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Para existir a morte precisa existir a vida, e em algumas religiões acredita-se que existe um ser sobrenatural, que vaga pela terra sem ser visto, que anda pelo mundo das sombras. Alguns chamam de A morte, recolhedor de almas,anjo negro ou anjo das trevas, chame como quiser, entretanto, nessa história chamaremos esses seres de Ceifeiros.


Estava de noite, era frio, uma menina usando uma camisola branca, correndo no relento possui uma expressão assustada , ela corre de algo, não, ela corre de alguém, os pés descalços estão machucados e com cortes por causa dos cacos da janela de vidro da casa. A menina não aguenta mais correr, seus pulmões estão se comprimindo por causa do ar frio, a angústia apenas aumenta, ela cai, machuca a perna, que inevitavelmente começa a sangrar. Ela está apavorada e as lágrimas quentes automaticamente se tornam frias, ela não sente mais os dedos pois estão praticamente congelados a sensação é terrível e sufocante. E o mais temível aconteceu, aquela sombra negra saindo de trás das árvores. Não era possível ver o rosto, o medo consumia o controle do corpo dela impedindo-a de gritar. Ela sabia o que iria acontecer, a sombra levantou a mão, e lá estava um objeto, era brilhante, uma beleza assustadora, era uma lâmina muito mais do que bem afiada. Havia um cabo, era cheio de marcas, símbolos estranhos, aqueles que vemos em filmes ou em séries de bruxarias.
  Não havia saída, estava óbvio o que aconteceria ali, a morte era eminente, a mão que possuía a lâmina, sem piedade foi em direção a menina e...

– AAAAAAAAHHHHHH!!!!!!!

   O relógio em cima do criado mudo marcava 05:39 da manhã. A porta é aberta, um homem de cabelos grisalhos, olhos azuis e rosto marcado, estava paralisado olhando para a menina suada e assustada em cima da cama.
  -Filha... O que aconteceu?... Está tudo bem com você?
  Com os olhos arregalados a menina apenas concorda com a cabeça de que está tudo bem.
   -Você quer faltar a aula hoje minha filha?...
   Mais uma vez ela apenas correspondeu com a cabeça em sinal de negação.
   - Está certa disso?..
   - Sim...
    - Quer café?... Ou suco? Alguma coisa?...
    Mais uma vez, evitando falar ela apenas assentiu com a cabeça negando a gentileza do pai.
   
        A sensação da água quente confortava a pele arrepiada de Malissa, que praticamente não se aguentava em pé. Os por quês não paravam de rodar na cabeça dela, "por que eu sonhei com uma garota da minha escola?", " por que  eu sonhei com isso?". Muitas perguntas rodavam a cabeça, mas o pior de tudo, era que ela sabia que esse tipo de sonho não era algo tão novo assim, muitas vezes ela sonhou com mortes terríveis. Mas para uma menina como ela, que perdeu a mãe muito nova, aparentava ser normal. Porém com o tempo,acordar ouvindo seus próprios gritos de horror não parecia nada normal.

Ao descer as escadas, reparava que suas pernas estavam bambas e não queriam respeita-la. Ela já estava perdida em devaneios terríveis que afogavam ela em pensamentos profundos, tão profundos que quando se deu conta estava parada em frente à porta de casa. Sem se preocupar em se despedir do pai, seguiu caminho para o colégio.
A fumaça de combustível que saía do ônibus cobriu-a quase que por inteiro. Ao subir no ônibus, o que ela menos esperava encontrar estava lá, a menina de seu sonho sombrio, a menina que era perseguida.
  - Oh garota, você vai passar ou não? -disse um estudante.
  - Óh... Sinto muit....
  - Vamos logo com isso, não me faça perder meu tempo garota!!!- disse o motorista gordo, barbudo e desprezível a vista de qualquer um.
   - Perdão...
   - Vamos, vamos!!!
   Assustada com a reação do motorista, sentou-se e preferiu seguir calada. A menina dos sonhos parecia normal, sua expressão era fria, serena, nada muito significante. Ela estava sentada na poltrona que ficava ao lado da janela, distraída com seus fones de ouvido, não notava que Malissa apenas a observava.
   -Se continuar assim, vão achar que você é lésbica...- disse uma menina de cabelos platinados, rosto fino e uma boca marcada com um batom vermelho cereja.
Aquela era Alexia, a única pessoa com quem Malissa falava na escola.
  Com um fio de voz, Malissa esboça um bom dia sem emoção alguma.
   - Bom dia... Alex..
   - De novo Malissa?...
   Assim como fez com seu pai, evitou falar e apenas assentiu com a cabeça.
  Além dela mesma a única pessoa que sabia dos recorrentes sonhos era Alexia, que por motivos óbvios passou a ficar preocupada com a frequência deles.
   - Se você não resolver isso, resolvo eu mesma! Você tem que falar com seu pai!! Dessa vez foi com ela?...- disse Alexia se referindo a menina da janela.
   - Sim... Alex, pode falar mais baixo?...
    - Ahr... Claro, foi mal...
  
  E assim  a viajem seguiu, as duas não eram de tagarelar muito, bom, Malissa não, já Alex sim. Bem diferente de Malissa, Alexia era muito conhecida, popular, todos queriam falar com ela. Se alguém conversasse com ela, era motivo de orgulho. Entretanto ela mesmo não se achava tudo isso. Mas o que a maioria pensava era lei naquela escola.
  Chegando na sala da Srta.Cromwel, professora de física. Malissa ainda estava perdida em milhares de pensamentos, comparando os sonhos, e anotando os símbolos que ela viu na faca do seu sonho.

