. Deixar pessoas inocentes morrerem enquanto apenas observo não chega nem perto de ser algo agradável mas era preciso. Desse modo acabei descobrindo algumas coisas que poderiam ser usadas contra ela, como por exemplo ela não conseguir olhar para a luz forte e perder sua força se seus braços são imobilizados. Observei todas todos os detalhes por brigas com vitimas acordadas e ela se divertia com tudo, ela deixava que a pessoa partisse para cima em defesa para acabar com ela de um jeito mais nobre do que apenas atacar um indefeso. Sujo. Ela é um ser sujo. Adora um showzinho de força para elevar seu próprio ego. Por esse motivo não devo confiar nas coisas que aprendi, pode ser apenas algo fingido.

Para observar mais de perto a cena, subo no parapeito do terraço, flexiono meus joelhos e dou impulso para cima saltando com facilidade para o prédio a frente. Entre os dois prédios vizinhos havia um beco no qual a mulher havia entrado, não havia iluminação, era uma entrada escura que parecia não ter fim. Beirando a loucura e sem enxergar o chão, pulo de uma altura de 12 metros e pouso em uma montanha de sacos de lixo, a decisão aconteceu de repente, a adrenalina percorreu todo meu corpo, meu medo e hesitação foram embora e seus lugares foram tomados por uma completa coragem. Hoje é o dia em que ela será parada. Fico em meus pés e forço meus olhos para enxergar. Ela está lá, sentada em uma caçamba me observando com aquela sorriso em seus lábios.

– O que você fez com ela? – Pergunto com minha voz firme.

– Pensei que nunca viria. – Ela descruza suas pernas e se põe de pé, sua voz era suave e familiar.

– O que você fez com ela? – Repito minha pergunta, dessa vez minha voz vacilava entre o tom firme e um agudo baixo, tentava ignorar sua leve risada que desestruturou parte de minha coragem.

– Veio me ajudar docinho? – Em uma fração de segundos ela estava ao meu lado, sussurrando em meu ouvido com sua voz derretendo quaisquer resquícios de coragem já existentes dentro de mim. – Posso te ensinar como fazer.

– Como? – A vejo assentir em resposta.

– Você tem me observado por bastante tempo meu amor, eu pude sentir sua presença e seu cheiro doce a denuncia completamente. – Seus dedos percorrem um caminho de meu pescoço até meus fios longos, deixa um beijo estalado em meu pescoço provocando arrepios por meu corpo. – Imaginei que fosse uma novata que precisasse de ajuda. Estou aqui para te dizer tudo o que quiser saber.

– Esperei tanto que esse momento chegasse. – Falo com certo entusiasmo, consiguindo ver seu sorriso que brilhava, mais do que qualquer estrela naquela céu.

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⏰ Última atualização: Oct 15, 2017 ⏰

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