  -Srta. Blank?...- chamou a professora.
   - Hm...?- Malissa esboçou um som quase inaudível.
     - Poderia me responder qual seria a solução?- perguntou a mulher que aparentava uns 36 anos com suas sobrancelhas arqueadas.
        - Que solução?...- perguntou Malissa de forma espantada e confusa.
         "Minha Nossa... Estou totalmente perdida..."
       -A resposta é 2km/h.- respondeu um menino que acabara de entrar na sala.
       - Você é o...
       -Gabe? Sim, sou eu...- respondeu o garoto cortando a professora. O garoto possuía feições admiráveis, olhos negros e profundos, pele branca, cabelos azuis acinzentados,rosto marcado mas suave e sombrio. Realmente bonito, bonito a ponto de tirar cochicho das adolescentes do interior da sala.
        A ponto de ruborizar digamos que 95% do rosto de Malissa. Algo que nunca havia acontecido antes.
         - Melhor esconder o rosto tomatinho...- disse Alexia com um sorriso sapeca para a amiga.
         - To..tomatinho?.... - Malissa nem fazia ideia do que Alex falava, mas sabia que o rosto dela estava pegando fogo!!!
     A amiga com preguiça de explicar pôs um pequeno espelho na frente do rosto de Malissa, queles espelhos que não faltam na bolsa de uma adolescente .
       - Meu Deus... Será que é uma reação alérgica?.... - perguntou Malissa confusa e assustada.
       - Meu Deus... Coitada de tu... Hahaha, você está corada Malissa, talvez seja por causa do menino novo.- respondeu ela com um sorriso muito mais sapeca.
        -Como assim...? O que ele tem  a ver com minha alergia?...
      - Aff...  Sério? Vou mesmo ter que te explicar isso?...
      O sinal toca fazendo as duas saírem do assunto cômico e levando seus olhares para o menino novo.
     Ele era bonito,entretanto muito estranho, sombrio e calado. Não seria o tipo de pessoa considerada acessível para os demais. Nem o tipo de pessoa que Malissa teria coragem de pronunciar a palavra.

      Na aula de literatura Sr. Shepard estava recitando poemas românticos, clássicos favoritos por todos aqueles que se recusavam a aceitar asneiras populares.
    Malissa já estava farta e esgotada de ouvir palavras lindas, bonitas e emocionantes que jamais fariam parte da sua vida. Saber que palavras tão lindas e envolventes são apenas palavras, que em sua concepção jamais teriam a emoção que tem o objetivo de passar.
    -Isso é um saco... Ficar ouvindo essas palavras sem sentido nenhum, palhaçada... -cochichou Malissa.
    -Bem que eu não queria, mas tenho que concordar com você.
   O coração de Malissa bateu mais rápido, sua pele se arrepiou e o estômago embrulhou. Ela reconheceu o tom da voz, aquele timbre mais seco e sedutor, aquela voz suave e calma, entretanto assustadoramente sombria. Era ele o garoto novo, que a fitava com desinteresse.
      -U...uhum.
  Nervosa, "uhum" foi a única coisa que ela soube pronunciar.
Ela é cortada de seu contato visual com o novato quando ouve alguém fungar ao seu lado, quando ela se dá conta cerca de 92% da sala estava chorando.
    - Aimeodeusu... O que eu perdi?
      Ei, Alexia... O que aconteceu?  Por que todos estão chorando!?-Malissa realmente estava indignada.
     - São os poemas,princesa. Eles mexem com a gente sabe?... Emocionam...- Alexia dizia com seus olhos marejados e o nariz vermelho como o de um palhaço.
    - Isso é sério Alex!?... Chorar por isso não é exagero não?
     -Aff Malissa!! Por que sempre tão insensível com coisas tão boas?- perguntou Alexia indignada com o descaso da amiga.
    - Mas Alex, qual o motivo do chororo? São só palavras, palavras que não possuem significado nenhum pra mim!! São fúteis e fazem as pessoas sonharem com situações pouco possíveis- Malissa realmente falava tudo aquilo com a mais pura frieza e firmeza do mundo.
      - Ah Malissa, não vou perder tempo explicando isso outra vez!! Você sempre fala que não sente nada! Isso pra mim é besteira, você só não admite o que sente! Não é possível que você aos 16 anos não se apaixonou por ninguém até hoje!!!-Alexia dizia perplexa.
     No meio do pequeno debate deu para ouvir uma risada sombria, sem tom de felicidade e sim de conquista.
   - Hm?...
   -Hm?...
    Alex e Malissa se viraram para a direção do som. Com uma cara de interrogação cômica.
        -Bom.. Gostaria de rir também, o que foi engraçado?- perguntou Alex em tom de ironia.
         -Quer mesmo saber? - perguntou Gabe.
          -Sim, por que? Não pode dizer?- disse ela direcionando o olhar para ele fixamente.
          - Posso, posso sim! Sendo sincero, eu ri dela. - disse ele acenando com o rosto para Malissa.
           -Ela?
           -Eu?
    As duas perguntaram incrédulas.
           - Ué, sim.- e mais uma vez respondeu de forma rápida e objetiva.
           - E o que haveria de tão engraçado no que eu disse ?
             -Por que eu deveria contar o que eu acho ou não engraçado para você?- Perguntou Gabe de forma desafiadora para sua nova colega de classe.

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⏰ Last updated: Oct 15, 2017 ⏰

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